Epílogo

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+ Maria +

Já se passaram uma semana desde que eu me dei alta do hospital, agora estou pegando vôo de volta para o Brasil. Ainda não consegui me acostumar com aviões, então mesmo admirando a paisagem pela janela, continuo preocupada de o avião cair.

Que meses tensos foram esses... No final eu nem acabei estudando. Conheci Giovanna Martinelli, a garota que bagunçou o que era para ser o meu quarto de rosa, e que agora é uma boa amiga.

Essas últimas semanas foram horríveis para ela. Eu fiquei uma semana em coma e eu não quero nem imaginar o que seria dela sem o russo. Ela viu o próprio pai morrer e não pôde fazer nada, infelizmente eu sei exatamente pelo que ela está passando, eu já passei por isso.

Nessa última semana, eu fui junto com ela ao necrotério para identificar o corpo. Foi terrível para ela encarar os restos mortais do pai que foi queimado vivo e teve todos os ossos da região torácica estraçalhados. E o irmão dela... sem comentários, só sei que o cara é esquisito.

Lucca Jones está sentado ao meu lado. É engraçada a nossa relação, ele era como um irmão para mim quando criança mas só bastou aparecer sete anos mais velho, com um abdômen definido e sorriso sarcástico para eu mudar de ideia. Nós já nos declaramos um para o outro mas isso não mudou muita coisa, só fez a relação ficar um pouco mais... quente.

Nunca imaginei que eu sentiria por alguém o que eu sinto por ele, e como dizem em todo final de livro clichê: se à alguns meses atrás alguém me dissesse que o meu melhor amigo de infância está vivo e que quando eu o visse eu iria me apaixonar por ele, eu provavelmente atiraria nessa pessoa para ela deixar de ser louca. Tudo bem que não é exatamente isso que as mocinhas dos clichês dizem mas essa é a minha versão, afinal, esse é uma história clichê. Vamos lá, tem máfia, tráfico, intercâmbio, uma garota que ama rosa e uma que ama preto, tem a mocinha louca que se apaixona por um assassino e uma outra que se apaixona pelo melhor amigo, tem até uma banheira de hidromassagem. A única coisa que faltou foi um CEO arrogante e uma secretária.

É aí que eu vejo o que minha vida se tornou já que eu estou a descrevendo em terceira pessoa.

Ainda no aeroporto da Itália eu recebi uma ligação do meu pai. Ele disse que está bem e todo aquele sermão de pai de que eu devo me cuidar pois se eu for para o mesmo lugar que ele, não terá ninguém para me tirar de lá. Ele me disse que não é muito seguro conversar pelo celular, principalmente porque ele está em uma prisão e logicamente ele estaria ferrado se o pegasse com um celular, mas que quando eu chegasse no Brasil que era para eu ir visitá-lo. Tamanho foi meu alívio ao saber que ele está bem, por mais que ele pode muito bem estar mentindo mas só pelo fato dele estar conseguindo falar já é bom.

Outro fato interessante dessa semana foi que eu e Giovanna fomos fazer uma visitinha para o Stepanov. Posso garantir que ele morreu lentamente e com muita dor, queria que a gazela, vulgo Graziella, tivesse morrido da mesma forma.

O avião aterrissa em solo brasileiro. As vezes eu me pergunto se eu devia mesmo ter saído daqui, mas posso afirmar veementemente que sim. Se eu não tivesse saído da minha zona que conforto eu teria continuado aquela menina fraca e inexperiente que carregava consigo a tristeza e sofrimento pela morte da mãe. Ainda sinto falta dela, e como sinto, mas agora vejo que devo aproveitar mais o meu tempo com as pessoas ao meu redor. E falando nisso, percebo que Lucca está carregando nossas poucas malas sozinho, resolvo ajudá-lo.

— Eu levo as malas, Maria, estão leves. — ele diz mas não ligo.

— Foda-se, vou levar ao menos a minha. — tomo a mala de sua mão e ele abre um sorriso de canto.

— Eu adoro quando você assume essa pose de garota má. — ele me puxa pela cintura e me beija — Fico feliz por estarmos de volta.

— O Brasil que nos aguarde.

Pegamos um taxi e peço para que ele pare na penitenciária, eu preciso ver o meu pai.

Passo por toda a burocracia com minha identidade falsa. Chega a ser engraçado como a polícia é tola ao acreditar que meu nome é Beatriz Marquês e que eu tenho 23 anos, talvez eles nem acreditaram mas não há nada que o dinheiro não possa pagar. Lucca fica me esperando do lado de fora, não tem como duas pessoas entrarem de uma vez e isso levaria tempo.

Vou até a sala de visitas e vejo meu pai sentado na cadeira do outro lado de um vidro. Pego o telefone e ele faz o mesmo.

— É tão bom te ver.

Ele não pode entregar que eu sou filha dele, provavelmente estão ouvindo nossa conversa.

Meu pai não está nada mal, para falar a verdade ele está bem até demais.

— É bom te ver também. Fico feliz que você está sendo bem tratado.

— Claro que estou, muita gente aqui me deve até o que não tem. — ele ri e eu o acompanho.

— Eu vou te tirar daí.

Não sei como mas não vou permitir que ele fique preso por muito tempo.

— Não perca seu tempo, querida. Me tirar daqui pode não ser impossível mas é quase. Gaste seu tempo cuidando do que é nosso por direito.

Queria não ter entendido o que ele quis dizer.

— Eu não posso fazer isso.

Não posso comandar o crime no Brasil, principalmente agora que os negócios estão se expandindo internacionalmente e o meu pai está preso.

— Eu venho te treinando para isso à anos. Você só precisa ter um pouco mais de juízo e não agir por impulso, aliás, se eu descobrir qualquer cagada que você fizer, terá gente indo atrás de você.

— Mesmo preso você ainda me ameaça. Eu não vou fazer merda e se eu fizer, resolverei tudo. Você sabe o que eu sou capaz de fazer.

— E é exatamente disso que eu tenho medo. — reviro os olhos — Você é competente, só não dê nome ao nosso negócio de Máfia Brasileira. Sempre achei isso de máfia ridículo.

— Pode deixar, cuidarei bem da máfia. — essa é a vez do meu pai revirar os olhos — Só não vai se drogar aí dentro e nem fazer tatuagem de lágrima no canto do olho.

— Eu não uso drogas, eu vendo drogas. E você não acha que eu já tenho tatuagens demais?

Com certeza tem.

— Vou aproveitar que você está aí e vou fazer algumas tatuagens também. Acha que um palhaço no pescoço iria ficar bom?

Meu pai faz uma cara assustada e eu começo a rir. Posso até me tatuar um dia mas jamais será um palhaço e muito menos no pescoço, sei o que isso significa e não quero ser morta por policiais.

— Você está ficando louca? Se eu descobrir que você se tatuou sem a minha permissão ou que você consumiu ao menos um grama de qualquer droga, eu te corto na porrada. E eu realmente espero que você não queira tatuar um palhaço.

Continuo rindo mesmo sabendo que é verdade.

— Como você mesmo disse, eu não uso drogas, eu vendo drogas. Não se preocupe, não sou doida a esse ponto.

— Um minuto. — um homem diz ríspido do lado do meu pai.

— Se cuide, querida. Saiba que qualquer coisa eu estarei aqui. — ele se levanta.

— Pode deixar. Se cuida.

Coloco o telefone de volta ao gancho e me viro para ir embora. Agora é só eu por mim mesma e seja o que Deus quiser.

Eu vou colocar ordem nessa porra toda ou eu não me chamo Maria Monteiro, e esse, nem de longe será o fim. É apenas o princípio.


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Alopradas [Reescrevendo]Onde histórias criam vida. Descubra agora