Capítulo 30

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+ Maria +

Eu não deveria me sentir tão culpada. Não queria atirar na Giovanna, é uma pena ela ser tão burra e pular na frente da arma.

Não me restam dúvidas de que ela gosta dele, ou é isso ou tem sérios problemas mentais para não saber o que uma arma pode fazer. Mas o que mais me impressionou foi o o fato de o Mikhail ter se preocupado com ela. Vi claramente o medo em seus olhos, não por ele, mas sim por ela. Um assassino com medo de sua própria vítima morrer.

Ao ver minha amiga caída no chão, sangrando feito um porco, entrei em desespero. Criei afeto por ela. Não queria perder mais alguém com que eu me importo, principalmente na minha frente, e por minha culpa.

Tive que fazer os primeiros socorros para não perde-la. Ela estava perdendo muito sangue e senti uma pontada no peito ao ouvi-la gritar de dor.

Felizmente tudo acabou bem. Ela se sentiu culpada e isso me deu raiva pois ela não tem culpa alguma, ou talvez tenha mas que se foda, ainda assim me culpo. Agora ela está dormindo no sofá e eu não consigo parar de me lembrar que quase a matei. Vou até a cozinha tomar um copo de água para tentar me acalmar.

Merda, por que eu não faço nada que presta? Por que todos que estão ao meu lado sempre têm um final trágico?

Lembro-me do russo me chamando de Falcão. Esse apelido tem um imenso significado no submundo brasileiro. Quem carrega esse nome, carrega consigo o mal, leva o mal até as pessoas e como um falcão, vê tudo, comanda tudo. Mas mesmo assim, um falcão cuida dos seus e se vinga de quem machucar um deles. Meu pai não gostava muito desse nome à princípio, porém resolveu não levar tudo muito ao pé da letra, ele não tinha outra opção a não ser carregar o nome que um dia pertencera ao seu pai. Todos o chamam de Falcão e poucos sabem seu verdadeiro nome. Jozé Monteiro, ele xinga sua mãe, minha falecida avó por ter lhe dado esse nome.

O fato de o Mikhail ter me chamado de Falcão não foi pelo meu pai, ele não estava me igualando a ele mas sim, me chamando do verdadeiro significado do pseudônimo. Isso fez meu sangue ferver e a única coisa que eu quis naquele momento foi terminar meu trabalho e matá-lo.

— Maria? — escuto uma voz familiar me chamando e quando me viro vejo ser o Lucca.

Que merda ele está fazendo aqui?

— Por favor Lucca, já estou com problemas de mais.

— Você não vai se livrar de mim assim tão fácil. — ele se senta no banco da mesa da cozinha.

— Por que você insiste em ficar por perto? — eu realmente não o entendo, geralmente as pessoas fogem de mim.

— Pra falar a verdade, eu não sei. Só não consigo ficar longe de você, então vim aqui tentar entender o motivo.

No fundo estou feliz por ele estar aqui, sua presença me faz sentir-me bem. Vou até o banco e me sento ao seu lado. Deito minha cabeça na mesa e respiro fundo. Meu pior inimigo é o meu próprio cérebro que nunca me trás memórias boas nas horas de desespero.

— O que aconteceu com você? — sinto o Lucca colocar sua mão em minha costa e o encaro.

— Você já teve a impressão de que o mundo conspira contra você?

— Constantemente. Por que?

— Tudo dá errado Lucca, e eu não aguento mais isso. — ele me olha sem entender então resolvo explicar a situação — Eu atirei na Giovanna.

— Wow! — ele arregala os olhos — Por essa eu não esperava, mesmo ela sendo irritante.

— Eu não fiz isso por querer, porra. Ia atirar no russo mas ela pulou na frente.

— Ela está bem?

— Sim, está. A bala acertou seu ombro e consegui estancar o sangramento aqui mesmo, porém por pouco eu a matava. Jamais me perdoaria se eu matasse outra pessoa que eu gosto. — lágrimas lutam para cair dos meus olhos porém não as deixo escapar.

— Você não tem culpa pela morte da sua mãe, Maria. — seu tom de voz é calmo e consolador.

Como ele sabe da morte de minha mãe?

— Como você sabe sobre ela?

— Não é difícil saber. Porém não entendo por quê você se culpa.

— Era para eu ter morrido no lugar dela. Eu tinha 10 anos Lucca, podia ter impedido.

— Não, você não podia ter feito nada. Você era só uma criança sem preparo algum. O que você queria? Morder o calcanhar do assassino e acabar morrendo junto?

Acabo rindo de sua fala. Nesse caso ele tem razão.

— Eu não consigo me lembrar da minha mãe sem me sentir culpada. Mesmo sabendo que eu não podia ter feito nada. Você tem noção de quantos pesadelos eu ainda tenho de sua voz me chamando em seu último suspiro? Como se aquilo fadasse meu destino em uma bolha de desgraças. Minha vida acabou a partir dali.

Ele me puxa para um abraço apertado. Fico sem saber o que fazer mas depois retribuo. Merda, já estou chorando. Eu não sou de pedra, mesmo cometendo atos terríveis as vezes.

— Olha, Maria, a vida é injusta com todos, porém ela pega mais no pé de alguns. Mas não vai ser por isso que você vai cair. — ele me encara — Você é a mulher mais forte que eu conheço por ter passado por isso tudo e ainda estar de pé. Tenho certeza que você vai conseguir sair dessa e mesmo se não conseguir, você pelo menos tentou, e vai tornar a vida desses filhos da puta um inferno. Você é uma Monteiro afinal, e não vai deixar nada disso barato.

Seco minhas lágrimas e abro um sorriso. Ele tem razão. Eu vou me vingar e irei mostrar para esses russos que ninguém mexe com uma Monteiro e sai ileso.

— Você sabe muito bem como me animar.

— Claro que sei. — seu sorriso é sincero. Merda eu odeio o quanto ele me é familiar e eu não consigo me lembrar quem ele é.

— Eu tenho certeza que eu te conheço, Lucca. Me diga, quem é você.

Seu semblante é triste e um pouco decepcionado.

— Você vai descobrir. — ele se levanta e sai. Tão de repente como chegou.

Droga. Eu não sei como mas ele mexe comigo de uma forma inexplicável. Não quero ele longe, quero ele o mais perto possível de mim. Ele me trás uma sensação de lar, me sinto segura perto dele. Caralho, o que aconteceu comigo para eu estar pensando assim? Acho que o drama da Giovanna me  contagiou.

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Alopradas [Reescrevendo]Onde histórias criam vida. Descubra agora