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Era um dia comum em Nova York. O tempo nublado, gélido, denunciando o início do outono. Anahí chegara ao hospital cedo, seria dia de cirurgia. Logo pegou seus prontuários na recepção e seguiu até sua sala. Christian, seu amigo e traumatologista, ria de alguma piada com uma mulher morena até então desconhecida por ela. Apanhou um copo de café expresso, com os prontuários embaixo do braço. Christian notou sua presença, a chamando pra conversa.

Anahí se juntou a eles, sorrindo gentilmente.

- Olá! - disse educada.

- Annie - Christian levantou a abraçando de lado - Essa é a Maite, ela é a nossa nova chefe de obstetrícia. Mai, essa é a Anahí, nossa chefe da Pediatria.

- Olá - a morena sorriu abertamente - Acho que vamos trabalhar juntas, a partir de agora - estendeu a mão, que prontamente foi recebida por Anahí.

- Muito prazer Maite - lhe sorriu - Espero que façamos um excelente trabalho juntas.

- Sem duvidas farão - Christian as envolveu em um abraço - Agora eu vou, acabei de receber um chamado no bip.

- Quer me acompanhar até a galeria? Posso te mostrar um pouco do hospital - sugeriu Anahí, e Maite concordou. Logo as duas saíram andando pelos corredores.

- Então Maite...

- Herrera - completou - Maite Herrera.

- Então Dra. Herrera, o que faz aqui por Nova York?

- Mudando de ares - disse baixo, mas não inaudível - Sou de Londres. Me formei na King's College tem cinco anos. Me divorciei a alguns meses e surgiu a proposta de trabalho aqui no hospital. E você? Faz tempo que está em Nova York?

- Oh sim - lhe sorriu - Me formei na NYU tem três anos, desde então me especializei em pediatria que sempre foi minha grande paixão - contou empolgada.

- Você é de?

- Jersey. Nova Jersey. Eu e minha irmã Candice nos mudamos pra cá para estudar, mas ela acabou desistindo da faculdade e abrindo uma confeitaria. Qualquer dia te convido pra tomarmos um café, lá tem rosquinhas e muffins maravilhosos - Maite sorriu, havia gostado muito de Anahí, e ela realmente precisava fazer novos amigos.

- Eu adoraria!

Anahí terminou o café, descartando o copo em uma lixeira que encontrou pelo caminho.

- Bom Maite, vou deixá-la, tenho uma cirurgia complicada que creio que me tomara boa parte da manhã - fitou o relógio - Aliás, estou mesmo atrasada - constatou.

- Tudo bem Annie - sorriu, concordando - Tenho mesmo que buscar meu irmão e minha sobrinha no aeroporto.

- Então nos vemos por aí - acenou, sumindo no corredor.

- Até mais!

Já em Nova Jersey as coisas estavam complicadas. Era a sétima semana sem pautas novas e Adella tinha quase certeza que Madson lhe chamando para uma reunião em sua sala significava o que ela mais temia: demissão.

- Sente-se senhorita Portilla.

Adella sentou na velha cadeira de mogno. Mal conseguia respirar tamanha era sua apreensão. Madson ajeitou os óculos no nariz, passando a mão pelo cabelo louro com a raiz escura já evidente. Ela cheirava a nicotina com café forte.

Adella a olhou, limpando a garganta.

- No que posso lhe ser útil?

- Daniel está doente, com febre e tudo indica que seja uma virose - deu de ombros, um tanto irritadiça - Portanto você vai o substituir nesse final de semana.

- E posso saber especificamente no que? - arqueou as sobrancelhas. Sem dúvidas ela tinha planos mais interessantes pra sexta, sábado e domingo.

- Vai acontecer um congresso de neurociência em Massachusetts, preciso que cubra o evento. Pode levar Belinda com você, pra fotografar se preferir - explicou - Preciso que se esforce e volte com uma boa pauta. Caso contrário vamos ter que rever sua permanência nessa empresa.

- Calma aí! Neurociência? Massachusetts? O que te faz pensar que eu seja a pessoa indicada pra isso? Mal sei o que é um cerebelo!

- Falta de opção meu bem - deu de ombros - Os demais estão todos ocupados, além disso sei que precisa desse emprego tanto que jamais recusaria uma ordem dessas - disse irônica - Portando passe no RH com Mandy, pegue suas credenciais, o cartão de crédito da revista e arrume as malas. Ah, quando sair feche a porta, por favor - ela virou de costas lendo uma folha que tinha em mãos.

Adella bufou. Aquilo era um verdadeiro abuso. Nem era a área de trabalho dela! Mas Madson estava certa. Ela precisava daquele emprego, e seu financiamento imobiliário não se pagaria sozinho.

Já era tarde quando foi pra casa. Se jogou sobre o sofá, completamente irritada. Apanhou uma mala pequena, jogou algumas peças de roupa. Mandy liberara quinhentos dólares pra cada uma no cartão da empresa, seria o suficiente pra pagar a gasolina, alimentação e um hotel meia boca. Decidiu não levar Belinda. Ela mesma faria as fotos e assim as duas rachavam ao meio o crédito dela. Já daria uma ida a manicure e um mês de academia ela deduziu.

Anahí saiu exausta da cirurgia. Retirou a máscara lavando o rosto, um tanto suado após cinco horas em pé. Precisava de um banho e um filé com fritas antes de começar o turno da tarde. Logo encontrou com Dulce para o almoço. Ela estava lendo na cantina, quando Anahí chegou.

- E aí, como foi? - Dulce pediu, fechando o livro a sua frente.

- Como sempre - suspirou, prendendo os cabelos em um rabo de cavalo - Cansativo.

- Bem espero que não seja tão cansativo ao ponto de poder ouvir uma novidade - disse empolgada, balançando a aliança na mão direita - Eu estou namorando.

Anahí sorriu, segurando sua mão maravilhada.

- É o bonitão do Mercy West?

- Ele chega amanhã de Seattle. Tem uma entrevista com o diretor pra vaga de Psiquiatra. Aí Annie - suspirou - Você vai adorar ele!

- E quando vou poder conhecê-lo - franziu o cenho.

- Acho que podemos marcar algo no sábado. Comida japonesa que tal? Pode chamar Tony!

Anahí negou com uma careta.

- Tony vai estar de plantão, e bem, não estou muito afim de vê-lo.

- O que foi que ele fez agora? - pediu a ruiva, intrigada.

- Isso não vem ao caso - Anahí tratou logo de mudar de assunto - Mas me conta, você está feliz?

- Muito Annie! Ele me faz sentir a mulher mais feliz do mundo. Ele é gentil, educado, atencioso. Christopher é um verdadeiro cavalheiro.

- Christopher? - pediu quase engasgando com o suco de laranja.

- É. Tem algum problema com você? - pediu, constatando a palidez da amiga.

- Nada é só que - negou - É coisa da minha cabeça. É que você sempre chamou ele de Chris, estranhei que o nome dele seja Christopher, é só isso.

- Bem, os amigos o chamam de Ucker, só eu o chamo de Chris. Ele diz que isso faz do apelido algo especial - suspirou apaixonada.

Isso não podia estar acontecendo. O Christopher de Dulce era o Ucker do colégio? Christopher Uckermann, seu namorado de adolescência que a traíra com a própria irmã gêmea. Que história era essa? Só podia ser uma piada de muito mal gosto.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora