Trigésimo

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A notícia da gravidez de Anahí voou por Nova York como uma folha seca caída chegando aos ouvidos de Adella que se surpreendeu, primeiro em saber que a irmã carregava gêmeos, segundo em saber que ela e Alfonso haviam voltado. Ela sabia muito bem onde ele morava, só não imaginava que a irmã já estivesse instalada lá. Desceu da moto de Jack, um moreno cheio de tatuagens com ar de roqueiro, seu novo ficante, entregando o capacete a ele.

- Quer que eu venha buscar você gata? - ele pediu selando os lábios com o dela. Adella negou.

- Eu vou demorar, depois vou de táxi. Nos vemos em casa? - sussurrou provocativa.

- Sem dúvidas princesa!

E arrancando com a moto dali, deixou Adella em frente à casa de Alfonso. Ela então caminhou pelo corredor do condomínio, ouvindo o salto da bota tilintar no chão. Se apresentou ao porteiro que interfonou para confirmar se podia liberar sua entrada.

- Dra Portilla - Maria a chamou, Anahí estava distraída com o tablet, tentando escolher qual tom gostaria para o seu vestido de noiva.

- Ja disse pra me chamar de Annie! - ralhou.

- Desculpa incomodar, mas o Sr Francisco disse que tem uma moça lá na recepção e que ela quer ver a senhora.

- Uma moça? - questionou de cenho franzido - Ela se identificou?

- Sr Francisco disse que é sua irmã.

- Ah sim - estranhou o fato de Candice não mencionar aquela visita repentina, mas permitiu a entrada - Deve ser Candice, pode deixá-la entrar - voltou a atenção para o que fazia antes.


Adella entrou confiante, o sorriso brincava nos lábios, realmente Anahí era uma tola, não conseguia imaginar como Alfonso pudera se apaixonar por ela. Maria logo abriu a porta para ela, mostrando-lhe o caminho da sala e foi até a cozinha deixando-as a sós. Era a hora perfeita para por seu plano em prática. Se mostraria arrependida, se vitimizaria e logo Anahí estaria comendo na palma de sua mão, então dentro de pouco tempo teria Alfonso para si.

- Senta - Anahí disse sem sequer prestar a atenção em quem era - Estou terminando de ver sobre o vestido e - ela a interrompeu.

- Eu prefiro ficar em pé.

Só então Anahí ergueu o olhar encontrando com o de Adella. Tragou a saliva de uma vez quase se afogando. Que diabos ela fazia ali?

- O que você está fazendo aqui? - pediu irritada, levantando do sofá.

Adella passou os olhos pelo corpo da irmã, lá estava a pequena mas já saliente barriga.

- Eu quero conversar com você - pediu.

- Nós não temos absolutamente nada para conversar, aliás, eu não quero sequer ter que olhar para você - Adella suspirou. Parece que as coisas seriam mais difíceis do que supunha.

- Eu quero me desculpar - se aproximou - Eu sei que fiz muito mal a você, quero que me perdoe, que aceite minhas desculpas - lamentou falsamente.

- Meio tarde para isso não? Você quase arruinou meu relacionamento em um momento em que eu estava completamente frágil, deprimida.

- Eu sinto muito por isso - suspirou, triste. Quem visse de fora poderia atuar em qualquer telenovela - Eu sei que tivemos nossas desavenças, mas eu nunca aceitei o fato de que você sempre foi melhor do que eu. Eu sentia inveja de você - Anahí a olhou surpresa - Eu sempre quis ser como você Annie. Essa inveja me cegou, me fez ter raiva, rancor. Não quero mais sentir isso, eu estou mudada e quero que possamos ter outra oportunidade. Quero ser digna da sua confiança, te mostrar que mudei, poder estar perto de você e dos meus sobrinhos - acariciou a barriga de Anahí sorrindo, as lágrimas rasando os olhos. Nem ela mesmo acreditava que estava conseguindo chorar.

- Eu - Anahí suspirou, também tinha os olhos mareados. Mesmo que a irmã a tivesse magoado várias e várias vezes ela ainda a amava- Eu não sei o que dizer.

- Só diga que me perdoa irmã - Adella levou uma mão até o rosto dela. Anahí a encarou profundamente, aqueles olhos tão azuis e idênticos aos seus. Não soube dizer, mas mesmo com todas aquelas palavras não conseguia enxergar verdade neles, no entanto Adella estava ali na sala de sua casa humilhando-se, ela não iria ser o monstro que tanto condenara na irmã.

- Adella, eu não sou ninguém para te perdoar. Você sabe de tudo o que fez - Anahí de desvinculou dela, virando-se de costas - Você sabe o mal que causou, sabe os sentimentos que plantou, por todas as pessoas que magoou. Eu te desculpo pelo que fez a mim, não guardo rancores nem tenho raiva de você - virou outra vez, a encarando - Eu não me sinto à vontade de ter você tão próxima ainda, foram anos de desavenças e rixas. Preciso de um tempo pra que possamos reconstruir nossa relação, preciso sentir que posso confiar em você outra vez, você entende não é?

Adella queria mandar Anahí para o inferno, mas não o faria. Sorriu falsamente, segurando as mãos da irmã entre as suas.

- É claro que eu entendo - acariciou as mãos de Anahí - E saiba que vou esperar o tempo que for necessário para que estejamos bem outra vez.

- Certo - Anahí recolheu as mãos, um tanto quanto incomodada.

- Você pode ter dúvidas do que me fez vir até aqui - continuou a falar - Mas eu decidi que precisava de terapia, precisava entender o que me fazia ser assim, o que não me deixava progredir - mentiu - E a terapia tem feito maravilhas Annie, pude me reencontrar, ver inúmeras coisas que não via, aceitar minhas limitações, enxergar minhas falhas, e desde então, decidi me desculpar com todos aos quais magoei. Quero reconstruir minha relação com você, papai, mamãe, Candice...

- Que bom Adella, esse é o primeiro passo para a mudança - o silêncio imperou até a loira quebra-lo.

- Como estão os bebês? - pediu, fingindo interesse.

- Então bem - Anahí sorriu, tentando amenizar o clima - Na próxima semana saberemos o sexo. Candice disse que são duas meninas, eu tenho dúvidas quanto a isso - brincou.

- Eu estou tão feliz por você - sorriu - De verdade Annie, sei o quanto você queria isso, sempre foi seu sonho.

- E quanto a você? O que tem feito?

- Eu estou namorando, e dessa vez está sério - brincou - Jack é produtor musical, conheci ele em uma entrevista que fiz a alguns dias atrás.

- Fico feliz que tenha encontrado alguém - Anahí disse sincera - Espero que seja alguém que te faça feliz e valha a pena.

- Sem dúvidas - ela sorriu sem mostrar os dentes.

As duas conversaram mais alguns minutos e Adella resolveu ir embora, afinal não abusaria da hospitalidade de sua querida irmã. Já Anahí não conseguira se convencer dessa visita, sabia que a irmã não dava ponto sem nó, e para aparecer de supetão ali, sem dúvidas estava tramando algo. Até se questionou se não estava exagerando e sendo má quanto a irmã, mas o fato era que o histórico de Adella não contava pontos a favor dela. Daria uma chance a irmã mas se manteria de olhos abertos. Bem abertos, por sinal.

- Obrigada por me ouvir - Adella a abraçou de supetão, do lado de fora de casa. Anahí não soube descrever, mas aquele abraço não lhe trouxe uma sensação boa como era costumeiro a um abraço. Ela sentiu o corpo arrepiar, e sentiu até mesmo certo mal estar. Não queria ser implicante ou ingrata, afinal a irmã parecia arrependida, mas fora inevitável se sentir assim - Obrigada por perdoar Annie, eu juro que farei o que estiver ao meu alcance para que possamos reatar e construir outra vez nossa relação - Anahí assentiu com a cabeça, ainda um pouco absorta - Desculpe-se com Alfonso por mim, diga que sinto muito por todo mal que causei, não quero que ele me odeie.

- Ele não odeia você - Anahí tratou de negar - Só vamos deixar isso no passado sim?

E assim o táxi chegou levando Adella consigo, enquanto Anahí entrou em casa vislumbrando a piscina pela janela grande de vidro. Em outros tempos ficaria realizada com aquela visita da irmã, com aquela conversa das duas. Porque raios agora não conseguia acreditar em nenhuma palavra que ela dissera?

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora