Trigésimo Quinto

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- Ouviram isso? - Poncho perguntou.

- Isso o que? - Candice disse, estendendo uma corda para Jack.

- Parece a voz da Annie...

Nate chegava completamente suado. Poncho o olhou enfurecido.

- O que faz aqui Nate? Não disse que ficaria lá? - segurou-o pela camisa.

- Calma cara - Nate riu quando ele o soltou - Elas estão bem, já devem estar chegando.

- Não era pra você ter as deixado lá - Poncho passou as mãos pelo cabelo completamente nervoso. Apanhou a mochila, colocando-a nas costas.

- Aonde você vai? - Candice perguntou, achando graça.

- Eu vou atrás delas - entrou mata a dentro.

- Espera - ela gritou - Eu também vou.

Candice não soube dizer, mas assim que viu Nate no topo da trilha sentiu um frio percorrer na espinha. Ela era completamente sensitiva, tinha quase certeza que algo havia acontecido. Saiu seguindo Alfonso, os dois chegaram ao lugar onde as haviam visto pela última vez. Nem sinal delas.

- Mas que droga - ele gritou.

- Calma Poncho, elas devem estar por perto - tocou o ombro dele, igualmente preocupada. Candice andou um pouco ao redor até que encontrou um tênis caído - Poncho, esse não é o Tênis da Annie?

- Ela pode estar em perigo Candice - apanhou o sapato nas mãos - Você sabe que Adella é completamente descontrolada. Vem, vamos descer, olha esse rastro - sinalizou o chão - Elas desceram.

Os dois desceram quase que correndo, um pouco mais de pressa e quem rolaria ribanceira abaixo seriam eles. Não demorou até que chegassem a imagem que Poncho jamais esqueceria na vida. Anahí estava com a cabeça ensangüentada, ao lado de uma das rochas, desacordada e sem movimentos, mas ainda tinha batimentos cardíacos. Além do sangramento no crânio, tinha sangramento entre as pernas, o que desesperou Poncho por pensar que além de poder perder a noiva, ainda poderia acontecer algo de mal as filhas.

Adela ficou prensada entre as duas rochas pelo abdômen. Poncho mal a olhou, mas ela já não tinha batimentos. Não sabia o que havia acontecido, talvez um acidente, mas algo lhe dizia que era coisa dela. Poncho conferiu outra vez os batimentos e nada, estava morta. Sua pouca experiência em trauma lhe dizia que por asfixia traumática. Anahí não se mexia e ele fez questão de imobiliza-lá como pode. Como neurocirurgião, sabia que a situação estava complicadíssima e que por se tratar de um lugar de difícil acesso, possivelmente demorariam até conseguir ajuda.

Pediu para que Candice não se aproximasse, ver as irmãs naquele estado não era algo agradável. Então pediu que ela ligasse para o hospital e pedisse ajuda. Poncho ia falando com Maite ao celular enquanto imobilizava o pescoço de Anahí com um dos braços.

- Você acha? - ele pediu.

- Sem examiná-la não tem como saber - Maite explicou - Pode ser um sangramento comum, pode ser da queda, pode ser um aborto. Não tem como saber.

- Droga - ele praguejou - Jamais devia ter concordado com essa sandice. Eu não queria vir Maite ela insistiu e...

- Agora não é hora de surtar Poncho. É hora de manter a racionalidade e ser médico não noivo. Você tem que segura-la direito, sabe que pode ter algum risco de paraplegia. O que acha que ela tem?

- Está desacordada, batimentos aparentemente normais, porém sem movimentos, sem reação, estou com medo de que seja um traumatismo craniano. Pela quantidade de sangue parece que a pancada foi forte - suspiro, tentando se manter firme - Que merda, essa ambulância não chega nunca? - gritou.

Os paramédicos levaram alguns minutos ainda. Recolheram o corpo de Adella para o IML, enquanto Anahí fora imobilizada na maca e levada até o hospital. Durante o caminho de ambulância Poncho não derramara uma lágrima, estava atento ao encefalo cardiograma de Anahí que ainda apontava atividade cerebral. Os bebês também tinham batimentos cardíacos, o que também o deixava mais tranquilo.

Assim que chegaram ao hospital, ele pulou da maca saindo da ambulância. Christian veio correndo, assim como Maite.

- Encéfalo cardiograma normal, batimento dos fetos normais, perda excessiva de sangue, um pouco hipotensa, sem movimentos, desacordada a possivelmente duas horas.

- Certo - Christian e Maite seguiram pelo hospital puxando a maca, assim que chegaram ao corredor do trauma, Christian barrou Poncho - Você espera aqui.

- Mas o que, ficou louco Christian?

- Você sabe muito bem que não pode atender ela. São regras, você não pode infringir a lei.

- Mas eu sei o que é melhor pra ela e...

- Shapherd está descendo, ela está no plantão da neuro hoje. Você - apontou ele - Espera aqui. Tenho certeza que iria mais atrapalhar do que ajudar lá dentro. Faremos nosso melhor, é nossa amiga e colega quem está lá.

Christian virou as costas entrando na sala e fechando as portas. A enfermeira conduziu Poncho até a sala de espera onde encontrou com Candice e um Nate visivelmente culpado. Os pais de Anahí chegaram, Marichello aos gritos assim que lhe noticiaram a morte de Adella de forma tão trágica. Poncho ainda tinha a imagem da cunhada prensada entre duas rochas com o corpo totalmente desfalecido. Henrique preocupado com Anahí e as netas andava de um lado para outro como se fosse furar o chão. Maite veio pelo corredor, cabelos presos e com a roupa do bloco cirúrgico. Christian veio logo atrás, seguindo dela. Ele foi o primeiro a falar.

- Foi uma cirurgia delicadíssima. Shapherd não veio pois ainda está a suturando. Anahí teve um traumatismo craniano grave, não sabemos que sequelas podem ter, na TC que fizemos agora não apontou anda, mas você mesmo sabe que sequelas pós trauma só aparecem em exames de imagem após 24 horas, por tanto iremos repetí-los amanhã. Ela está estável, Amélia conseguiu conter o sangramento, mas infelizmente ela está em coma, e não é induzido - Poncho socou a parede ao lado dele - Não sabemos por quanto tempo ela vai ficar assim, você melhor do que qualquer um sabe como são essas coisas e bem, acho que nem preciso te explicar que assim como podem levar horas, podem levar dias, meses ou até mesmo anos - Christian suspirou.

- Quanto as bebês - Maite disse, soltando um sorriso aliviado em seguida - Elas estão bem. Fizemos uma cesária de emergência, as duas nasceram bem abaixo do peso, estão agora na UTI pediátrica. Não nasceram com nenhum problema cognitivo nem deficiência, ficarão na UTI até que ganhem peso suficiente, pra que possam ir para casa definitivamente - explicou - E então papai, vamos conhecer enfim suas princesas? - sorriu.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora