Sexto

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- Me solta - Anahí o empurrou estarrecida - O que te faz pensar que sou mais um tipo desses no qual deve estar acostumado?

- Ei - pareceu ofendido - A que tipo se refere?

- Que se encanta com um bom perfume é um ar de arrogância - disse entre dentes, arrumando a própria roupa - Não sou desse tipo. E se me permite, estou de saída.

E deixou-o ali, com um sorriso bobo nos lábios. Nunca o haviam rejeitado, e ela fizera isso. Mas ele estava contente com isso. Que diabos aquela mulher  estava fazendo com ele?



Anahí chegou ao hospital no começo da tarde. O dia mal começara e sua cabeça já doía. Tomou um comprimido de paracetamol e voltou às fichas sobre sua mesa. Tinham mais de dez! E entre resfriados e gastroenterites passou sua tarde como um flash. Eram quase sete da noite quando Christian entrou na sua sala a convidando pra jantar. Anahí pensou em recusar, mas sabia que Christian Chávez não desistiria fácil, e ela estava cansada demais para brigar.

Os dois foram ao um pub japonês por sugestão de Christian, pediram saquê, um combinado de uramaki e sashimi e o único combinado era nada de assuntos de trabalho a mesa. Os dois estavam em uma mesa baixa, sentados sobre almofadas em um canto mais reservado. Anahí tirou os sapatos ficando descalça, além disso prendeu os cabelos em um coque frouxo enquanto comiam entre risos.

Maite e Alfonso pegaram um congestionamento imenso. Chloe já devia estar dormindo e os dois estavam famintos. Maite lembrava de Christian ter comentado sobre um pub novo no centro da cidade. Alfonso não era muito chegado a esse tipo de ambiente, mas talvez a comida japonesa do lugar o pudesse convencer. E ela estava certa. Segundo ele, Londres não tinha bons restaurantes de comida japonesa, e ele ainda não tivera a oportunidade de experimentar a de Nova York.

Os dois entraram no hall. Alfonso só de camisa já que com todo aquele calor, havia deixado o paletó no carro. Maite procurava uma mesa com os olhos, até que avistou a Anahí e Christian ao fundo. Sorriu animada se aproximando.

- Ei - ela chamou a atenção dos dois - Que coincidência- sorriu.

- Oi Mai - Christian sorriu, cumprimentando-a - Senta com a gente!

- Tem lugar aqui - Anahí apontou a almofada ao seu lado, sorrindo.

- Eu já volto, vou chamar o Poncho, ele foi ao banheiro.

E o sorriso de Anahí morrera. Tudo que menos queria era encontrá-lo ainda mais pela segunda vez no dia.

Alfonso sentou ao lado de Christian e de frente para Anahí. Os dois não trocaram uma palavra, o que não passou despercebido por Maite. Ela convidou Christian para ir pra pista de dança e ele prontamente aceitou. Ela não sabia o que estava acontecendo entre os dois mas sem dúvidas espremeria o irmão até que lhe contasse tudo mais tarde.

Os dois saíram deixando Anahí e Alfonso a sós. O clima não podia estar pior. Ele terminava de comer enquanto ela tomava a terceira dose de saquê da noite. Alfonso então resolveu quebrar o silêncio.

- Você está assim pelo que aconteceu mais cedo? - pediu. Ela o olhou, de relance.

- Oi?

- Acho que te devo um pedido de desculpas.

- Seria bom - disse sem importância.

- Desculpe, Vossa Alteza - riu fazendo reverência. Anahí rolou os olhos.

- Sem ironias por favor.

- Só quis descontrair - justificou - Sabe queria que nós déssemos bem. Sei que fui um idiota completo com essa história de beijo, mas podíamos começar do zero. O que acha?

Anahí suspirou, longa e profundamente, talvez para não ser grosseira com ele.

- Tudo bem Alfonso. Acho que posso fazer esse esforço - sorriu sem mostrar os dentes.

- Eu acho que Maite quer nos juntar - Anahí arregalou os olhos. Alfonso riu enquanto alcançava um sashimi com o rashi - No começo eu achava que você quem havia pedido para ela fazer isso. Mas já percebi que é coisa da cabeça dela. Maite não se cansa de querer bancar o cupido.

- Olha só, é muita pretensão sua pensar que eu pediria pra Maite me arranjar alguém, ainda mais como você - rolou os olhos.

- Ei ei - ergueu as mãos na defensiva - Pensei que já tivéssemos superado essa fase...

- É inevitável - disse irônica - Tentarei me controlar - ergueu o braço em falsa promessa. Alfonso riu.

- Assim está melhor.

- Você sempre age assim? - o observou.

- Assim como? - a olhou curioso.

- Como se tivesse que estar sempre no controle, em todas as situações? Já passou pela sua cabeça que nem tudo ou nem todos são controláveis?

- Até lhe conhecer não havia passado não. Mas já percebi que você é alguém ao qual nunca poderei controlar. Mas já me conformei com isso - riu.

- Eu detesto esse seu lado - continuou - Esnobe, superior, como se fosse melhor do que qualquer pessoa. Olhe lá fora - apontou a vidraça onde um homem carregava o lixo para o caminhão - Tá vendo o lixeiro levando os dejetos? Caso ele não fizesse seu trabalho, talvez estivéssemos soterrados em lixo seco, orgânico e hospitalar, não conseguiríamos respirar tamanho mau cheiro, morreríamos por doenças transmitidas pelo lixo, além de andarmos cercados de ratos e animais peçonhentos. Sente-se melhor do que ele Dr. Herrera? - Alfonso a observou calado - Ser médico não te faz um Deus. Não sei quem o fez pensar isso, mas sem dúvidas o enganou muito bem.

Os dois ficaram mais um tempo em silêncio, até que Christian e Maite voltaram pra mesa, Alfonso foi até o banheiro, e na volta os quatro decidiram ir embora. Christian e Maite acertavam a conta enquanto os dois andavam pro lado de fora do bar. Alfonso com as mãos no bolso da calça, enquanto Anahí segurava a bolsa.

- O que você disse, mais cedo, me fez pensar - confessou.

Ela o olhou surpresa.

- Em que?

- Sobre a história de brincar de Deus. Essa falsa sensação talvez realmente nos torne esnobes. Vou tentar diminuir isso, ver as coisas com mais simplicidade.

- Humildade é a palavra certa - o corrigiu.

- Humildade - sussurrou, sorrindo - Mas quero um contraponto.

- O que? - virou, olhando-o.

- Vou tentar ser alguém melhor, mas você vai aceitar jantar comigo na quinta-feira.

- Eu não vou jantar com você, porque como disse, e você mesmo constatou, não pode controlar tudo, nem todos.

- Não estou tentando controlar você, apenas estou tentando te fazer me dar outra oportunidade - brincou - Se eu pedir por favor, melhoram minhas chances?

- Talvez, porque não tenta? - o olhou, convencida.

- Anahí, por favor, você aceita jantar comigo no Meet, na quinta-feira? - fingiu implorar e ela se fez de séria, caindo no riso em seguida, enquanto seguia até o carro, o deixando pra trás.

- Tudo bem. Me pega as 8 - virou-se pra ele antes de entrar - Ah, e você paga.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora