Vigésimo Terceiro

517 40 8
                                    

Era uma sexta-feira quando Anahí recebeu uma ligação. Mal podia acreditar no que havia ouvido. Era da Malvern House da Inglaterra, ela nem lembrava mais que se inscreveram naquele processo seletivo.

A escola era uma das maiores referências da área pediátrica, associada a University of London, tinham um dos melhores corpos docentes do mundo e o curso era extremamente concorrido, somente um profissional por continente era selecionado a cada semestre.

Anahí havia sido escolhida por conta de um estudo que estava construindo sobre análise do perfil clínico de crianças com paralisia cerebral atendidas em uma clínica escola. Ela tivera o artigo publicado em um das maiores revistas médicas dos Estados Unidos, a Nature Medicine.

Anahí aceitou prontamente quando o diretor da escola entrou em contato a parabenizando pela seleção, anotou os documentos necessários para encaminhamento do visto, além de dados bancários para pagamento da matrícula no curso. Ela sabia que seria difícil, além de ter que deixar seus pacientes por mais de três meses, ainda teria que pedir uma licença do trabalho que tanto amava onde já estava a quase cinco anos e tinha um título de chefe, conquistado com muito esforço.

Por um momento chegou a avaliar se aquela escolha era a certa. Tinha medo de que nesse período de tempo alguém ocupasse seu lugar e ao voltar essa porta tivesse se fechado para ela, mas também avaliou a probabilidade disso acontecer outra vez e era muito, muito remota.

Ela tremia enquanto segurava o telefone, mal podia acreditar que havia sido selecionada. Levou algumas horas para assimilar.

Assim que conseguiu respirar, finalmente tranquila, contou a Maite que já não se continha de curiosidade. A amiga comemorou, satisfeita com a conquista de Anahí, sabia o quanto ela era boa no que fazia e principalmente que merecia muito aquela oportunidade. Depois de Maite veio Dulce e Christian, ambos contentes e comemorando muito. Ligou para os pais que a parabenizaram cheios de orgulho. No final do expediente caminhou até a sala de Thomás, o diretor chefe do hospital.

As mãos dela suavam, tocou dois toques na porta se identificando e logo Thomas permitiu sua entrada.

- Oi Anahí, o que foi?

- Eu tenho uma notícia que preciso te dar - fez uma careta - É boa para mim, porém nem tanto para você.

E então os dois conversaram por quase uma hora. Thomas lhe garantiu que assim que voltasse de viagem a vaga estaria a disposição dela. A parabenizou pela conquista, reforçando que toda essa qualificação só traria benefícios ao hospital, e que jamais seria capaz de demiti-la, ou tirá-la da equipe, segundo ele, Anahí era a melhor chefe de pediatria que o hospital já tivera, o que a deixou mais tranquila quanto a viagem, assim que voltasse seu emprego estaria a sua espera.

Anahí saiu pra comemorar com os amigos, chamaram Ian e foram para um pub no centro da cidade. A música estava animada e todos beberam e dançaram, festejando a nova fase da vida que nascia para ela.



Fora tudo muito rápido. A ligação foi na segunda e na sexta ela já estava prestes a embarcar. Na véspera da viagem, Anahí checava novamente as malas se certificando de que não havia esquecido nada. Ian ficaria com Shot, o cão dela, além de regar as plantas enquanto ela estivesse fora. Já havia deixado as coisas do cachorro com ele bem como uma cópia das chaves do apartamento dela.

Vestia um pijama curto e tinha os cabelos presos em um coque frouxo. Repetia a si mesma a lista de pertences e os conferia dentro das duas imensas malas já feitas, quando a campainha tocou. Shot se embolou nos pés dela, quase a derrubando, então seguiu até a porta. Estranhou, afinal não esperava nenhuma visita, porém o porteiro deixou subir, então provavelmente era alguém conhecido.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora