Quadragésimo

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No final das contas o que importa mesmo é ter alguém para olhar por nós neste mundo tão caótico. Não importa de onde venha este amor contanto que ele seja verdadeiro.

E Poncho cumpriu mesmo a promessa! No dia seguinte acordou cedo, comprou uma toalha quadriculada rosa e branca, a cor preferida das suas princesas menores. Arranjou emprestada com Henrique, seu sogro, uma cesta de piquenique de madeira onde colocou bolo, suco, frutas frescas, biscoitos, pães de queijo, entre outras dezenas de delícias. O chão tinha almofadas, igualmente rosas e dois balões personalizados com o nome das meninas davam o toque final na decoração.

Anahí mal acreditava que ele havia preparado aquilo tudo sozinho. Estava tão lindo, que ela quase borrou a maquiagem emocionada pelo cuidado do marido com as filhas. As meninas adoraram! Estavam lindas com shorts jeans e camisetas rosa, além de duas maria-chiquinhas que as possibilitavam correr sem se preocupar com o calor que fazia. Anahí usava um vestido igualmente rosa, fluído, e Poncho usada uma polo rosa com uma bermuda jeans clara como a das meninas. As fotos que tiraram ficaram lindas e harmônicas, quem olhasse de fora mal imaginária o tanto de provações que aquela família havia tido que passar até então.

Enquanto as meninas corriam lambuzaras de sorvete, Poncho acolhia Anahí entre as pernas, ela tinha as bochechas coradas pelo esforço na brincadeira com as filhas. Os olhares dos dois se encontraram, ela não podia estar mais feliz com o marido que tinha. A vida estava resolvida e alinhada, duas pequenas meninas lindas que enchiam seus dias de novidade é alegria, uma entrada maravilhosa, carinhosa, amável e estudiosa que sem dúvidas teria um futuro brilhante e lhe enchia de orgulho, um emprego que ela amava, rodeada de crianças que eram sua verdadeira vocação, e agora o pequeno ser que estava em seu ventre, pronto para vir ao mundo viver com eles essa loucura chamada vida.

- Eu estou completamente impressionada com você - ela sorriu, se acomodando melhor nos braços dele.

- Pensei que em todo esse tempo juntos já estivesse acostumada a ser mimada, amada, cuidada - beijou a curva do pescoço dela que riu.

- É claro que sim, mas a cada vez você consegue se superar mais. O piquenique ficou lindo, eu sequer poderia pensar em algo melhor, uma pena Chloe não estar com a gente, mas vê-la feliz com sua outra família também me deixa realizada, ainda mais agora que - ele a interrompeu.

- Ainda mais agora que? - arqueou a sobrancelha assim que a mão dela se apossou da sua, trazendo-a ao encontro do seu ventre.

- Ainda mais agora que teremos mais um motivo para sermos ainda melhores - sorriu.

- Você tá falando sério Annie? - sorriu de orelha a orelha - Outro filho?

- E deixa eu te contar um segredo - colou a boca na orelha dele - Dessa vez é um menino. Alguém tinha que te ajudar a tomar conta de tantas princesas né campeão - acariciou a barriga por cima do vestido.

- Annie eu - passou a mão pelos cabelos rindo - EU VOU SER PAI - ele gritou, beijando-a em seguida. As meninas assustadas, se aproximaram e se juntaram aos dois alimentando a curiosidade de como um bebê poderia parar dentro da barriga da mãe.

O resto do piquenique fora cheio de brincadeira e diversão. As meninas desceram do carro carregadas pelos pais e fora completamente uma briga fazê-las tomar banho e vestir o pijama, mas com o jeitinho que tinha com suas princesas, Poncho conseguiu convence-las depois de muitas promessas. O sogro preparava um delicioso churrasco e ele desceu para ajudá-lo enquanto Anahí caminhava para o quarto da mãe que estava silencioso.

Tirou as sandálias na porta, abrindo-a devagar exatamente como fazia quando era bem pequena e queria deitar na cama dos pais com medo de algum monstro do armário ou de debaixo da cama. Ela deitou de frente para a mãe, segurando sua mão. Marichello sorriu fraco com o carinho, desde a hora que Anahí pôs os pés no quarto sentiu sua presença. Uma mãe nunca esquece o cheiro de sua cria, independentemente do tempo que passe.

- Acho que dessa vez você não está querendo dormir comigo e com seu pai, certo? - brincou.

Anahí ficou feliz ao vê-la mais descontraída. Talvez a noite de sono tranquila tenha ajudado a acalmar os ânimos e o coração.

- Será que ele se importaria? - riu.

- Tenho certeza que não, você sabe que sempre foi o xodó de Henrique. Pra cima e pra baixo com ele - lembrou nostálgica.

- Mas não deitei aqui para dormir com vocês - acariciou a mão da mãe, brincando com seus anéis. Marichello enfim abriu os olhos grandes e azuis, olhando Anahí de frente - Vim aqui para contar uma novidade, para talvez te dar um motivo para sair dessa cama e ir até lá embaixo conosco, comemorar.

- Ora Annie, você sabe que não estou tendo muitos motivos para comemorar ultimamente - suspirou.

- Esqueça isso - pediu - Ao menos por hoje - levou a mão da mãe até sua barriga - Eu vou ter um menino - ela sussurrou, sorrindo em seguida, um sorriso lindo de felicidade que iluminou o coração calejado de Marichello.

- Está falando sério? - a mãe questionou surpresa.

- Muito sério - tornou a sorrir - Descobri a vinte dias. Poncho está radiante, esperou muito por esse garoto.

- Oh Annie - enfim Marichello a abraçou carinhosamente - Eu estou tão feliz e orgulhosa. Sua família é linda, você é uma mãe incrível, uma médica maravilhosa - fungou, enxugando as lágrimas - Queria tanto que - Anahí a interrompeu.

- Queria tanto que Adella fosse assim? - a mãe assentiu - Adella escolheu seu caminho mãe. Não foi culpa sua, nem do papai, nem minha, nem de Candice. Nós a amamos, a perdoamos, fomos compreensíveis e até um tanto quanto ingênuos. Não podemos nos culpar por algo que não estava ao nosso alcance. Quando coisas assim acontecem costumamos nos questionar o que podíamos ter feito de diferente e a resposta é nada. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Infelizmente Adella era uma pessoa doente, influenciável, obsessiva. Ninguém conseguiria ajudá-la além de ela mesma. Até poderíamos tentar mas ela não estava aberta a isso - Marichello concordou, deixando-se agora ser abraçada pela filha - Espero de coração que ela esteja bem onde quer que esteja. Tenha sua mente e seu coração em paz mãe, você foi a melhor mãe que poderia ter sido.

- Meu pequeno - Marichello beijocou a barriga dela, sorrindo emocionada - Mal posso esperar para vê-lo correr por essa casa com suas irmãs. Sabe acho que nem sei cuidar de menino, sempre rodeada por tantas mulheres - brincou, rindo - Vamos ter trabalho para cuidar do - a filha a cortou.

- Do Javier.

- Javier? Annie esse era o nome do...

- ... do bebê que você perdeu antes de ter a mim e a Adella. Nós fomos seus bebês arco-íris, assim como as gêmeas foram os meus - sorriu, chorosa, lembrando de sua pequena que também se fora - Eu quero homenagear a você e ao meu irmão. Quero que se chame Javier e quero que possa curar seu coração com tanto amor que sem dúvida iremos ter por ele.

Nada mais precisava ser dito. Mãe e filha ficaram ali por incontáveis minutos abraçadas até que Anahí conseguiu convencer Marichello de que tomar um banho e descer para o jantar era a melhor opção, afinal, hoje elas teriam sim muito a comemorar, um novo ciclo começava a iniciar.

Fim.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora