Décimo Segundo

564 49 7
                                    

Candice segurava uma Anahí furiosa, enquanto Marichello e Henrique empurravam Adella para o andar de cima, essa tinha os cabelos desgrenhados e o rosto vermelho das bofetadas dada pela irmã, porém o riso irônico continuava lá bem como a promessa de que a surra que Anahí lhe dera não passaria ilesa.

- O que foi isso? - Candice tentava se recuperar enquanto Anahí sentava no sofá, levando as mãos à cabeça, olhos cheios de lágrimas.

- Ela teve o que mereceu - murmurou baixo - O que eu fiz de errado Candice? Me diz? O que eu fiz pra que quando tudo está perfeito Adella venha e estrague tudo como sempre foi.

- Annie - a irmã massageou o ombro dela com a mão livre - Não fica assim. Isso aconteceu antes de você e Poncho se conhecerem, não o culpe por isso, além do mais lembre da conversa que tivemos lá encima, não se deixe levar pelo que ela diz, sabe que ela faz isso só pra te provocar. É de você que Poncho gosta, caso contrário estaria com ela agora não?

- De qualquer forma, isso é tão difícil - enxugou as lágrimas com as costas das mãos - Nenhuma outra imagem é capaz de passar agora pela minha cabeça. Eu só queria poder tirar isso que estou sentindo - fungou.

- Você tem que esquecer isso - aconselhou - Poncho te ama, deu pra ver nos olhos dele o quanto ficou mal com tudo isso também. Além do que, amanhã vamos voltar pra casa e Adella continuará aqui, longe de vocês e poderão voltar a viver tranquilos, sentar, conversar e se acertar.

- Eu não quero ficar aqui - confessou - Vou me desculpar com o papai e a mamãe, mas vou ir para um hotel, no centro. Melhor assim, não consigo passar mais um minuto se quer embaixo do mesmo teto que Adella.

- Tem certeza disso? - ela assentiu - Quer que eu vá com você?

Anahí negou.

- Preciso ficar um pouco sozinha.

- Me liga quando chegar lá para avisar se está tudo bem? - Candice a abraçou.

- Ligo - sorriu fraco.

- E fica bem tá? Detesto ver você chorar assim. Eu amo você.

- Eu também.



Anahí arrumou a mala mesmo após muitos protestos dos pais e foi até um hotel que conhecia no centro da cidade. Não era o mais luxuoso, ou mais cheio de pompa, mas era um onde ela tinha certeza que haveriam vagas. Havia começado uma chuva, estava intensa, e logo veio um manobrista ajudá-la com a bagagem. Ela fez o chek-in, pegando o cartão do hotel, estava prestes a subir, quando um homem tocou seu ombro. Ele era loiro, olhos azuis colo os dela, parecia conhecê-la de algum lugar, já ela não tinha tanta certeza se o conhecia.

- Anahí? Nossa que surpresa - sorriu, abraçando-a. Ela sorriu, e aceitou o abraço com gentileza. O homem pareceu reconhecer a confusão no rosto dela - Manuel! Do congresso de pediatria em Washington!

- Oh sim - riu - Desculpe, estou tão avoada que nem percebi. Desculpe de verdade Manuel.

- Não há problemas - ele sorriu - É algo com o qual possa ajudá-la?

- Não, nada demais - sorriu, espantando os pensamentos.

- Certo então - silenciaram - Que coincidência te encontrar aqui, estou indo ao lobby tomar um drink, o que acha de me acompanhar? Claro, se não estiver ocupada.

Anahí ponderou, um bom e velho uísque sem gelo a faria esquecer os problemas ao menos por essa noite, talvez fosse uma boa opção, por outro lado precisava descansar, os últimos acontecimentos já haviam deixado atordoada além de que tinham tantas chamadas de Alfonso em seu celular e Anahí não sabia o que fazer com elas.

- Manuel, hoje tive um dia cheio, muito cansativo, você entenderia se deixássemos para uma próxima oportunidade não é?

- Claro que sim - disse meio a contragosto - Adoraria a sua companhia, mas entendo que precise descansar - sorriu, apanhando a mala dela do chão.

- Obrigada, você é mesmo muito gentil.

- Eu te acompanho até lá encima, assim você me conta sobre o trabalho em Nova York. Como andam as coisas por lá?

Anahí não viu maldade alguma naquele gesto. Estava tão cansada que até que achou uma boa ideia ele se oferecer pra levar suas coisas para o andar de cima. Os dois foram conversando no elevador, Manuel era médico, gastropediatra e especialista em cirurgia digestiva infantil. Os dois haviam se conhecido em um congresso no meio do ano passado e Anahí havia gostado muito dele. Trocaram várias ideias sobre cirurgia e procedimentos médicos e ao fim do evento nunca mais se viram.

- Bom, está entregue - disse, sinalizando a porta do quarto dela.

- Obrigada Manuel - sorriu - Foi um prazer te reencontrar - ele tomou a iniciativa de abraçá-la e enquanto aceitava o abraço dele os olhos bateram sobre o homem que havia acabado de sair do elevador, todo molhado, xingando até as paredes enquanto as balançava tentando tirar o excesso de água.

- Droga, droga de chuva - resmungou, tentando achar o cartão - Mas que, Anahí? - a olhou, que logo tratou de se desvencilhar de Manuel - O que está fazendo aqui com esse cara? - Alfonso foi até eles, esquecendo-se até mesmo o quão molhado estava.

- Manuel, se importa de descer e nos deixar a sós? - perguntou, educadamente.

- Está tudo bem? - pediu, intrigado.

- Vai ficar - ela soltou o ar, suspirando.

- Tudo bem então - acenou se afastando - Até mais.



- Eu estou esperando uma explicação - Alfonso quase gritou, assim que Manuel sumiu pelo elevador.

- Eu não tenho nada para explicar pois não aconteceu absolutamente nada - Anahí dizia, de forma calma - Encontrei Manuel lá embaixo, ele se ofereceu pra ajudar com a bagagem e só.

- E de onde conhece esse tal de Manuel?

- De um congresso, em Washington.

- Que merda - esmurrou a própria mala.

- Se está pensando que fui pra cama com ele, está muito enganado - disse, ofendida - Não tenho toda essa experiência em congressos como você Alfonso - disse sarcástica. Pronto, foi como se ela tivesse lhe esmurrado no rosto - Aliás, estou aqui por sua culpa, já que tive que sair de casa depois de dar uma surra na minha irmã por sua causa.

- Você fez o que? - pediu espantado.

- Não que ela não tenha merecido, mas não me orgulho de ter feito isso - suspirou cansada - Com tantos hotéis na cidade, que diabos veio fazer aqui?

- Eu rodei a cidade toda, fui a mais de cinco hotéis, não consegui vaga em nenhum deles. Poderia ter ido pra casa mas algo me fez voltar, por conta da chuva resolvi passar a noite aqui e de repente tentar falar com você amanhã pela manhã - suspirou - Talvez seja o destino - deu de ombros.

- Você devia entrar e tomar um banho quente - apontou o quarto dele - Nós dois sabemos muito bem que ficar molhado assim pode te dar um belo resfriado.

Ele se aproximou, ignorando as recomendações dela.

- Annie, eu não posso voltar a trás e evitar que certas coisas tenham acontecido, mas posso te garantir que estou aqui, que quero ficar somente com você. Você se tornou minha vida, desde que saí da casa dos seus pais não consigo pensar em outra coisa que não seja você e no que eu faria caso você me deixasse. Por favor meu amor, eu te peço, não me deixa? Fica comigo, volta pra mim? - suspirou, segurando o rosto dela entre as mãos. Anahí já tinha os olhos marejados a essa hora.

E sem pensar duas vezes ela o beijou. Timidamente, colou os lábios nos dele e logo entreabriam a boca, dando passagem para as línguas um do outro. Alfonso segurava seus cabelos com carinho, enquanto ela enlaçava-lhe o pescoço. Nem perceberam quanto tempo ficaram ali, até porque logo depois Alfonso a empurrou pra dentro do quarto puxando a própria mala, e tiveram ali uma noite intensa de sexo e reconciliação.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora