Quatro

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Anahí chegou em casa exausta, fora um dia cansativo e tudo que desejava era um bom e demorado banho quente, um pijama felpudo e sua adorável cama. Jogou as chaves no aparador e se permitiu sentar um pouco no sofá enquanto via o noticiário local.

Fechou os olhos por alguns minutos, e então o irmão de Maite adentrou seus pensamentos. Anahí não tivera uma boa impressão dele. Alfonso era um homem arrogante, autoritário, terrivelmente bonito, era verdade, mas mesmo assim muito esnobe. Tão diferente de Maite, que era doce, educada e extremamente gentil. Mas Anahí entendia isso, afinal ela e Adella, sua irmã gêmea, também não eram parecidas em nada a não ser na aparência.

Tomou seu banho, e deitou afim de pegar no sono, estava difícil dormir, a adrenalina do dia fora muito intensa.

Por outro lado, Alfonso velava o sono da pequena Chloe. A menina adormecera cedo, e ele aproveitava para ler alguns enxames de pacientes que trazia consigo. Então a morena de logo cedo adentrou seus pensamentos. Anahí era linda e apesar do jeito doce era cheia de personalidade, o suficiente para tratá-lo daquela forma. Tinha mãos suaves e delicadas e belíssimos olhos. Intensos e inocentes ao mesmo tempos. Levou a caneta aos lábios imaginando como seria beijar aquela boca rosada e convidativa. Estava perdido! Mal a havia conhecido e já ansiava por vê-la outra vez. Serviu um pouco de café e decidiu voltar ao trabalho, tinha muita coisa atrasada que precisava ser feita.

O dia amanheceu ensolarado. Anahí colocou um vestido levemente rodado a partir da cintura, em tom de marsala que deixava sua pele ainda mais branca e seus cabelos ainda mais iluminados. Fez a maquiagem básica de sempre e nos pés colocou um salto baixo. Deu-se esse luxo, já que hoje não iria pra a sala cirúrgica. Apanhou a mochila, sua bolsa e seguiu para o hospital, além de Chloe ela tinha mais dois pacientes em observação necessitando alta. Na verdade, hoje ela acordara um pouco mais cedo do que de costume e também se arrumara um pouco melhor. Talvez fosse uma oportunidade de rever Alfonso e tentar mudar sua visão sobre ele. Mas que raios ela estava pensando?

- Estou faminta - ela resmungou com Christian enquanto os dois caminhavam pelo corredor da pediatria.

- Podemos ir na Starbucks mais tarde, vou me liberar cedo, acabei de sair de um plantão de doze horas - disse extasiado. Anahí gemeu em lamento.

- Bom, nos vemos no estacionamento então - acenou, tocando a maçaneta do quarto de Chloe.

- Às 10 e meia.

Quando abriu a porta do quarto pedindo licença, se deparou com Alfonso em pé, ao lado da cama, dando cereal com leite na boca da pequena menina. Chloe via desenho animado, e o pai estava completamente empenhado na tarefa de dar-lhe o café da manhã.

- Olá Chloe, Alfonso - sorriu gentil - Como passou a noite?

- Tudo bem por aqui - Alfonso disse prontamente, largando a tigela sobre a bandeja. Anahí pode observar enquanto ele se movimentava, o quanto a blusa preta colada realçava os braços e abdômen definidos dele - Inclusive me dei a liberdade de dar uma olhada nos exames de Chloe e realmente, parece que tudo está em perfeito estado.

Anahí franziu o cenho, um pouco ofendida. Alfonso logo tratou de se explicar.

- Sou neurocirurgião - explicou - Sabe como é quando algo acontece com nossos filhos.

- Oh não sei - Anahí tratou de negar - Mas posso imaginar como seja. Bom, já falei com Christian e já deixamos a alta de Chloe na recepção, você só precisa passar lá e assinar alguns papéis.

- Certo, vou ligar para que minha mãe possa vir ficar com Chloe e aí providencio isso - Anahí negou.

- Não a incomode com isso, tenho certeza que não irá demorar mais do que alguns minutos. Posso fazer companhia a Chloe.

- Tem certeza? Não irá atrapalha-la?

- De maneira alguma, pode ir tranquilo. Esse é meu dia de folga.

- Certeza mesmo? - disse apanhando a carteira.

- Absoluta.

Alfonso agradeceu enquanto saia do quarto, Chloe então fitou Anahí pela primeira vez desde que ela entrara no quarto. Era uma mulher muito bonita aos olhos da pequena menina.

- Aonde está o meu pai? - procurou-o com o olhar.

- Seu pai foi até a recepção, buscar algumas coisas para que você possa ir para casa, eu sou a Dra Portilla, mas você pode me chamar de Annie - Anahí lhe sorriu, segurando sua delicada e pequena mão - Como se sente? Sua cabecinha ainda dói?

Chloe encantou-se com ela. Ninguém nunca lhe dava muita atenção, exceto a avó e sua tia Maite. O Pai estava sempre ocupado, e sua mãe não estava mais aqui com ela.

- Não dói mais - ela negou com a cabeça.

- Que bom - tornou a sorrir - Você nos deu um susto enorme ontem. Seu pai e sua tia Mai ficaram muito preocupados. E eu também.

- Você é médica? - Chloe pediu, analisando Anahí outra vez. Ela não era muito falante mas parecia entusiasmada com a nova "amiga".

- Eu sou sim. Sou médica de crianças, e eu e o Dr Chávez quem cuidamos de você ontem, aqui no hospital.

- Ser médico é chato - a menina disse com pesar - Meu pai é médico e está sempre ocupado.

- É, realmente, as vezes é bastante chato, mas veja bem, as vezes é legal também. Ontem por exemplo, eu pude ajudar você a melhorar. Isso não foi legal? - a menina pensou, levando um dedo a boca.

- É, assim sim - concordou, e Anahí riu do jeito dela. Era tão doce, mas parecia tão madura para a idade dela.

- E você já sabe o que vai querer ser quando for adulta?

- Eu quero ser astronauta - sorriu timidamente - Mas meu pai disse que isso é coisa de menino.

Anahí balançou a cabeça em negativa. A cada vez mais a impressão que tinha de Alfonso parecia piorar.

- Posso te contar um segredo? - a menina assentiu - O seu pai não sabe de nada. Você pode ser o que quiser! Se quiser ser astronauta, então você pode ser astronauta.

- Você jura? - pediu com os olhos brilhando.

- Claro que sim - sorriu, lhe passando segurança - E melhor do que isso! Esse vai ser nosso segredo tudo bem?

- Qual segredo? - empolgou-se.

- Prometo a você que quando eu estiver de folga e sua tia Maite também, eu as convido para irmos ao planetário ver as estrelas, o que acha? - cochichou com ela.

- Esse vai ser o melhor dia da minha vida! Você promete que vamos mesmo? - pediu empolgada outra vez. A essa altura ela quase pulava na cama.

- Eu prometo, e promessa é dívida - tocou a mão com ela.

Então de repente a menina a abraçou com toda força que tinha. Anahí afagou-lhe os cabelos emocionada com o carinho.

- Você é demais Dra Annie!

- Não sou não, você é que é uma sonhadora! Não deixe que ninguém corte suas asas pequena, sempre sonhe e sonhe muito tudo bem?

A pequena assentiu, e as duas voltaram a se abraçar. Logo Alfonso adentrou o quarto em silêncio vislumbrando aquela bela cena. Parecia que a Dr Portilla havia conseguido desmontar a excêntrica Chloe Herrera. Alfonso estava feliz com aquilo, era um sinal de que talvez devesse investir em conhecê-la melhor. Mal sabia da imagem terrível que Anahí tinha dele nesse momento. Coitado.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora