Trigésimo Sexto

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Assim que entrou na UTI pediátrica os olhos de Poncho umedeceram. Suas filhas estavam lá. Eram tão pequenas e frágeis, mesmo assim aos seus olhos eram lindas. Helena e Luiza estavam identificadas por suas pulseiras. As duas tinham cabelos pretos iguais aos dele. A pele era branquinha e tinham as feições delicadas como as de Anahí. Anahí! Como gostaria que ela estivesse ali, que pudessem admirar mais de perto suas filhas, sem dúvidas Anahí estaria tão derretida e chorosa quanto ele.

A enfermeira o deixou tocar as meninas pela luva da encubadora e foi aí que as lágrimas vieram mais grossas e intensas. Poncho chegou a soluçar, sendo amparado pela irmã, que lhe afagou os cabelos e beijou-lhe a cabeça.

- Está tudo bem Poncho - sussurrou, assim que se separaram - Vai ficar tudo bem, tenho certeza que Anahí vai acordar em breve e que poderão levar essas pequenas pra casa - sorriu, tentando reconforta-lo - Elas são tão lindas - suspirou encantada - Não tenho dúvidas de que serão muito felizes.

- Espero que sim Mai - enxugou o rosto - Eu vou até lá fora, devem estar querendo saber sobre as bêbes. Você tem acesso aos prontuários né?

- Poncho - Maite ralhou - Sei que quer o prontuário da Annie, mas não vou fazer isso. A Shapherd está cuidando muito bem dela, confio cegamente no que ela diz é isso não vai te fazer bem, pra que sofrer assim hein? - tornou a abraçá-lo - Vamos esperar meu irmão, vamos dar tempo ao tempo e esperar. Ela vai reagir, iremos rezar muito por isso. Acho que vou buscar Chloe pra ver as irmãs, o que acha? Ela vai amar.

- Faça isso, e se possível pegue alguma roupa do papai pra mim, não pretendo arredar o pé daqui tão cedo.

Na sala de espera Dulce consolava Marichello e Candice. Era uma situação muito difícil, uma filha prestes ao caminho do funeral e outra em coma. Logo as duas entraram pra observar as meninas pelo vidro. Marichello não conseguiu conter o choro, lembrava-se de quando fora ela que tivera duas bebês que agora estavam nessa situação. Todos não demoraram até seguir para casa afim de se aprontarem para o funeral. Dulce ficou fazendo companhia para Poncho e Christopher chegou em seguida, buscando algo para que o amigo comesse.


Os dias passaram depressa. Nesse tempo, as meninas conseguiram uma ama de leite no hospital. Zoraida tirava leite todos os dias e deixava no banco de leite do hospital, e assim as meninas estavam crescendo e ganhando peso. Dr Alex Karev, o pediatra substituto de Anahí já tinha as liberado de alta, e hoje ao final do dia iriam para casa. As duas estavam lindas com suas roupinhas cor-de-rosa, como a mãe escolhera para elas. Chloe e Poncho posavam para o vídeo de Candice, que prometera gravar tudo para que Anahí visse assim que acordasse.

Ruth se mudou para a casa de Poncho por um tempo, até que ele pudesse se acostumar com a rotina. Maria também o ajudava com as pequenas, já que Maite havia ganhado o pequeno Samuel e também estava precisando da ajuda da mãe. Poncho tirara uma licença do trabalho, algo que tantos anos de trabalho e do patrimônio acumulado o permitiam fazer. Ele deixou as meninas com Maria e foi até o hospital. Bateu os olhos no letreiro do quarto. Quarenta e sete. Faziam três meses que Anahí estava ali, em coma e nesses três meses ele fazia questão de ir lá todos os dias visitá-la na esperança de vê-la abrir os olhos azuis que o fizeram se apaixonar um dia outra vez.

Poncho entrou no quarto e como fazia todos os dias, deixou as rosas brancas novas, a preferidas de Anahi no vaso, tirando as velhas. Se aproximou da cama. Como estava linda, dormindo, parecia um anjo. Candice fazia questão de arruma-la, lavar e escovar seus cabelos além de perfuma-la e escovar seus dentes, hoje não havia sido diferente. Estava tão cheirosa constatou Poncho, exatamente como ela gostava.

- Sinto tanta falta de você meu amor - acariciou o rosto dela com uma mão, enquanto a outra segurava sua mão entre as dele - Você faz tanta falta lá em casa - sorriu, choroso - Nossas meninas estão me enlouquecendo. Danadas e lindas como você. Helena é mais esperta, enquanto Luiza é mais simpática. As duas completamente iguais a você com olhos azuis intensos e encantadores - acariciou os cabelos dela - A sorte é que Chloe tem sido uma excelente irmã. Dedicada, carinhosa. As meninas à adoram - fungou - Aí Annie, como eu gostaria que você estivesse aqui pra ver tudo isso. Estou me desdobrando na esperança de te ver voltar pra nós, de te ver na nossa cozinha fazendo uma mamadeira ou rindo das travessuras das nossas pequenas no sofá da sala, mas a cada dia tem sido mais difícil! Essa tempestade parece não ter fim, e a solidão arranca a cada dia mais um pedaço do meu coração - enxugou uma lágrima que escorria com as costas da mão - Você trás vida aos meus dias Annie. Sua risada, sua presença, tudo faz muita falta. Não estou mais sabendo lidar com isso meu amor. Volte pra gente - sussurrou próximo ao ouvido dela - Volte pra mim, minha vida - beijou-lhe o rosto de despedindo.

Alfonso saiu do quarto cumprimentando alguns colegas, não demorou a chegar ao estacionamento. Quando tentou abrir o carro, lembrou das chaves que haviam ficado sobre o aparador do carro, assim que ajeitou as flores no vaso. Suspirou dando a volta e indo até lá novamente. Já ia sair assim que começou a ouvir uma tosse alta vinda da cama.

- Anahí - praticamente gritou, por sorte a porta do quarto havia ficado aberta - PRECISO DE AJUDA AQUI - chamou, iniciando a extubação - Estou tirando o respirador Annie, vai ficar tudo bem, fique calma meu amor - Poncho tirava o equipamento chorando de emoção. Não estava acreditando que ela havia acordado. Talvez Deus tivesse se apiedado dele, só podia ser isso.

Christian que passava no corredor entrou correndo, os dois extubaram Anahí, e antes que Poncho pudesse falar qualquer coisa com ela, Christian bipou a doutora Amélia Shapherd que mandou levá-la imediatamente para a sala de tomografia.

Poncho ficou parado feito bobo no meio do quarto. As lágrimas corriam livremente pelo rosto.

- Mãe, mãe - ele gritava ao telefone tamanha felicidade - A Annie acordou mãe, ela acordou!

Mal deu tempo de Ruth responder e Poncho desligou. Sabia bem onde iria enquanto Anahí voltasse: a capela singela do hospital seria seu destino.

Sob a pele do lobo Onde histórias criam vida. Descubra agora