- Pinça - pediu à instrumentista que estava ao seu lado - Vamos pinçar aqui - sinalizou a Christian - Depois podemos suturar e partir para o baixo peito.
- Como estão as coisas com Poncho? - Christian pediu, segurando as pás para que ela tivesse uma visão ampla.
- Tudo bem - Anahí sorriu sob a máscara - Vamos ter uma menina - comentou concentrada no trabalho - Ia esperar pra fazer um chá de revelação e tudo mais mas não aguentei - riu - Fiz logo uma sexagem semana passada.
- Sei bem como você é - Christian riu, removendo uma das pás enquanto Anahí finalizava o procedimento. Os dois suturaram o paciente rapidamente, virando-o outra vez para que pudessem extrair os resquícios de projétil, agora do peito. Se tratava de um menino de doze anos com ferimento de arma de fogo.
- Estou tão animada - sorriu, limpando o ferimento - Acho que aqui acabamos - retirou o projétil com calma, colocando-o na embalagem destinada á investigação forense.
Anahí tomou um pouco de água, enquanto se preparava para continuar a cirurgia. Sentia um desconforto no baixo abdome, mas sabia que era natural senti-lo, já que o útero estava expandindo para abrigar sua bebê. Ela e Christian já trabalhavam em pé a quatro horas naquele paciente, o menino parecia estável até Anahí abrir o peito dele.
A pressão começou a despencar e ele começou a ficar hipotenso. As paradas começaram, e Christian tentou reanima-ló com o desfibrilador, em vão. Anahí sentiu uma piora no desconforto, mas nao foi isso que a impediu de salvar o garoto, subiu sobre a mesa cirúrgica, colocou a mão com a luva dentro do peito do menino, massageando o coração insistentemente.
Christian chamava Derick, o cardiologista do centro de trauma. A cara de Anahí denunciava que estava com dor e desconfortável, Christian não demorou a notar.
- O que você tem Annie?
- Nada - fechou os olhos suspirando. Chegou até mesmo a escorrer um pequeno fio de suor da testa até os lábios. Estava insuportável a dor que sentia, mas sabia que se parasse de massagear o coração do garoto, ela e Christian o perderiam.
- Annie, você está sangrando - Christian sinalizou, praticamente gritando - Saia já daí.
- Só quando Derick chegar - suspirou, tentando conter a dor que sentia.
- Anahí - Christian ralhou outra vez - É algo de errado com o seu bebê, desça logo daí!
- Cheguei - Derick entrou apressado, ajeitando as luvas - O que temos? - Assumiu a posição de Anahí, que era levada até o ambulatório obstétrico enquanto as enfermeiras chamavam Maite.
Maite largou tudo que estava fazendo. Ligou pra Alfonso que abandonou um paciente no consultório e sua agenda do dia e saiu desesperado sentido ao hospital.
- Annie, o que houve? - abaixou na altura dela, segurando uma das mãos.
- Eu estava em cirurgia, comecei a sentir desconforto, Christian disse que eu estava sangrando - suspirou, chorando - Mai por favor, não deixe com que nada de ruim aconteça com a minha filha. Eu sinto que estou perdendo-a. Por favor, salve ela pra mim - soluçou entre o choro.
- Eu vou fazer o possível sim? - Maite disse incerta, com os olhos mareados por baixo da máscara - Vamos ver Annie - pegou o aparelho de ultrassom, levando-o a barriga de Anahí.
Maite distribuiu o gel, passando-o lentamente pela barriga a procura de batimentos. A cada vez que deslizava o equipamento emitia um pedido a Deus que não deixasse com que q cunhada tivesse perdido o bebê. Anahí não parou de chorar um instante desde que o exame começou. O instinto materno lhe dizia que algo estava muito errado, seu coração doía, estava tão pequeno. Ela estava de onze semanas, sabia que o estágio crítico da gestação ainda não havia passado. Alfonso entrou na sala desesperado segundos depois, segurava suas mãos, e beijava sua testa enquanto Maite sequer tinha coragem de encara-los nos olhos.
- Está tudo bem Mai? Minha filha está bem não está? Fala logo - Anahí já se exaltava, tamanho era o desespero.
- Annie, eu - suspirou, tentando conter as lágrimas - Eu sinto muito.
Esse foi o último que Anahí ouviu antes de Maite sair da sala e deixar os dois a sós. Maite sentia muito, mas o que ela sabia sobre sentir? Quem sentia era ela que acabara de ter a filha arrancada dos braços sem nem chance de protegê-la. Alfonso tentou a abraçar, estava tão devastado quando ela, porém inesperadamente Anahí o rejeitou. Ela abraçou a própria barriga e se deixou chorar. Alfonso resolveu deixá-la sozinha, talvez precisasse desse tempo para assimilar. Ele sentou em um dos bancos do lado de fora da obstetrícia.
Olhava pra cima chorando desesperadamente. Ao ver o irmão naquele estado Maite chorou. O abraçou tão apertado que Alfonso sentiu como se pudesse ter seus ossos quebrados. Maite acariciou seus cabelos e sussurrou palavras de conforto a todo instante, mas nada parecia funcionar. Sua filha estava morta, havia acabado de ir embora sem que tivesse sequer a chance de conhecê-la.
Maite voltou pra sala afim de tentar acalmar Anahí. Lhe ofereceu um calmante, e ela negou. Acariciou seus cabelos, ela estava encolhida sobre a maca, o olhar perdido e distante.
- Annie, eu vou pedir que venham te buscar para que possamos fazer a curetagem, tudo bem?
Anahí não disse que sim nem que não, apenas balançou a cabeça indiferente, como se estivesse alheia a tudo que estava acontecendo. Poncho voltou até ela, acariciando seus cabelos. Tentou abraçá-la outra vez, e ela novamente o rejeitou.
- Eu prometi a você semanas atrás que nunca iria embora, então por mais que não me queira aqui, eu vou ficar - segurou sua mão - Essa dor vai passar, tudo vai ficar bem outra vez. Nós vamos nos reerguer, somos jovens. Deve ter algum motivo pelo qual Deus não quis que isso acontecesse - secou as próprias lágrimas - Mas eu sempre vou estar aqui pra você, e isso está doendo tanto em você quanto em mim. Eu também pedi minha filha Annie, você sabe o quanto dói, sabe o quanto eu a queria.
Anahí não dizia nada, apenas chorava. Alfonso ficou o tempo todo ao lado dela. Os dois subiram até a sala de procedimentos, Maite fez a curetagem pra remover o feto morto. Anahí chorou o procedimento todo, mesmo que parcialmente anestesiada, o choro não era pela dor física e sim pela dor da alma.
Horas mais tarde ela acordou, Dulce foi vê-lá no quarto, assim como Candice. Ruth, queria ir até o hospital, mas Alfonso pediu que não viesse pois sabia que Anahí estava numa situação muito complicada na qual não queria falar nem ver ninguém. Candice a ajudou a tomar banho, vestir uma roupa limpa. Anahí não disse uma palavra sequer. Alfonso a levou de cadeira de rodas até o carro e o caminho até em casa também fora completamente silencioso.
Alfonso pediu para que Ruth tomasse conta de Chloe, ao menos por uma semana para que Anahí pudesse se recuperar e o peso da situação fosse amenizado. Ele ajudou Anahí subir as escadas, ajeitou os travesseiros para ela na cama. Desceu para pegar um suco é um sanduíche para tentar fazê-la comer algo. Assim que voltou ao quarto, Anahí continuava imóvel. Deitada de costas, enquanto tinha um dos braços sobre a barriga, agora vazia. Olhava a parede tom de salmão a sua frente, o olhar antes brilhante e iluminado agora tinha um tom escuro e sombrio. Como se houvesse perdido a vida.
- Vamos comer algo Annie? - Alfonso acariciou os cabelos dela com paciência, ela negou com a cabeça - Está com dor? - perguntou, revendo um balançar de cabeça negativo outra vez - Quer colocar algo mais confortável?
Novamente Anahí negou, se abraçando ainda mais ao travesseiro que tinha ao seu lado. Alfonso cansado, colocou a comida sobre a escrivaninha do quarto, e deitou ao lado dela, abraçando-a em silêncio, nem ele sabia de onde estava tirando forças para que pudesse dar a ela o apoio que precisava, mas sabia que também estava prestes a desmoronar.
Não me matem Ok? Kkkkkkkkk
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Sob a pele do lobo
FanfictionAnahí e Adella apesar de gêmeas são completamente diferentes. Enquanto uma é calma, dedicada e profissional, a outra é obstinada, audaciosa e sem escrúpulos. Depois de um desentendimento na adolescência as duas se afastam, vivendo cada uma sua vida:...