Hands All Over | Catradora

✦Dois✦

ADORA

— Sai.– Felina tem uma ótima habilidade em tirar minha paz e atrasar minha evolução espiritual.

Apesar disso, ela é uma boa colega de apartamento, e seu mau humor diário me fazia rir. Lembro quando a conheci no time de basquete. Era nosso primeiro jogo, o jogo de classificação no time. Ela estava confiante ao mesmo tempo que estava nervosa, sorria ao mesmo tempo que abria e fechava as mãos sem parar. Aquilo era um hobbie para ela, mas era visível seu amor pelo basquete. Eu posso ser mais alta, mais forte e a capitã do time, mas ela é mais rápida e feroz, como um tigre. Felina.

Funcionamos bem juntas.

— Tem uma pessoa no meu quarto. – ela disse normalmente. Tinha o hábito de trazer gente estranha pra dormir com ela, mas ela nunca aguentava ficar muito tempo dormindo com alguém.— Deixa eu ficar aqui só até ela ir embora.

Felina sentou na minha cama e abaixou as orelhas enquanto me olhava.

Eu sou muito mole.

— Eu vou tomar banho, quando acabar quero que você saia do meu quarto. – fiz a melhor cara de brava e autoritária que eu consegui. — E você não foi na padaria, acabou o pão.

Fui até o guarda roupa e peguei uma toalha e um pente na primeira gaveta.

— Só se você me deixar dirigir o seu carro.

— Nem morta. – fechei a porta do quarto.

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FELINA

Adora é sempre tão dramática.

Sempre é tão perfeitinha e boa em tudo. As melhores notas, a pessoa mais legal, a melhor jogadora e capitã do time. Sinto que estou sempre na sua sombra, sempre serei a segunda melhor, nunca a primeira. Nunca vou me destacar como ela, ser tão boa como ela.

Mas eu quero ser.

E quero muito.

Ouço a porta da frente bater forte. Vou até meu quarto e vejo apenas meu gato dormindo no tapete. A garota que lá dormia tinha ido embora e provavelmente estava brava comigo por ter deixado ela lá, sozinha.
Outra garota, mais uma entre tantas que já levei para cama.

Procuro em tantas garotas o que me falta por dentro. Não quero me sentir sozinha e abandonada de novo, não quero me sentir rejeitada. Mas nenhuma dessas garotas consegue tirar o vazio que eu sinto no peito.

Procuro nos outros o amor que nunca recebi.

Eu nunca fui a filha que minha mãe esperava, a filha que ela sempre quis. Dela recebi apenas desprezo e maus tratos. Ela sempre foi tão... Sombria. Arrisco dizer, que se fosse para ela escolher a filha dos sonhos, essa seria Adora. Adora, sempre ela.

A vida dela é perfeita, nunca deve ter sofrido. Ela é sempre tão feliz e sorridente.

E por isso ela me irrita.

E me irrita mais ainda eu não conseguir odia-la.

A porta do banheiro se abre revelando uma Adora já vestida e com os cabelos soltos e molhados. Estava cabisbaixa e parecia... Triste?

Uma das minhas sobrancelhas se levanta automaticamente, vê-la triste era algo difícil de acontecer, na verdade eu nunca tinha visto ela assim.

Ela caminha até a cozinha e Melog a segue, miando para ela e se esfregando em suas pernas, como se perguntasse o que havia acontecido. Estranhamente, meu gato gosta muito dela.