ADORA
Fico mais e mais impaciente ao perceber que Felina está demorando demais no banheiro.
Fazem mais ou menos trinta minutos que ela saiu da mesa e foi até lá, mas nem sinal dela até agora.
Olho ao redor, procurando por ela em meio às dezenas de pessoas em pé na pista de dança, mas não a reconheço entre os rostos.
Tremo uma das pernas e esfrego minhas mãos umas nas outras, preocupada.
— Ela já deveria ter voltado. - minha voz está trêmula.
Meus amigos se viram para mim e acenam positivamente com a cabeça.
— Vamos procurar por ela, ela pode estar no banheiro passando mal ou algo do tipo. Vamos achá-la se procurarmos juntos. - Bow dá a ideia e então nos levantamos da mesa, indo cada um para um lado. Decido ir para mesma direção que ela havia seguido, na esperança de que ela ainda estivesse no banheiro ou perdida em algum lugar.
Ando com pressa, a passos largos, quando sinto algo deslizar na sola dos meus tênis e fazer um barulho. Tiro meu pé esquerdo no chão e me agacho, tentando sentir em que pisei.
Pego um objeto pequeno, fino e cilíndrico de cor preta. Puxo a tampa, que revela uma pequena ponta também preta, parecida com uma ponta bem fina de caneta.
O delineador de Felina.
Então, percebo que algo não está normal. Ela nunca vai a lugar nenhum sem isso no bolso, e se deixasse cair com certeza voltaria pra buscar.
Mas, existem muitos delineadores iguais a esse, pode ser de qualquer pessoa, não é?
Ela deve estar no banheiro ainda, tem que estar.
Me esgueiro por algumas poucas pessoas e passo pela porta do banheiro, que está vazio.
Não há ninguém secando as mãos ou na pia, as cabines estão vazias. Mas, mesmo assim, confiro cada uma delas.
Ela não está aqui.
Meu coração palpita e uma carga de adrenalina e desespero percorrem o meu corpo. Minhas mãos tremem e sinto como se o ar faltasse nos meus pulmões, não consigo respirar direito.
Corro em meio a multidão, já não me importando mais se esbarro com força ou piso no pé de alguém. Levo alguns xingos pelo caminho, mas isso, pouco me importa.
Felina sumiu, o amor da minha vida sumiu.
Volto para a mesa e logo meus amigos chegam um por um, com uma cara que exibe medo e preocupação.
— Eu falei com os seguranças na porta da frente e na lateral, ninguém a viu sair daqui. - a voz de Bow custa a sair.
— Ela não está no bar. - diz Serena.
— Nem na pista, perguntei para várias pessoas e ninguém parece ter visto ela. - Glimmer diz e meu corpo tomba para trás, meus amigos me ajudam a sentar na cadeira. Apoio meus cotovelos nas coxas e coloco as mãos sobre o rosto, escondendo as lágrimas que escorrem pelas minhas bochechas.
Agarro meu couro cabeludo e tombo a cabeça para trás, dando um grito, o que acaba chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.
— Merda, como ninguém viu ela? Ninguém some assim, do nada. - não consigo controlar a raiva que estou de mim mesma e dou um soco na mesa com uma das mãos, fazendo balançar as garrafas vazias que estavam ali. — Porra, eu não deveria ter deixado ela sozinha, eu deixei isso acontecer.
— Ei, para, tá bom? A culpa não é sua. - Bow me abraça e eu escondo meu rosto em seus ombros, chorando. — Você não é responsável por isso, nós vamos achar a Felina. - meu melhor amigo passa as mãos nas minhas costas, tentando me acalmar. Tento controlar minha respiração, mas meus pulmões doem a cada suspiro.
Então, num pensamento rápido, decido ligar para Mara. Isso só pode ter sido obra de uma pessoa.
Eu não posso perdê-la, e vou fazer tudo que eu puder para achá-la.
Custe o que custar.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━A boate logo se esvazia com a chegada dos carros da polícia, sobrando apenas os funcionários que estavam de expediente, eu, Glimmer, Bow, Serena, Hawk e Perfuma.
Uma parte dos policiais interroga as pessoas que estão do lado de fora, outra parte interroga as que sobraram do lado de dentro (eu e meus amigos inclusos) e, a última parte, colhe provas e impressões digitais.
— Adora. - Mara me chama para um canto isolado perto do balcão do bar e eu caminho até ela com as mãos no bolso. — Conversei com algumas pessoas lá fora, apenas duas parecem ter visto o que aconteceu de fato. - escuto com atenção, não quero deixar nenhum detalhe passar nessa história. — Disseram que a viram saindo do banheiro e ser abordada por alguém alto e magro, com cabelos longos e pretos, aparentemente mulher.
Eu não consigo pensar em mais ninguém que faria isso se não em Sombria. Ela vem ligando e atormentando Felina há meses sem pausa, dizendo que estava de olho nela. Dizia que se ela não cooperasse por bem, iria cooperar por mal, e que a qualquer momento algo poderia acontecer com ela.
Felina se negou por várias vezes a se render ao jogo psicológico de sua mãe, se manteve forte o tempo todo, por mais que falar com aquela mulher a machucasse.
Eu prometi que a protegeria, prometi que não deixaria nada acontecer com ela e jurei que cuidaria dela não importasse as circunstâncias.
E eu falhei.
Mas não vou deixá-la, não posso.
Não sei o que podem fazer com ela, não sei se vão tortura-lá ou pior. Felina é teimosa e implacável, não escuta e não obedece ordens e, não importa o que façam, ela não vai se entregar e nem vai entregar o que Sombria quer.
— Olharam as câmeras de segurança?
— Estamos checando isso e mandando as impressões digitais para análise, ficarão prontas o mais rápido possível. - Mara coloca uma mão sobre meu ombro e segura meu rosto com a outra, acariciando minha bochecha. — Vai pra casa.
— O que? Não! - como posso ir pra casa com tudo isso que está acontecendo? Se algo acontecer com ela eu nunca vou me perdoar.
— Você precisa descansar, Adora. Por favor, é só o que eu te peço. - suspiro, derrotada. Aceno positivamente com a cabeça. Sei que, acima de tudo, Mara se preocupa muito comigo e quer que eu fique bem. Ela sabe que já estou muito abalada com a morte dos meus pais e não sei o que mais uma perda faria comigo. — Eu te ligo quando tiver qualquer informação nova sobre isso, tá bem? Vai dar tudo certo, eu te amo.
— Eu também te amo. - ela dá um beijo em minha testa e me abraça, afagando minhas costas. Então me viro para o lado e caminho em direção a saída da boate, tomando o caminho de casa.
Não estou em condições de pegar em um volante, por isso, peço para Bow me levar até em casa e passar a noite lá se quiser.
Não quero ficar sozinha, sei que essa noite não vou dormir.
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Hands All Over | Catradora
FanficEm que Adora é uma garota que após a morte dos pais e um ensino complicado, recentemente se muda para a cidade de Lua Clara para iniciar seu curso de educação física na faculdade e buscar independência fora da casa de sua tia Mara. Tudo seria perfei...