✦Vinte e Quatro✦

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ADORA

Eu, definitivamente, não estou entendendo nada.

Só olhei pro lado e vi Felina abraçada com Ray, os dois ajoelhados no chão e chorando.

Me questiono se ele não havia feito algo com ela, mas não parece ser o caso. Felina não estaria abraçada com alguém que fez algo ruim com ela, se fosse o caso, a cara dele estaria toda arranhada ou algo do tipo.

Eu não sei como a situação chegou nesse ponto ou porquê os dois estão soluçando mas, de qualquer maneira, parece algo sério e importante. Afinal, se tem uma coisa que Felina detesta, é chorar. Ou demonstrar qualquer tipo de fraqueza que seja.

Se ela se permitiu fazer isso, ainda mais em um lugar público, então não é uma situação comum.

Eu sei que ela vai me contar o que aconteceu se estiver sentir pronta, então, com bom senso na cabeça e uma dose de constrangimento, saio de fininho e vou pra rua, ainda confusa.

O sol ofusca minha visão por um momento e demoro alguns segundos para conseguir enxergar a rua com clareza.

Olho ao redor e decido andar um pouco por aí.

Admiro o CD em minhas mãos, grata a Ray por ter me dado ele. Ray parece ser um homem sensível, apesar de ser um homem fisicamente grande pra idade que ele aparenta ter.

Acho que pessoas grandes com aspecto de uma geladeira tendem a ser mais bestas que o normal, digo de caso próprio.

Ao olhar o CD, não consigo não lembrar da minha mãe. Não tenho muitas coisas dela, quer dizer, além do rosto extremamente parecido.

Minha mãe era uma pessoa discreta, não gostava de comprar muitas coisas e vivia bem com básico, diferentemente do meu pai. Meu pai não gostava de esbanjar dinheiro, mas gastava mais que o que devia com o carro e coisas de esportes.

Foi dele quer herdei minha paixão pelos esportes e pelo meu time de basquete do coração, Chicago Bulls.

Na verdade, eu puxei quase tudo dele, desde o jeito de andar até o jeito que eu levanto as sobrancelhas. Minha mãe até brincava com isso, falando que me carregou nove meses na barriga pra no fim eu ser meu pai "cagada e cuspida", como ela gostava de dizer.

Talvez Adam seja mais parecido com ela.

Andando por aproximadamente dois minutos, chego até uma pequena quadra aberta no meio de uma praça.

O lugar está movimentado, olhando ao redor posso ver algumas crianças andando de bicicleta e patins, adultos fazendo exercícios naqueles aparelhos públicos e idosos jogando dama nas mesinhas embaixo das árvores.

Há uma pequena arquibancada pintada de azul em volta das grades da quadra.

Lá dentro, há dois times jogando uma partida de basquete, um com uniforme vermelho e outro com uniforme amarelo.

Ao olhar para cima avisto o placar e vejo que está 55x54 para o time vermelho. Um ótimo placar, devo dizer.

Decido me sentar na arquibancada e assistir ao jogo, não tenho nada para fazer em casa e quero me manter por perto caso Felina precise de mim. Além disso, não vou deixá-la voltar pra casa sozinha.

Gosto de protegê-la, por mais que eu saiba que ela não precise.

Ela parece ter muitas coisas para conversar com Ray, visto a situação que presenciei. Parecia um momento único e íntimo, de forma alguma eu gostaria de atrapalhar isso. Mas também não largaria ela aqui sozinha.

Tiro os fones embolados do bolso do meu amado short vermelho e os coloco no ouvido, colocando a música Blinding Lights para tocar enquanto assisto o jogo.

Hands All Over | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora