FELINA
Eu sinto falta do meu pai.
Nunca pensei que depois de tantos anos ainda sentiria falta dele como se fosse ontem que ele tivesse sido tirado de mim.
Por um lado, me sinto abandonada e, por outro, sei que ele fez o que fez por mim. Posso tentar o quanto eu quiser, jamais vou conseguir esquecê-lo e nunca vou conseguir perdoar quem me arrancou a pessoa que eu mais amava.
Há pessoas que só conseguem se sentir bem e em paz depois de perdoar as pessoas, mas eu não. Odiar as pessoas para mim é quase um hobbie, como meu combustível diário.
Saio da cama e me sento na janela, dobrando uma das pernas e a deixando próxima ao meu tronco enquanto a outra está esticada para fora do quarto. A brisa gelada arrepia os pelos do meu rosto e faz balançar os piercings nas minhas orelhas, me lembrando de voltar para a realidade.
Penso em Ray, aquele magicat estranho que deixou seu pingente de sol - mais pra um meio sol - cair. Gostaria de devolvê-lo um dia, mas não sei se chegarei a vê-lo de novo e, mesmo se o visse, não sei como é seu rosto.
Ray me trás uma sensação extremamente familiar, sinto como se o conhecesse. Ele me lembra meu pai, de certo modo, gostaria muito que fosse.Não preguei os olhos a noite pensando nesse estranho encontro.
Giro o objeto brilhante e dourado entre meus dedos, tilintando com minhas garras sobre sua superfície metálica. O sol encontra minha janela, me fazendo chiar quando seus raios batem de repente no meu rosto. O pingente brilha ainda mais.
Mas, quando o sol bate no objeto, consigo ver que há algo escrito. Inclino o pingente em direção à luz para conseguir entender as palavras.
Al
Vol
ProOkay, isso não faz o menor sentido.
Solto o ar com força pelo nariz, relaxo os ombros e fecho os olhos, apoiando a cabeça na lateral da janela. Nem sabia que estava tão tensa assim, acho que estou pegando influências da Adora e desaprendendo a relaxar como uma pessoa normal.
Mas, confesso que nos últimos dias eu não tenho estado em paz, com as coisas envolvendo a Sombria e tudo mais. Me sinto há anos atrás, como uma adolescente não sabendo lidar com os problemas que a vida me trouxe. Nesse tempo comecei a sair, beber e usar todo tipo de coisa, muito mais do que meu corpo podia aguentar. Não quero voltar a ser aquela garota, mas as vezes me pego pensando muito sobre tudo.
Me sinto uma idiota, sentimentos são idiotas.
Preciso esquecer, mas não sei se quero. Acho que vou ser sempre ser um reflexo do que já fui.
— Ei... - ouço a porta ranger e abro os olhos, vendo uma Adora com um prato nas mãos, com um pedaço de pizza em cima. — Você tá aí faz tanto tempo, não comeu nada a tarde toda. - acho engraçado o jeito que ela se preocupa comigo, mesmo sabendo que ainda estou brava com ela. Ela deixa o prato em cima da cama e se vira.
— Espera. - a chamo antes que ela saia do quarto. Tiro o pedaço de pizza de cima do prato, colocando o objeto de volta na cama e ficando apenas com o alimento em minhas mãos. Não preciso dizer muito, Adora caminha até mim e fica em minha frente, curvando seu corpo para frente e apoiando os cotovelos no parapeito da janela. Ela olha a paisagem com atenção, como se estivesse apreciando aquela vista pela primeira vez na vida. Gosto de olhar para ela e reparar nos detalhes, como o jeito que o sol bate e ilumina os poucos e finos pelinhos loiros que ela tem no rosto e o jeito que ela entrelaça fortemente seus dedos um no outro, como se precisasse se lembrar constantemente de que está ali.
— O que é isso? - ela diz ao ver o pingente reluzir entre meus dedos. O entrego em suas mãos e ela analisa. — É lindo, deve valer muito.
— E como você sabe? - cruzo os braços.
— Quando se é pobre, dá pra reconhecer coisas que nosso dinheiro não paga há quilômetros. - ela ri e me devolve o pingente. — Poderia fazer um colar com ele.
— Você faz joias?
— Bom, eu não. Mas eu pai era um talentoso joalheiro. - ela joga alguns fios que estão sobre seu rosto para trás. — Ficaria lindo, igual a você. - Adora me encara com uma cara de besta e eu reviro os olhos, deixando um riso escapar.
— Você bajula todas desse jeito?
— Se todas forem você, talvez. - sinto minhas bochechas esquentarem e ela repara, escondendo o sorriso com a mão. É impressionante o jeito que só ela consegue me deixar sem jeito, me sinto como se tivesse 14 anos e estivesse flertando pela primeira vez com uma garota.
Isso é tão gay.
— Idiota. - dou um tapa de leve em seu braço e ela coloca a mão por cima da pele, fingindo que eu a havia machucado. Um tapa meu não faz nem cócegas numa mulher do tamanho dela.
Ficamos em silêncio por um período, vendo o sol se pôr atrás dos prédios. A brisa é leve, refrescante, e a meia luz do entardecer deixa tudo mais bonito.
— Ah, esqueci uma coisa. - ela mexe no bolso da calça legging e tira um objeto de dentro dele. — Fui lavar a roupa e achei isso no bolso do seu short de basquete. - Adora me entrega meu colar dourado com pingente de lua na ponta. Estava louca procurando por ele, é um dos meus bens mais preciosos. — Combina com seu novo pingente de sol.
Coloco os dois lado a lado, percebendo que se encaixam perfeitamente, como duas peças de um mesmo quebra cabeças. Então, o último raio de luz do fim de tarde bate sobre a janela, fazendo reluzir os objetos dourados em minhas mãos, consigo ler algo.
Alis
Volat
Propriis.
(Voe com
Tuas próprias
Asas.)É claro, como não percebi?
A lua e o sol, independentes e belos separados. Mas melhores ainda juntos.
Parceiros, mas que voam com as próprias asas.
O sol é a parte que falta do meu colar de lua.
O sol é a parte do colar do meu pai.
Meu corpo inteiro treme.
— Você está bem? - Adora vem para perto de mim, preocupada.
— Acho que nunca estive melhor.
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SALVEEE CACHORROS DO MANGUE.
gente eu sei que demorou e que ficou meio curto e meio bosta esse capítulo, mas não me matem por favor. Estou num momento meio bosta, criativamente falando, então estou com vários bloqueios criativos. Perdoem se os capítulos demorarem mais pra sair, mas estou tentando meu melhor <3
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, e quero agradecer demais pelos 18K de leituras meudeus.
Vcs gostam msm dessa fic? Achei que era meme
KSKSKSK mentira gente, amo vcs
Como é de lei, uma fanartzinha aqui né.
Então, por hoje é só, até o próximo capítulo
Catradora is canon.
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Hands All Over | Catradora
FanfictionEm que Adora é uma garota que após a morte dos pais e um ensino complicado, recentemente se muda para a cidade de Lua Clara para iniciar seu curso de educação física na faculdade e buscar independência fora da casa de sua tia Mara. Tudo seria perfei...