ADORA
O dia hoje está um pouco mais cansativo que o normal.
Depois das aulas acabei entregando a chave do meu precioso carro para Bow levar para a oficina e fazer uns reparos de rotina nele. Meu melhor amigo é única pessoa a qual eu confio entregar o meu bebê, sei que ele é responsável e não vai fazer nada que eu não faria.
Acabei por ir de long board para o trabalho, o que não é de tudo ruim. É bom sentir o vento batendo no rosto pra variar.
As crianças estão mais agitadas que o normal, devem ter ficado ociosas o final de semana inteiro querendo gastar as energias, acho que nunca queimei tantas calorias fora do treino. No fim, estou sentada no banco respirando ofegante enquanto aguardo os pais virem buscar suas crianças.
Keith está sentado ao meu lado, como sempre. Ele diz que não gosta que eu fique sozinha, o melhor irmão mais novo que eu poderia ter.
Meu celular vibra ao meu lado e a tela se ascende, revelando o número de Adam. Estranho um pouco pois, se tem uma coisa que ele não gosta, essa coisa é falar no telefone.
— Alô? - digo ao encostar o celular no ouvido.
— Oi, Adora. O Keith tá aí com você né? - Adam ingada, ofegante. Parece estar correndo ou com pressa enquanto fala comigo. Olho para Keith, que me olha de volta com as sobrancelhas franzida.
— Está sim.
— Ótimo, eu posso te pedir um favor? Você pode ficar tomando conta dele por um tempo? Eu tenho algumas coisas muito importantes pra resolver e não posso esperar, meus pais estão no trabalho e não podem buscá-lo. Eu sei que tá em cima da hora e entendo se você não pud- o corto imediatamente.
— Ei, calma, claro que fico com ele. Vai resolver seus b.o. - dou uma risada, não seria esforço nenhum ficar com Keith por umas horas, pelo contrário, é até bom para eu conhecê-lo melhor.
— Valeu, sério. Depois você me passa o endereço e prometo que busco ele antes das 18:00. - ele se alivia e desliga a ligação, Keith se vira para mim.
— Era o Adam? - ele pergunta, confuso.
— Era sim, ele tem umas coisas urgentes pra resolver e pediu pra eu ficar com você um pouquinho. - me agacho na frente dele e Keith sorri, mostrando sua recém janelinha em seus dentes.
— Legal! - ele diz animado, mas de repente sua expressão alegre se transforma e ele fica cabisbaixo, seu sorriso de desmancha aos poucos. — Ele não esqueceu de mim, né?
Meu coração se derrete ao ouvir essa frase, sei o quanto ele é traumatizado.
Adam me contou como Keith foi adotado. Ele foi ao mercado com a mãe biológica e ela pediu para que ele a esperasse em frente ao guarda volumes enquanto ela fazia as compras.
E ele ficou lá, esperando, mas ela nunca voltou para buscá-lo.
Keith ficou dias, semanas, perambulando pela região e chamando pela mãe. Até que a mãe de Adam, de coração partido, decidiu adotar o menino que aparecia todo dia no mercado em que ela trabalhava, na esperança de que sua mãe biológica voltasse para buscá-lo.
Hoje, ele é feliz e tem uma vida ótima, mas não há como negar os traumas de abandono que o pequeno carrega.
— Ei, ele não esqueceu, okay? Ele só foi resolver umas coisas. - levanto o rosto de Keith e dou um sorriso sem mostrar os dentes, afastando os cabelos caídos no rosto do menino.
— Você promete? - ele segura minha mão e me olha fundo nos olhos.
— Eu prometo.
Então, Keith se alivia e volta a sorrir. Nunca iria entender como alguém pode fazer mal a um garoto tão bom e doce como ele.
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Hands All Over | Catradora
FanfictionEm que Adora é uma garota que após a morte dos pais e um ensino complicado, recentemente se muda para a cidade de Lua Clara para iniciar seu curso de educação física na faculdade e buscar independência fora da casa de sua tia Mara. Tudo seria perfei...