Hands All Over | Catradora

✦Trinta e Seis✦

ADAM

Coloco uma camisa azul por cima da minha camiseta branca. Ajeito meus tênis e olho rapidamente o meu reflexo no espelho.

Tenho evitado me olhar no espelho de uns tempos pra cá, não consigo me olhar sem lembrar de Adora. Eu a vejo quando me olho, e tudo que aconteceu vem à tona mais uma vez nos meus pensamentos.

Dou um suspiro.

Vai ser a primeira vez que vou no hospital depois do que houve, precisava de um tempo antes de encarar Adora deitada naquela maca de hospital. Ainda não sei se estou completamente preparado para isso, mas ela é minha irmã e eu quero estar com ela nesse momento.

Já ficamos longe por tempo demais.

- Adam? - ouço uma voz baixa e fina. Olho para a porta e vejo o rosto de Keith entrando pela festa, me olhando dentro do quarto. Ele abre a porta devagar, segurando sua inseparável pelúcia do homem aranha.

Dou um sorriso, faço um sinal para que ele entre e me sento na cama, curvando o corpo para frente e apoiando os braços nas minhas coxas. Keith chega perto de mim com um olhar triste e cabisbaixo. Sei o que aconteceu com Adora afetou muito ele, tanto quanto me afetou. Afinal, mesmo não sendo do mesmo sangue, ela ainda é irmã dele.

- Ei, maninho. - digo suavemente e ele abraça a pelúcia contra seu peito.

- Você vai ir ver a Adora? - ele pergunta e eu aceno positivamente com a cabeça. - Eu posso ir? - seu questionamento me pega de surpresa.

- Keith...

- Por favor, eu... Sinto saudade dela. - ele abaixa a cabeça mas, mesmo assim, consigo ver uma lágrima singela escorrer pela bochecha do meu irmãozinho. O puxo para perto e o abraço, dando um beijo em sua cabeça.

- Claro que pode, Keith. - não posso negar isso, é direito dele tanto quanto meu. Ele sorri.

Digo para nossos pais que vou levá-lo e eles concordam, mas acham melhor ir junto por segurança. Não acham prudente eu dirigir no estado em que estou, e eles estão certos.

Eles nunca tiveram a chance de conhecê-la pessoalmente, mas sei que já a amam e a respeitam como um membro da família. Espero que um dia tenha a chance de trazê-la, espero ter a chance de vê-la abrir os olhos outra vez.

Terminamos de nos arrumar e entramos no carro, a caminho do hospital.

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Encaro as paredes brancas enquanto estou sentado na sala de espera.

Meus pés batucam no chão em movimentos ritmados e minhas pernas tremem. Estou nervoso, inquieto.

Meu pai coloca a mão sobre meu ombro e sorri sem mostrar os dentes. Rio pelo nariz e coloco minha mão por cima da dele.

Meus pais têm sido minha base, meu alicerce e meu caminho. Eu não sei como teria sido a minha vida se eu não tivesse cruzado com eles e, talvez, não tivesse reencontrado minha família biológica.

Eu nunca os abandonaria, por mais que eu tenha encontrado minha outra família. Eles me acolheram e me criaram, sou filho deles e nunca vou deixar de ser. Eu os amo muito, e vou amar para sempre.

Eu, que antes era órfão vivendo em meio ao tráfico, agora faço parte de duas famílias maravilhosas.

E nada me faz mais feliz.

- Adam e Keith First One? - uma enfermeira nos chama. Sua pele é negra e ela tem olhos azuis mais claros que os meus. Consigo ler Light Hope escrito em seu crachá.