✦Dezoito✦

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FELINA

Já são 8 da noite. Estou com o notebook em meu colo terminando uma apresentação de slides para semana que vem, enquanto tomo uma xícara de café. Meu olhos estão cansados e com algumas olheiras, mas consigo lidar com isso passando um tal de corretivo. Meus conhecimentos de maquiagem se resumem aos que Scorpia me ensina.

Me enrolo mais no cobertor ao sentir os pelos da minha cauda se eriçarem. Eu e o frio não somos muito chegados.

O clima em Etéria é meio irregular e confuso.

O vapor saindo da xícara cora minhas bochechas, aquecendo meu rosto gelado por conta do frio. Meu nariz coça um pouco por conta do calor, me fazendo espirrar vez ou outra. Típico nariz de gato.

Ouço a porta da frente abrir. Coloco a xícara na cômoda ao lado da cama e inclino meu corpo para frente, tentanto ver alguma coisa pela fresta da porta do meu quarto.
Observo Adora passar correndo. Me levanto e me encosto no batente, fazendo o possível para que ela não me veja.

Adora entra em seu quarto com pressa, largando algumas coisas lá dentro, pegando uma pasta vermelha e saindo outra vez.

As últimas semanas têm sido assim. Ela sai de casa sempre, sem hora para voltar e sempre está com pressa.

As coisas tem estado diferentes desde aquele dia em que ela saiu de casa do nada e voltou com uma mala. As coisas com ela são sempre estranhas pra caralho, às vezes não consigo entendê-la.

Empurro a porta e olho os dois lados do corredor, me certificando de que Adora realmente não está no apartamento. Entro no quarto dela, sentindo Melog passar pelos meus pés e subir na cama.
Reviro tudo que posso no quarto, abro as gavetas, procuro em baixo da cama, dentro do guarda-roupas. Nada.

— Qual é, Felina, pensa. Adora não é boa escondendo coisas. - sento na cama e massageio minhas têmporas, tentanto pensar melhor. — Qual o lugar mais óbvio e previsível que alguém poderia esconder algo? - de repente uma luz surge sobre a minha cabeça, olho para cima do guarda-roupas e lá está: uma linda caixa preta.

Mas, como eu vou alcançar lá em cima? Porra, por que ela tem que ser tão alta?

Então, Melog lê meus pensamentos. Com suas habilidades de gato ele consegue subir até lá e empurra a caixa com a pata.

Ele desce e fica ao meu lado na cama, esfregando a cabeça na minha coxa enquanto ronrona. O faço um pouco de carinho, o que eu faria sem ele?

Abro a caixa com cuidado, parece ser um material delicado e frágil.

Há algumas fotos dentro, entre ultrassons e etc. Depois de tirar todas as imagens de dentro da caixa, acho um pen drive vermelho, um celular, um negócio pequeno e redondo que não sei dizer bem o que é e... Uma arma. Uma pistola, mais precisamente. É uma coonan simples, de calibre 357 magnum, meu pai tinha uma igual e foi com ela que eu aprendi a atirar. Examino o objeto minuciosamente, pra quê Adora tem uma arma? Ela sabe atirar?

Do jeito que ela é estabanada, tenho medo de ela acabar atirando no próprio pé ou matar alguém por acidente.

Parece que é mais sério do que pensei, tenho medo do buraco que ela pode estar se metendo e dos problemas que ela pode estar tendo.

Sinto um arrepio subir pelas minhas costas.

Guardo a arma e todos os objetos dentro da caixa, menos o pedaço de metal redondo.

Num pulo, coloco a caixa de volta em cima do guarda-roupas.

Pego um moletom qualquer dentro do meu quarto e coloco o pequeno objeto metálico no bolso, preciso saber o que isso é se quiser saber em que tipo de merda essa maluca se envolveu agora. Não a imagino usando uma arma ou ferindo alguém de nenhuma forma, nem mesmo com as próprias mãos. Para ela estar envolvida em algo assim, tem um bom motivo e eu vou descobrir qual é.

Hands All Over | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora