Hands All Over | Catradora

✦Doze✦

ADORA

Voltei ao apartamento cheia de sacolas nos braços, com alguns poucos pacotes de doces, bebidas alcoólicas e um refrigerante. Deixo tudo em cima da bancada enquanto Felina liga para a pizzaria, pedindo duas pizzas grandes. Uma delas era para eu comer sozinha, obviamente. Acho que vou ter que me exercitar o dobro para perder o tanto de calorias que venho ganhando nos últimos tempos. Meu corpo continua atlético, mas meu colesterol grita.

— Que filme você escolheu? - pergunto assim que Felina acaba a ligação.

— Bastardos Inglórios.

Esperamos uns 20 minutos até as pizzas chegarem. Esticamos o assento do sofá (que é um sofá cama, acho que é a coisa mais luxuosa que tem nessa casa) e nos acomodamos, pegando as caixas de pizza, as bebidas e as besteiras, colocando tudo em nossa volta.

Demos play no filme.

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— Que agonia. - digo quando o cara interpretado pelo Brad Pitt faz o símbolo da suástica com uma faca na testa de um nazista.

— É emocionante, pior do que o cara do taco de Baseball. - Felina se contorce no sofá, se aproximando mais de mim. — Nada mais prazeroso do que ver nazista tomando no cu. - sou obrigada a concordar.

Presto atenção no filme, me considero uma amante do cinema, admiro muito artistas apesar de não ter talento para ser uma.

Por isso admiro Felina, por isso e por tantas outras coisas.

Sinto os pelos do braço dela roçarem no meu, me fazendo arrepiar de leve. Significa que ela está perto. Vou um pouco para o lado, acabando com o pouco espaço que havia entre nós duas. Nos olhamos de relance e a vejo dar um sorriso discreto.

Voltamos a prestar atenção no filme.

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FELINA

É engraçado ver Adora concentrada em algo. Ela franze a testa e junta as sobrancelhas sempre que está focada, isso acontece quando ela soca o saco de pancadas, quando joga basquete e agora, assistindo um filme sobre matar nazistas. De repente, num movimento rápido, Adora se estica e deita nas minhas coxas, abraçando minha cintura. Acho que isso vai começar a se tornar algo recorrente. Faço carinho em seus cabelos.

Meu celular vibra de novo, pela 5 vez só hoje.

É o mesmo número do dia do quase beijo. Resolvo atender de uma vez.

— Alô? - Adora tira o olhar da televisão e olha para mim.

— Oi, filha. - desligo a chamada. Tiro a cabeça de Adora do meu colo, correndo para meu quarto e fechando a porta com força. Sento na cama, quase chorando. Minha respiração acelera, meu coração palpita. Um filme passa na minha cabeça e eu não posso evitar de agarrar meu couro cabeludo e puxar meus cabelos com força. Adquiri esse comportamento depois que meu pai morreu, depois que passava pelos maus tratos de Sombria. Eu me sentia sozinha, abandonada. Me machucar me ajudava a ignorar e esquecer os meus problemas por um tempo. Me concentrar na dor me ajudava a tirar o foco de tudo aquilo.

Esquecer os meus demônios.

Ouço os passos de Adora do outro lado da porta.

— Felina? Você está bem? - não respondo. Ela abre a porta. — Felin-