✦Trinta✦

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ADORA

Bow e eu ficamos a noite inteira acordados.

Meus pensamentos não me deixaram pregar os olhos nem ao menos por um segundo que fosse, e Melog também não conseguiu dormir.

Passou a noite toda sentado na porta, esperando Felina chegar.

Meu melhor amigo decidiu ficar aqui comigo durante toda essa situação, pois sabe que, se depender de mim, eu não vou dormir, nem comer, nem viver. 

Bow é como um irmão pra mim, sempre me cuidando e ficando comigo nos piores e melhores momentos da minha vida e, eu sei que, mesmo quando eu me afasto, ele sempre está lá quando eu preciso. Ele nunca desistiu de mim.

Eu, sinceramente, não sei o que faria sem ele.

Não há um minuto sequer em que eu não pense em Felina, em como ela está e o que devem estar fazendo com ela.

Mais uma vez eu perdi alguém que eu amo e, mais uma vez, a culpa disso é minha.

Eu não pude salvar meus pais, mas irei salvá-la, não importa como.

Eu prometi que cuidaria dela e que nada de ruim poderia acontecer enquanto estivéssemos juntas, e eu vou cumprir essa promessa.

Nem que isso me mate.

Já é noite quando percebo e meu amigo está na frente do fogão usando um avental vermelho, cozinhando algo que eu não sei o que é. Não tenho forças para fazer nada e tenho medo de acabar me distraindo em meus pensamentos enquanto cozinho, podendo causar algum acidente.

Sendo sincera, me sinto uma inútil completa, uma inválida. Sei que Bow não tem obrigação nenhuma de fazer as coisas pra mim e que ele não tem culpa de eu estar tão incapacitada de fazer as coisas mais simples, mas eu simplesmente não consigo.

Queria poder ser forte nesse momento, mas não dá.

Me sinto uma merda, um peso morto.

— Tá pronto. - Bow diz, tirando o avental. Eu me sento em uma das cadeiras em frente a mesa e o moreno coloca um prato com comida na minha frente. É bem menos comida do que eu estou acostumada, mas eu simplesmente não sinto fome, não consigo comer direito. — Tenta comer um pouco, tá bem? - aceno positivamente com a cabeça, pegando os talheres que estão ao lado do prato. — Eu te amo.

— Eu também te amo. - Com muito esforço, consigo comer toda a comida que estava no meu prato. Foi difícil e demorado, mas consegui. Só espero não botar tudo pra fora depois. — Bow, eu vou dar uma saída.

— Tem certeza? - ele se preocupa.

— Eu preciso clarear as ideias um pouco, mas não vou demorar, prometo.

— Tudo bem, mas não faça nada que eu não faria.

Pego minha jaqueta vermelha, minha carteira e as chaves do apartamento, saindo com pressa e batendo a porta com mais força do que eu esperava.

Desço as escadas devagar. Por não estar comendo direito não consigo fazer muito esforço ou correr muito rápido.

Ao chegar na portaria, aceno para Charles, que percebe meu olhar abatido e as olheiras fundas abaixo dos meus olhos. Pergunta se está tudo bem e eu digo que não, não posso mentir pra ele.

Não estou bem, mas espero ficar.

Me esgueiro pelas sombras da noite, sentindo o frio soturno e implacável passar pelo meus rosto como lâminas afiadas. Minha boca está rachada e minhas mãos estão tremendo, mas tenho que fazer isso pelo menos uma última vez.

Hands All Over | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora