✦Vinte✦

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ADORA

Sento no chão da quadra, apoiando minhas costas na parede.

Acabei meu expediente, as crianças estão elétricas e demonstram mais talento a cada dia que passa. Confesso que estou moída, exausta, meu corpo quase não se sustenta por si só. Sinto que fui atropelada por uma manada de elefantes. Não só por conta das aulas de basquete, mas por tudo que anda acontecendo.

Mas, todo meu cansaço acaba ficando em segundo plano quando penso que estou fazendo isso tudo por Felina. Quero que ela siga a vida dela, sem empecilhos.

E aí, quem sabe, ela consiga me ensinar a seguir em frente com a minha.

Porém, estou tão concentrada em tudo que anda acontecendo nos últimos dias, que estou a deixando de lado. As aulas de tiro, as idas a Zona do Medo, tudo. Sei que tenho sido uma grande merda com ela e preciso concertar isso.

— Tia Adora. - ouço a voz doce e inocente de Keith, que se senta em minha frente e agarra minha perna que está dobrada contra meu corpo, apoiando o queixo sobre o meu joelho. — Você tá triste? - ele junta as sobrancelhas.

— Oi, Keith. Não estou não, só estou pensando.

— Aconteceu alguma coisa com a sua namorada? - como esse menino consegue acertar tão em cheio nas coisas? É muito inteligente para uma criança de 10 anos. — Meu irmão faz essa cara também quando briga com o namorado dele, o Shiro. - dou uma risada baixa.

— É, a gente discutiu um pouquinho. - faço um gesto com os dedos, enfatizando o "pouquinho"

— Então, por que você não compra um presente pra ela? Todo mundo gosta de presentes, presentes são legais. - Keith diz, inocente. Mas, ele tem razão, um presente pode funcionar.

A que ponto cheguei, uma criança de 10 anos me dando conselhos amorosos.

— É, esse é um bom conselho. - bagunço os cabelos dele e ele sorri.

— Importunando a pobre Adora outra vez, Keith? - Adam surge no portão da quadra, vindo até nós. O garoto corre para abraçar o irmão mais velho, pulando em seu colo. — Ele tá te incomodando?

— Nunca, eu amo esse menino. - Keith sorri ao me ouvir dizer isso. Mas, é verdade, tenho um grande apego pelo garoto, ele é como o irmão mais novo que eu nunca tive.

— A Adora brigou com a namorada dela. - ele me dedura e Adam ri. Coloco uma mão sobre o rosto. Pelo visto, ele conta tudo que acontece para o irmão. — Acho que ela tem que comprar um presente pra Felina.

— Se eu soubesse o que comprar. - tenho que admitir, dar presentes não é o meu forte.

— Quem sabe eu possa te ajudar, sou o rei dos presentes. - Adam se gaba. — O que acha, Keith?

— Eu topo, se você me pagar um sorvete. - os dois param e me olham.

Penso um pouco.

— O que eu tenho a perder? Vamos. - Saímos da quadra, indo em direção ao centro comercial da cidade que fica há uns 5 minutos a pé daqui.

Converso muito com Adam pelo caminho e percebo que, por mais que sejamos iguais de aparência, nossas personalidades são completamente diferentes. Ele é tímido, centrado, prefere ficar nos cantos do que andar pelo meio da multidão. Usa roupas escuras na maioria das vezes e evita falar muito sobre si. Enquanto eu, bom, eu sou eu. Sou desajeitada, distraída, lerda, amo fazer piadas sem graça e me entrosar com gente estranha.

Estar com Adam sabendo que ele é meu irmão da uma sensação totalmente diferente no tempo que passamos juntos.

Ainda não contei. Por mais que pareça óbvio, o choque é sempre maior quando as coisas são esclarecidas.

Hands All Over | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora