ADORA
Está tudo branco.
Não há chão sob meus pés nem paredes ao meu redor, estou no meio de um grande vazio.
Grito, pensando se alguém poderia me ouvir, mas tudo que ouço é o eco da minha própria voz.
Não sei onde estou, e nem para onde ir.
Começo a andar, sem saber ao certo qual caminho seguir, afinal, não há nenhum. Estou perdida, perdida e sozinha nesse imenso nada que me cerca.
Não há nada sob mim e, ainda assim, meus pés fazem barulho conforme eu caminho, mas não os sinto. É como se eu tivesse perdido o tato.
Ouço um barulho e olho para trás, com medo, mas vejo somente uma porta.
Uma porta sozinha, no meio do nada.
Penso se devo ou não entrar por ela, mas não há outro caminho a se tomar. Não há nada mais aqui, além de mim e dessa porta. Decido entrar por ela.
Então, um clarão invade minha visão, me deixando cega por alguns segundos e fazendo minha cabeça doer de leve. Aperto os olhos e coloco a mão sobre o rosto, dando alguns passos para frente antes de abrir vagarosamente os olhos.
Minha casa.
Mas, está diferente.
Não está abandonada e cheia de poeira como da última vez que eu vim. Está tudo limpo e bem cuidado, as janelas estão abertas e um calor gostoso entra por elas. Sinto o sol sob mim, como se fizesse um carinho suave na minha pele, consigo voltar a sentir. As paredes não estão mofadas e nem com teias de aranha, pelo contrário, estão como novas, parecendo recém pintadas.
— Adora, você não vai vir comer? - essa voz, não pode ser. Os pelos do meu corpo se arrepiam por inteiro e consigo sentir uma onda de energia e calor percorrer todos os meus ossos. Sigo pelo corredor, lentamente, e paro em frente a porta da cozinha. — Fiz lasanha hoje, sua favorita. - ele vira para mim e sorri. Esses olhos inconfundíveis, o olhar mais acolhedor e verdadeiro do que qualquer palavra, qualquer poema. O sorriso de canto típico dele, as linhas ao redor dos olhos tão azuis como o céu e as covinhas ao rir. Pequenas coisas que eu nunca esqueci. Como poderia?
— Pai? - não consigo conter, perco o controle do meu corpo e, quando percebo, estou nos braços dele. Depois de tanto tempo, pude voltar a chorar dentro do abraço do homem que mais amo no mundo. Consegui ter de volta o que a vida tirou de mim. — Eu senti tanto a sua falta. - ele me abraça de volta. Não há nenhum lugar que eu queira estar sem ser aqui.
— Eu também quero participar desse abraço. - ainda com lágrimas nos olhos, olho para trás e vejo minha mãe, parada, sorrindo o sorriso mais bonito e com os olhos castanhos brilhando.
A abraço, abraço como se minha vida dependesse disso. Coloco meu rosto em seu ombro e ela coloca os dedos entre meus fios de cabelo, fazendo aquele cafuné que só ela sabe fazer. Levanto meu rosto, a encarando.
Ela segura meu rosto com as duas mãos, fecho os olhos e me permito sentir suas mãos macias secarem as lágrimas do meu rosto.
— Mãe... - toco sua mão por cima da minha face, não acredito que isso tudo esteja realmente acontecendo. Ela afasta alguns fios de cabelo que estão caídos sobre meus olhos, os colocando atrás das minhas orelhas e fazendo carinho na minha bochecha com as costas dos dedos.
— Você está tão bonita.
— Isso tudo é real? - eles acenam positivamente com a cabeça. — Como? - meus pais me convidam a sentar na mesa. Meu pai pega a travessa com a lasanha e deixa em cima da mesa, fazendo um gesto para que eu coma. Corto um pedaço e coloco no prato a minha frente, dando uma generosa garfada. Ainda tem o mesmo gosto delicioso de que eu me lembro, como se derretesse dentro da boca e minhas papilas gustativas entrassem em festa.
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Hands All Over | Catradora
FanficEm que Adora é uma garota que após a morte dos pais e um ensino complicado, recentemente se muda para a cidade de Lua Clara para iniciar seu curso de educação física na faculdade e buscar independência fora da casa de sua tia Mara. Tudo seria perfei...