✦Dezessete✦

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ADORA

— Nem pensar. - Mara cruza os braços e me encara do outro lado da mesa. — Não posso arriscar.

Agarro a parte de trás do meu pescoço com as duas mãos e respiro fundo, olhando levemente para cima.

— Mas o seu batalhão não pode ir, e a Felina também não pode. - Mara coloca as mãos dela sobre o meu rosto, me forçando a olhá-la. — Enquanto aquela mulher estiver solta por aí, a Felina corre perigo.

— É muito perigoso, Adora, você pode se ferir no processo ou pior.

— Você também. Por favor, tia.

— Por que você quer tanto fazer isso, Adora? - Mara olha no fundo dos meus olhos, não preciso pensar muito para responder.

— Você é minha única família, se acontecer alguma coisa com você nessa missão e eu não estiver lá eu nunca vou me perdoar. - deixo uma lágrima escorrer e ela a enxuga com o polegar. Acho que ela, mais do que qualquer pessoa, entende. — E eu não posso deixar nada acontecer com a Felina, eu prometi pra ela que ia ficar tudo bem. Por favor. - Mara suspira e da um sorriso.

— Você é tão cabeça dura, como seu pai também era. - lágrimas escorrem pelo seu rosto moreno, é a primeira vez que eu a vejo chorar desde tudo que aconteceu. — Tudo bem, mas você tem que me prometer que vai tomar cuidado. Eu te amo, Adora.

— Eu também te amo, tia. Obrigada. - enxugamos as lágrimas uma da outra. Saímos da mesa e vamos para a sala, onde meus amigos estão sentados.

— Olha eu não deveria estar fazendo isso, vai contra tudo que eu jurei ao entrar para a polícia e provavelmente vou ser expulsa do batalhão quando souberem. - Mara aperta o espaço entre os olhos com os dedos e suspira. — Mas, eu também jurei fazer o que fosse preciso pra proteger as pessoas, então, se vamos fazer isso, vamos fazer direito.


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Tivemos uma longa conversa com Mara. É tudo muito mais complicado do que eu pensei que fosse, mas não penso em desistir do que vou fazer. Quero estar nessa com Mara, não posso deixar ela fazer tudo isso sozinha, por mais que ela seja uma policial de elite e extremamente bem treinada. Sei de tudo que ela já passou e dos perigos que ela já enfrentou na vida de combate ao crime, mas isso é diferente de tudo. A Zona do Medo é um lugar perigoso e hostil, qualquer passo em falso é percebido.

Nada passa batido pelo Mestre da Horda.

Se eu disser que não estou nervosa, estaria mentindo. Apesar de tudo, não quero que nada de ruim aconteça com ninguém.

Não ligo se vou morrer, desde que o sangue das pessoas que eu amo não seja derramado.

— Aonde vai? - Mara pergunta ao me ver sair pela porta.

— Eu vou fazer uma visita lá, mas vai ser rápido. - ela assente com a cabeça e eu saio, deixando meus amigos na casa dela por um tempo.

Ando por mais ou menos 5 minutos, atravessando a madrugada gelada e implacável. O vento sopra forte, o sinto passar pelo meu rosto como lâminas afiadas. Minhas mãos doem com o frio, estão duras, como se estivessem congeladas. Tento as esquentar no bolso da jaqueta, o que resolve as coisas por um tempo.

Paro em frente a porta da casa, não venho aqui há meses.

É um sentimento estranho, estar de volta no lugar onde passei tantos momentos da vida, bons e ruins. Tenho tantas lembranças desse lugar, tantas histórias. Tudo parece mais fresco na minha memória agora que estou aqui.

Hands All Over | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora