Permeando o Luto

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Notas Iniciais: Boa leitura!! (:(

Na segunda manhã depois que receberam a notícia da morte de Lauren, um ar melancólico permeava pela cidade. A família nobre estava de luto, bem como os familiares das outras vítimas do acidente. Quem circulava pelas ruas, usava vestes pretas ou de tons mais escuros para mostrar seus sentimentos de perda e respeito. O clima também se adequava àquela circunstância soturna, o sol de final de verão era cada dia mais pálido, trazendo uma frieza atípica durante a alvorada.
No Palácio, a atmosfera era ainda mais lutuosa. Franz Grutzmann era só mais um dos que sofria com a perda. Além de carregar dor e arrependimento no coração, sentia-se um néscio por nunca ter revelado seus verdadeiros sentimentos a garota. Mas também de que adiantaria? Enquanto escovava os pelos do velho Pollux ele pensou sobre isso.
Apesar de vir nutrindo esse amor por anos, sabia muito bem que ele não era correspondido, jamais o seria.

Infeliz é o coração dos desafortunados que ousam amar quem nunca poderão ter... Grutzmann sentia-se como um desses miseráveis. Imerso em angústia.

Não muito diferente, a Duquesa não conseguia acreditar que, depois de tantos anos, estava vivenciando a perda de mais um filho. Aquele sentimento a consumia como um monstro feroz, dilacerando-a de dentro para fora. Ela mal havia conseguido comparecer nas cerimônias fúnebres que realizaram para Lauren nas propriedades do Palácio. Devido ao estado do cadáver, não se pôde realizar o velório com ele presente. Para ela, já era doloroso demais estar ao lado do corpo sem vida da garota, velar um caixão vazio tornava tudo ainda pior.

Quem também não participou das cerimônias foi Camila. Em vez de se juntar aos outros naquela triste atividade, ela e Alexander fizeram uma viagem longa a cavalo até Maidenhead. Apesar de completarem quase quatros dias que o acidente acontecera, as linhas continuavam obstruídas para a circulação de trens devido a tentativa de retirarem da ribanceira a carcaça do vagão que descarrilhou. Não seria um trabalho simples. Parada no meio da linha férrea, exatamente onde a metros abaixo o vagão explodido se encontrava, Camila pôde ter certeza daquilo. Era muito alto e íngreme, a descida também se tornava difícil por conta dos arbustos, - vários pedaços do vagão estavam espalhados pelas folhagens e o peso dele também não contribuiria em nada para a retirada.

No caminho, ela soube por Alex como os sobreviventes contaram que aconteceu. Uma pequena falha humana. Um descuido fútil que custara a vida de muitas pessoas. Foi uma tragédia sem precedentes.
Ainda sentada sobre os trilhos, Camila ficou de olhos fechados pensando se sua intuição estava mesmo correta ou se tentava apenas enganar a si mesma. O vento frígido daquela manhã nublada sibilou novamente, seus cabelos castanhos balançaram, sobressaltando-a. Abriu os olhos. Será que Lauren se fora mesmo?

A realidade dava indícios de que abateria sobre ela a qualquer instante, para assim prendê-la em suas garras geladas.

Enquanto observava a paisagem de um vilarejo a quilômetros de distância e mais nuvens cobrirem o sol, o mundo de Camila mergulhava na escuridão. Em sua mente, ela ia ao encontro da amada. Por um momento, no oásis de sua lembrança, Camila estava com ela. Como no sonho que Lauren descrevera em uma carta, mas diferente dele, agora não se tocavam em nenhum momento, fazendo o vazio espalhar-se em volta dela como um mar solitário. Não demorou muito para que as sombras incertas que andaram enevoando a mente da garota durante as últimas horas se consolidassem em um remorso quase palpável.

Antes de sair daquele lugar, olhou novamente para o abismo que a cercava por todos os lados, separando-a do último lugar em que Lauren esteve. Ele pareceu olhar de volta para ela, como um fantasma que a perseguiria pelo resto da vida.

Quando chegou a 'Toca, já era noite. Camila se sentia exausta, mas teve de escrever para Allyson uma carta com palavras sucintas contando tudo o que aconteceu. Dinah se encontrava abalada demais para se concentrar em qualquer coisa que envolvesse o nome da melhor amiga. Não era fácil informar a morte de uma pessoa através de um papel, ela não era experiente com isso. Principalmente para alguém que, recentemente, já havia perdido um ente querido. A garota precisou de vários pedaços de pergaminho até encontrar as palavras certas. Por fim, quando achou que conseguiu, selou a carta e guardou na cômoda para ser postada quando fosse até a cidade.

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