CAP. 5 - RECOMEÇAR

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22 DE JUNHO DE 2019

Aqui estou eu novamente me preparando para uma mudança radical. Quem é que recebe uma notícia de uma bomba e permanece no mesmo lugar? Eu vou embora daqui antes que tudo piore. Minha família não está tão unida como antes, depois que me formei e virei uma adulta responsável, minha irmã sumiu do mapa e meus pais sentiram a partida dela. Recentemente eu perdi minha prima e meu primo, ela morreu em um acidente de carro, e ele, bem, ele não aguentou a perda e cometeu suicídio. Seria doideira dizer que eu sabia que isso ia acontecer? Seria muita falta de noção dizer que eu senti a morte dos dois e não falei nada? Já assistiram Teen Wolf? Sim, a série com Dylan O'brien, eu acho que sou uma banshee da vida real.

Eu estou ansiosa para fugir de tudo aqui, fugir para bem longe e recomeçar a minha vida. As condições financeiras dos meus pais não estão lá essas coisas e eu estou agindo assim pensando neles. As coisas lá fora deverão ser mais fáceis e eu os ajudarei aqui. Nova York, aí vou eu.

– Promete que não esquecerá de nós? – Minha mãe segurava as lágrimas, não contei à ela que havia reatado o contato com Julya, e segundo Julya, nem ela havia contado nada para sua família então optei por fazer o mesmo.

– Claro que não mãe, vocês são a minha família e eu amo vocês! – Abracei meus pais.

– Nem acredito que você vai mesmo me deixar aqui. – Sthe choramingou.

– Dramática, vou me estabilizar lá e volto para buscar vocês aqui. – Sorri e foi anunciado que meu voo já iria partir.

Me despedi adequadamente da minha família e meus amigos quando me assustei com o grito de uma certa pessoa. Renato.

– Por favor não vá. – Se aproximou de mim e eu respirei fundo.

– Eu estou bem, e não ficarei aqui só porque você está pedindo. Eu te amo mas eu me amo ainda mais. Eu segui em frente, Renato, faça o mesmo.

Sorri amigavelmente para ele e lhe virei as costas. Ignorei totalmente seus chamados e passei pela porta de embarque. Uma nova etapa na minha vida estava começando e eu estava nervosa para isso, nervosa para reencontrar com a família que eu tanto amo lá fora.

Amo a ideia de recomeçar da onde nós nunca devíamos ter saído, fico imaginando se nunca tivéssemos voltado para o Brasil, será que as coisas estariam melhor? Eu teria me tornado uma advogada ou teria seguido outra carreira? Uma carreira igual a Dylan? Ou não teria alcançado nada? Bem, nunca saberemos não é mesmo?

Entreguei minhas malas para o agente de bagagem e entrei no avião. Eu tenho um pouco de medo de altura, adquirir isso depois de quase ter caído de uma árvore, bem, eu caí, mas meu pai me segurou. Meu trauma não é tão sério, mas não me peça para ficar em lugares altos. Juro que fico parecendo um fantasma.

Me sentei na poltrona que ficava ao lado da janela e olhei para o aeroporto. Respirei bem fundo e sorri, apesar de todas as dificuldades eu consegui vencer e me tornar alguém. Deves estar se perguntando se meus pais estão com problemas financeiros, como que consegui comprar uma passagem para Nova York? Com licença, eu comprei. Sou uma advogada e renomada e tenho dinheiro. Por que não ajudo meus pais? Eu ajudo, mas o que ganho ainda não é o suficiente para quitar todas as dividas adquiridas ao longo da vida. Agora tudo irá melhorar, já que o dólar é bem mais barato que o real.

Pisquei os olhos e já estava em solo norte-americano. Olhei para o lado e me deparei com um jovem dormindo. Que horas que ele chegou ali? Jura que eu dormir o trajeto todo até aqui? Mexi levemente em seu ombro e nada dele acordar.

– Hey, tá vivo? – O balancei e ele acordou assustado.

– Que foi? – Coçou os olhos. Ótimo, é brasileiro.

– Já chegamos e você está atrapalhando a minha passagem com suas pernas longas.

– Ah, desculpe. – Se ajeitou na cadeira e eu me levantei, peguei minha bagagem de mão que estava na cabine acima de nós e me dirigi até a porta de saída do avião. – Espere, qual seu nome? – O jovem perguntou.

– Letícia. – Respondi sorrindo.

E daí se eu falei? Nunca mais veria ele de novo. Desci do avião e andei até o portão de desembarque. Respirei fundo e sorri abertamente. Olhei ao redor e vi um homem muito bem vestido e com óculos escuros segurando uma placa com meu nome. Estreitei meus olhos e fui até ele.

– Quem é você? – Perguntei em inglês.

– Você é Letícia Aguiar? – Perguntou sério e eu confirmei. – Senhorita Julya O'Brien me mandou até aqui.

– Ela fez o que?! – Indaguei em português e não sei como estava o olhar do homem pois ele estava com óculos, mas pelo jeito em que estava sua boca, ficou confuso com o que eu havia dito.

Ele pegou minhas malas e me guiou até um carro. Fiquei receosa de entrar dentro.

– Você não vai me sequestrar não né?!

– Não, claro que não. – Fingiu estar ofendido.

– Só para prevenir, qual seu nome?

– Senhorita Julya está lhe esperando dentro do carro.

Dito isso, eu arregalei meus olhos e entrei rapidamente dentro do carro. Julya me encarou um pouco desconfiada e eu sorri meio sem graça.

– Ok, me diga o que aconteceu no casamento de minha mãe quando ela foi jogar o buquê? – Perguntou me olhando séria.

– Essa é fácil, o buquê foi parar nas mãos do Dylan e ele me entregou desesperado. – Falei rindo e ela sorriu também.

– Meu Deus do Céu, é você mesmo!!! – Nos abraçamos. Como você está linda!!

– Eu sei! – Falei convencida.

– E ainda é convencida, vejo que não mudou quase nada. – Riu.

Ah como é bom está de volta ao lugar aonde eu pertenço. Fomos conversando o caminho inteiro, contando sobre novidades, coisas boas, coisas ruins, amores e outras coisas. Paramos em frente a uma casa enorme.

– O que estamos fazendo aqui? – Perguntei.

– É onde eu moro, você vai morar junto comigo.

– Ah não, não vou não. 

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