Capítulo 14

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Ano de 2005

Felipe
Era sábado de manhã, exatas 24 horas após a minha segunda sessão de quimioterapia quando acordei. Elizabeth dormia tranquilamente ao meu lado. Eu sentia tanta a falta dela, é tão estranho pensar que moramos juntos e convivíamos juntos todos os dias, mas nunca estivemos tão longe um do outro. É estranho sentir o cheiro dela tão próximo a mim, mas não tão próximo quanto eu gostaria que estivesse. E isso nem é culpa dela, eu que a afastei.

Me levantei lentamente e ao olhar o meu travesseiro, ele estava completamente coberto com fios de cabelo. Passei a mão em minha cabeça e os cabelos iam caindo com uma facilidade imensa, como se já estivessem soltos. Me debrucei sobre o travesseiro e comecei a recolher os pequenos fios de cabelo. Foi quando Elizabeth acordou e me viu naquela cena humilhante. Ela sentou-se na cama, colocou a mão em meu ombro e falou:

- Ei, olha pra mim. - olhei pra ela com os olhos cheios de lágrimas e ela continuou: - Tá tudo bem, tá tudo bem!

Ela me deu um abraço apertado e eu me desmanchei no colo dela. Elizabeth sussurrou em meu ouvido:

- Nós vamos dar um jeito nisso juntos.

Ela pegou em minha mão e me levou até o banheiro. Depois de alguns segundos ela apareceu com um banco e uma máquina de raspar cabelo. Elizabeth colocou o banco em frente ao espelho do banheiro e apontou para eu sentar-me.

Eu me olhava no espelho, com grande parte do cabelo já caído e a outra parte do cabelo prestes a cair.

Elizabeth ligou a máquina de raspar cabelo e começou a raspar o resto de cabelo que havia em minha cabeça. Os cabelos iam caindo pelo chão e lágrimas rolavam pelo meu rosto. Doía me ver daquela forma. Doía ver o que estava acontecendo comigo. Tudo doía, tanto psicológico quanto fisicamente.

Quando Elizabeth acabou, eu me olhava fixamente pelo reflexo do espelho e só sentia vontade de gritar. Gritar até minhas cordas vocais se romperem.

Elizabeth sentou-se em meu colo, olhou em meu olhos e disse:

- Sinceramente, não acho que você já foi tão lindo quanto está agora.

- Oi? - não conseguia entender o que ela dizia.

- Olha no espelho. - tirei os olhos dela e voltei a me olhar no espelho. - Enquanto você olha pro espelho e vê apenas um homem sem cabelo, tudo que eu consigo ver é o homem mais forte que eu conheço. Um homem que está lutando contra seu próprio corpo só pra conseguir levantar da cama a cada manhã. Um homem que está sendo corajoso a cada respiração. E eu não poderia te achar mais lindo. Se você acha que o motivo de eu estar com você é a sua aparência, que o motivo de eu ter me apaixonado por você é o seu físico então se enganou profundamente. Porque eu nem achava que isso era possível, mas a sua força só fez com que eu me apaixonasse por você mais ainda. A sua coragem apenas te tornou ainda mais lindo e eu ainda olho pra você todos os dias e penso: "Nossa, como ele é lindo!". E você pode perder todo o seu cabelo, pode virar do avesso, pode mudar completamente que eu tenho certeza que ainda pensarei isso de você todos os outros dias da minha vida.

A abracei com todas as forças que ainda me restavam.

- Eu te amo muito! - falei.

- Só não me ama tanto quanto eu te amo. - ela falou e sorriu.

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