Capítulo 34

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Ano de 2006

Felipe
Após nos cansarmos de ficar girando como loucos, nos sentamos nas cadeiras novamente e Alicia perguntou:

- Vocês já sabem que data vão se casar?

- Nós nos conhecemos dia doze de outubro, começamos a namorar dia doze de outubro e queremos nos casar no dia doze de outubro. – Elizabeth disse e realmente havíamos conversado sobre isso enquanto esperávamos as meninas chegarem.

- Dia doze de outubro? Mas isso é daqui a um pouco mais de uma semana. – Natália falou. – Precisa ser tão imediato assim?

A partir da próxima meia noite o meu cronômetro começa a rodar. No décimo segundo dia eu irei me casar com Elizabeth. No décimo quinto dia eu morro.

- Sim, precisa. – eu disse.

Elizabeth colocou a mão dela sob a minha.

Alicia e Natália nos olharam confusas.

- Não estou entendendo o motivo. – Alicia comentou.

- Eu vou morrer. Vou viver até, no máximo, quinze dias.

- Quinze dias? Impossível! Você está saudável aqui na minha frente, estávamos girando minutos atrás.  – Natália disse com os olhos marejados.

- Eu só estou aqui graças a toneladas que remédios que estou tomando a mais do que eu tomava antes.

- Como é possível um médico te dar quinze dias de vida? Isso não faz sentido! Já ouvi falar em ter apenas alguns meses de vida, mas ter só alguns dias? – dessa vez era Alicia que estava indignada.

- A questão é que não era nem pra eu estar vivo mais. Como o próprio médico disse, é praticamente um milagre meu coração ainda estar batendo.

- Você vai no hospital toda semana, como não descobriram que você estava... – Natália hesitou – que você está morrendo uns meses atrás?

- Eu ia no hospital toda semana, mas apenas para a aplicação do remédio da quimioterapia. Eu fazia exames de dois em dois meses, e no exame que eu tinha feito dois meses atrás, o câncer estava no mesmo estado de sempre. O problema é que o câncer cresceu drasticamente em pouco tempo, ele ocupou grande parte do meu coração, o meu esôfago e o meu pulmão esquerdo. E só pudemos descobrir isso no exame que fizemos hoje de tarde.

Tanto Natália quanto Alicia começaram a chorar até seus rostos incharem, falaram palavras gentis tantas vezes que até perdi as contas, me abraçaram e me apertaram o tempo todo. Elizabeth aproveitou a oportunidade pra chorar junto também. Uma lágrima ou outra escorria pelos meus olhos, mas eu não desabei como elas.

Ali e Nat foram embora com a promessa de vir me ver todos os dias.

Depois que Elizabeth e eu limpamos toda a bagunça, nossos cérebros estavam implorando por algumas horas de sono. Mas eu não quero dormir. Eu tenho tão pouco tempo, não posso perder ele dormindo; mas eu preciso dormir. Eu preciso dormir não só porque nosso cérebro precisa descansar todas as noites, eu preciso dormir porque se não fizer isso vou acabar morrendo mais rápido do que em duas semanas. Porque sem dormir irei ficar mais cansado, se eu ficar mais cansado meu corpo ficará mais fraco e se eu ficar mais fraco do que já estou então eu morro. Por isso eu fui dormir.

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