Ano de 2006
Felipe
Com o nosso novo “recomeço” a seis meses atrás, Elizabeth e eu acabamos ficando mais grudados, se é que isso é possível. Acabamos valorizando ainda mais a presença do outro, porque descobrimos o quão duro é ficarmos longe. Já brigamos algumas vezes, não lembro exatamente quantas vezes, mas é entre 5 e 10. Só que nenhuma vez foi como aquela, nunca envolveu traição e nunca envolveu ficarmos dias longe um do outro. Acho que ficar longe dela foi a coisa mais difícil que eu já fiz e isso é assustador. Nós somos dependentes um do outro, e as vezes me pego questionando se isso é tóxico. Sempre me orgulhei do nosso namoro, sempre foi tudo tão saudável, estável e somos consideravelmente maduros. Nunca tivemos brigas, ciúmes e crises bobas; sempre confiamos um no outro de olhos fechados; sempre fomos tão próximos, porque além de minha namorada, ela é minha melhor amiga.Mas ao ficar longe dela, ao achar que eu havia a perdido, eu acabei perdendo a mim mesmo. Acabei me afundando na escuridão que havia dentro de mim após descobrir uma suposta traição e isso não era pra ser assim. Eu deveria amar ela, deveria respeita-la e admira-la, mas a minha felicidade não deveria depender dela. É injusto demais jogar esse fardo nas costas de alguém, é injusto deixar a pessoa ciente que se não ficarmos juntos eu jamais serei feliz novamente. Fiquei um pouco aflito ao pensar sobre essas coisas. Mas ao pensar melhor, eu percebi que é impossível eu me relacionar com alguém e ficar normal ao se distanciar dessa pessoa, independente do motivo. Por isso, concluí que não é tóxico eu ter ficado mal ao perde-la, exatamente pelos motivos que eu citei antes - porque eu a amo, a respeito e a admiro. Ela faz parte da minha rotina e da minha vida há anos, e eu poderia facilmente ser diagnosticado com psicopatia se eu não ficasse mal ao achar que fui traído.
Eu permaneço fazendo tratamento contra o câncer, toda semana eu vou ao hospital para uma nova sessão, mas até hoje não obtive resultados positivos. Pelo que parece, o câncer está resistindo a quimioterapia, mas também não está conseguindo alcançar outras partes do meu corpo. Ou seja, ele não está diminuindo, mas também não está crescendo. Como se o remédio não fosse suficiente para mata-lo, mas também não fosse tão inútil ao ponto de deixar aquela massa me matar tão cedo. Pra falar a verdade, isso não é uma boa noticia mas também não é uma ruim. A quimioterapia simplesmente paralisou o câncer, o que não é o bastante pra me fazer viver mas também não é capaz de me matar. É como se minha alma estivesse decidindo se quer partir ou permanecer aqui na Terra.
A minha quimioterapia acaba oficialmente daqui a seis meses, portanto, eu tive duas opções: ou eu continuo a quimioterapia até os próximos seis meses e ao final desse tempo descubro se meu câncer cresceu ou diminuiu; ou eu simplesmente desisto e aproveito meus últimos meses de vida porque a partir do momento que eu parar com a quimioterapia, essa massa dentro de mim vai tomar a liberdade de ocupar cada parte do meu corpo. Confesso que a segunda opção é mais tentadora e muita gente ao ouvir isso deve se perguntar: “Então você quer morrer?”. Não, eu não quero morrer. Na verdade, eu nunca quis tanto viver quanto eu quero agora. Mas a chance de eu fazer mais de um ano de quimioterapia e no final eu acabar morrendo é imensa, então me pergunto se vale a pena passar meu último ano de vida dentro de um hospital, sendo sujeito aos mais fortes remédios que existem, com o meu corpo falhando a cada momento e com a imunidade tão baixa que um resfriado pode me matar. Ou se vale mais a pena eu estar ciente que vou morrer e por isso, aproveitar meus últimos seis meses de vida, sem remédios e sem hospitais. Só sair por aí fazendo coisas malucas e gastando meu dinheiro com qualquer porcaria que aparecer na minha frente. É uma escolha difícil de se fazer, morrer lutando mas acamado em um hospital, ou desistir de tudo e morrer feliz. Mas eu novamente optei pela primeira opção. Vou passar mais seis meses fazendo quimioterapia, e se eu não tiver sucesso eu simplesmente morro ali mesmo. Mas pelo menos vou morrer sabendo que eu fiz tudo ao meu alcance pra poder viver.
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360 HORAS
RomanceElizabeth e Felipe tinham tudo para dar certo, até que uma doença fatal e minuciosa os ataca quando eles menos esperam. Os dois terão que sobreviver a isso juntos... ou não!