Capítulo 38

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Ano de 2006

Felipe
3° DIA
Meu avô materno era alcóolatra e um dos motivos da minha mãe se tornar alcóolatra foi a hereditariedade. Um dos meus medos é que a hereditariedade também tenha me tornado alcóolatra e na minha infância eu prometi a mim mesmo jamais me tornaria um. Por isso eu jamais passei de um copo e meio de cerveja ou vinho e muito menos de bebidas mais fortes. Tinha medo de me embebedar e acabar me viciando em fazer isso. Por esse motivo eu nunca fiquei bêbado, até hoje. Meu terceiro desejo é bem simples: "Ficar bêbado". Não pretendo ir em bar ou balada pra isso, sempre odiei esse tipo de ambiente. Logo pela manhã saí de casa e comprei uma garrafa de Uísque e outra de Rum e fui a caminho de casa, talvez eu possa fazer isso enquanto assisto algum filme ou escuto uma música alta. Eu não sei o que esperar disso, não sei o que vai acontecer.

E a primeira reação de Elizabeth não foi das melhores:

- De jeito nenhum! Não posso permitir isso.

- Mas é o meu desejo, eu já estou morrendo mesmo. - eu pensei que com o tempo iria doer menos quando eu falasse que estou morrendo, mas acho que isso nunca vai acontecer.

- Eu não vou te ajudar a morrer mais rápido. Você não entende que seu coração pode não aguentar isso?

- Não posso passar os próximos dias pisando em ovos, eu preciso arriscar tudo. - no fundo, eu sabia que ela tinha razão, mas eu queria tanto fazer isso que preferia ignorar a voz mais sensata.

- Isso é suicídio! - ela gritava. - Você pretende mesmo beber duas garrafas com um teor altíssimo de álcool? Isso é tanta burrice! Você não tem tolerância nenhuma pra bebida, até se estivesse saudável iria morrer se tomasse duas garrafas dessas.

Dessa vez eu optei por ouvi-la.

- Ok, vou guardar o Rum no armário e vou beber só um pouco do Uísque. Mas não há nada que você possa me dizer que vai me fazer desistir de ficar bêbado.

Ela afundou o rosto nas próprias mãos, ela sabia que quando eu insisto em algo não há nada no mundo que possa me fazer mudar de ideia.
- Tudo bem. Faça o que achar melhor.

- Pode beber comigo, se quiser.

- Não. Irei ficar sóbria pra poder te vigiar, caso... caso aconteça algo.

Ficamos fora de casa o dia todo, Elizabeth foi fazer as medidas do vestido de casamento e eu fui fazer as medidas do terno. Também escolhemos tudo que faltava escolher para o casamento.

Quando chegamos em casa, eu estava muito ansioso para beber logo mas Elizabeth me aconselhou a não me embebedar com o estômago vazio. Por isso, jantamos.

Após o jantar, Elizabeth me entregou um balde e disse:

- Você vai precisar disso porque não vou limpar nem uma gota de vômito que cair no chão.

Eu assenti com a cabeça.

O primeiro pequeno gole de Uísque desceu com a sensação de estar rasgando a minha garganta e realmente parecia que eu estava bebendo álcool puro. Não falei nada, mas olhei para Liz com os olhos arregalados e ela apenas falou:

- Ainda dá tempo de desistir.

- É meio amargo, não é? - falei pra ela me referindo ao Uísque.

Ela apenas assentiu.

Continuei bebendo pequenos goles mas ainda assim eu ainda não havia me acostumado com a sensação de beber aquilo, certamente não é a melhor bebida que já tomei.

Antes mesmo de eu beber um copo completo, já pude sentir tontura e enjoo.

Após eu fazer ânsia de vômito, Elizabeth apontou pro balde.
Continuei bebendo.

De repente, tudo a minha volta se tornou extremamente engraçado e eu sentia uma vontade imensa de dançar, cantar e falar tudo que me der vontade.

- Vamos nos divertir! Esse lugar é tão chato. - eu gritava e colocava uma música no volume máximo.

Eu ainda estava com a garrafa na mão, então Elizabeth a tirou de mim e falou:

- Acho que você não precisa mais disso, já conseguiu o seu objetivo.
Ela guardou a garrafa no armário e quando voltou, eu disse:

- Eu queria mais. - falei imitando voz de criança.

Ela sentou-se no sofá e ficou me observando a dançar e cantar "Mundo Animal" de Mamonas Assassinas.

- Dança comigo. - pedi.

Ela negou com a cabeça e eu a peguei pelas mãos e a levantei do sofá.

- Opa! - falei quando cambaleei quase caindo no chão.

Depois, fiquei um tempo rindo disso.
E é tudo que me lembro.

360 HORASOnde histórias criam vida. Descubra agora