Capítulo 46

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Ano de 2006

Felipe
10° DIA
Hoje foi Elizabeth quem preparou o almoço, ela estava toda animada e orgulhosa com o que havia conseguido. E eu também estava orgulhoso dela.

Enquanto almoçávamos, ela disse:
- Felipe, tenho algo para lhe falar.
Elizabeth olhava para o prato enquanto brincava com a comida.

- Pode dizer. - falei.

Ela ficou uns segundos rodando o garfo no prato e finalmente disse:

- Desde a última vez que saímos do hospital eu não desisti de você. - eu arqueei a sobrancelha. - E já faz muito tempo que estou procurando uma solução para isso tudo e eu encontrei. - ela ainda não olhava nos meus olhos. - Descobri um médico e cientista suíço que trabalha com tumores grandes e sem soluções médicas conhecidas. Ele criou um tratamento em que o câncer das pessoas pode diminuir até 65% por cento e então fica muito mais fácil para curar os pacientes. Esse novo tratamento já funcionou em sete pacientes e falhou em apenas dois, o melhor de tudo é que você foi aceito para ser o próximo paciente. Tudo que precisamos fazer é viajar para a Suíça até daqui dois dias, no máximo, e lá pagamos pelo tratamento.

Dessa vez, ela me olhou nos olhos e ficou esperando pela minha reação. Fiquei uns segundos tentando registrar tudo que acabei de ouvir.

- Não. Não vou fazer isso, como iremos para a Suíça sem dinheiro pra isso?

- Já pensei nessa parte, minha tia deixou bastante dinheiro para mim em uma conta no banco, como forma de herança além dessa casa. E eu havia planejado gastar esse dinheiro para algo bem importante no futuro. Então, o futuro já chegou e você é a coisa mais importante que tenho, não consigo imaginar nada nesse mundo que valha mais a pena para gastar o dinheiro.

- Não! Tenho certeza que esse dinheiro será mais útil daqui uns anos, e se você adoecer? E se precisar do dinheiro pra sobreviver?

- Se em todas as decisões de nossa vida pararmos para pensar no "e se", então nunca viveremos. Estou pensando no agora e nesse momento tenho total e absoluta consciência do melhor a se fazer com o dinheiro.
Eu não poderia concordar com tudo isso, essa é uma das ideias mais absurdas que já ouvi. É um tiro no escuro. Ou melhor, é como estar com as mãos amarradas nas costas e tentar atirar com os pés enquanto está no escuro.

- Já tínhamos conversado sobre isso, nada de medicamentos, nada de hospitais, nada de tratamentos. E novamente você volta com a mesma ladainha de sempre, logo agora que finalmente me conformei que vou morrer!

- Por favor, você não pode simplesmente descartar a sua única chance de viver só por causa do que havia decidido antes. Eu preciso de você aqui comigo. E o papo de "ainda vou estar com você mesmo depois que eu partir" é uma grande baboseira estúpida!

Isso que ela disse conseguiu dar uma amolecida no meu coração teimoso.

- E como posso ter a garantia de que esse médico não é apenas um charlatão com o intuito de ganhar dinheiro as custas de pessoas prestes a morrer e sem esperanças?

- Duvido muito. Ele tem autorização do governo federal da Suíça para fazer esses testes e há uma enorme papelada que você deve assinar em que confirma tudo que eu te disse.

- Certo... Certo. Mas e o casamento? Se formos para a Suíça não poderemos nos casar.

- Se formos para a Suíça teremos todo o tempo do mundo para nos casarmos depois.

- Não. Nos casaremos no dia doze de outubro e ponto. Logo após o casamento iremos a Suíça, mas não viajarei para lá antes de me casar contigo.

- Parece muito arriscado...

A interrompi:

- É isso ou nada.

- Tudo bem então.

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