Capítulo 51

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Ano de 2006

Diogo
Minha mãe me telefonou dizendo que Felipe havia falecido, disse também que o velório seria na tarde de hoje. Faz um tempo que não o vejo, que não o procuro, mas ainda assim eu ainda tenho consideração por ele. Crescemos juntos, fomos amigos por anos, levei dezenas de broncas dele ao longo da minha vida. Essa notícia me abalou, me deixou realmente triste.

Prometi a mim mesmo que não retornaria aquela cidade tão cedo, mas o mínimo que posso fazer é ir ao velório dele. Entre o antigo grupinho: Felipe, Elizabeth, Natália, Alicia, Matheus e eu; o único que manteve contato comigo foi o Matheus. Ele me telefonou logo após a minha saída da cidade e disse que todo mundo erra e que seria burrice perder a minha amizade por conta de uma briga de casal. Mantemos o contato e continuamos indo pra barzinhos e baladas.

Após o baque da notícia que minha mãe me deu, telefonei para Matheus e lhe contei o ocorrido. Combinamos de irmos juntos ao enterro. Talvez seria inconveniente nós dois participarmos da cerimônia, por isso, iremos só observar de longe.

Natália estava bem arrumada, como sempre. Alicia estava ao lado dela e seguravam as mãos, Matheus e eu nos entreolhamos e sabíamos que havia algo entre as duas. Quem diria que nossas namoradas iriam nos deixar de lado para ficarem juntas. Elizabeth estava descabelada, com uma blusa e calça mal passada e um chinelo velho no pé. Estava com um olhar cansado e sei que Matheus ainda não a esqueceu. Ele olhou pra mim e disse:

- Eu preciso ir lá pelo menos dar um abraço nela.

Eu neguei com a cabeça e segurei o braço dele. Ele se retraiu e voltou a apenas observar.

Natália, Alicia e Elizabeth se abraçavam o tempo todo. Ao lado de Elizabeth, havia uma senhora. Rapidamente notei que era a mãe de Felipe. Nos primeiros anos de idade dele, eu invejava a mãe que ele tinha, ela sempre brincava conosco e preparava lanches durante as brincadeiras. Mas depois de uns anos ela se afundou nas bebidas e eu a via apenas raramente. Apesar do luto, ela não parece mais uma viciada. Lúcia chorava tanto quanto Elizabeth e também participava dos abraços em grupo. E foi assim na maior parte. Discursos, lágrimas e luto; apenas isso.

Um pouco antes do velório finalizar, Matheus e eu fomos embora.

Elizabeth
Logo após o velório de Felipe, fui para casa. Natália havia me entregado uma folha de papel dobrada e apenas disse:

- Uns dias atrás, Felipe me pediu para te entregar. Pode ser a despedida que vocês não tiveram a oportunidade de ter.

Sentada na cama de casa, tentava tomar coragem para ler aquela carta e enquanto isso me perdi nos pensamentos.

Os médicos me devem quatro dias. Os médicos disseram que ele teria quinze dias de vida e ele só teve onze e eu preciso desses outros quatro dias. Eu faria qualquer coisa para ter esses dias, eu mataria e morreria por isso. Só pra ter ele comigo por mais um tempo, só pra poder abraça-lo uma última vez, só pra ouvir aquela voz, só pra saber que ele está comigo.

Eu estou com medo, estou com medo de não conseguir sem ele. Estou com medo de esquecer como ele é lindo, de esquecer o tom de voz dele, de esquecer o quanto eu fui feliz ao lado dele. Estou com medo até de falar o nome dele em voz alta porque eu sei que vai ser doloroso. Estou com medo de não ser forte o bastante para suportar isso. Estou com medo de decepciona-lo. Quero deixa-lo orgulhoso mas tenho medo de ser incapaz.

Há cinco anos nos conhecemos. Eu achava ele bobo e grudento demais, ele devia me achar chata e grossa demais – temo que ele continuou me achando chata. Mas “chata” de um jeito bom. Eu também continuei achando ele um bobo, e talvez eu tenha deixado de acha-lo grudento porque ele me ensinou a ser também.

Iríamos nos casar! Sequer tivemos tempo pra isso...

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