Capítulo 41

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Ano de 2006

Felipe
6° DIA
- No final das contas, foi desnecessário eu ficar sem cabelo. – falei durante o almoço enquanto eu passava as mãos pelos pequenos fios na minha cabeça que estavam nascendo novamente.

Elizabeth pensou um pouco enquanto mastigava a comida.

- Não diga bobagens, se você não tivesse feito a quimioterapia teria morrido um ano atrás.

- É, faz sentido.

- Tudo que eu falo faz sentido, queridinho. – ela se gabou. – Além do mais, você é excessivamente vaidoso, controle-se.

Eu ri.

- É só eu concordar com você em algo que já começa a me insultar.

- Vaidoso e dramático. – após mais uns segundos em silêncio, Elizabeth continuou: - O que vai fazer hoje? Qual é o sexto item?

- Vou continuar a minha lista amanhã, hoje ficarei aqui fazendo absolutamente nada.

- Uau, que programação animadora. – ela disse com ironia.

Ela levantou e colocou o prato e talheres dentro da pia e a ouvi sussurrar:

- Ah, depois eu lavo. Essas louças não vão sair voando.

Eu sempre demoro mais para terminar de comer, então quando Liz terminou de escovar os dentes eu havia acabado de colocar meu prato e talheres dentro da pia.

- Bom, depois eu lavo também. – falei sozinho.

Escovei os dentes e Elizabeth estava deitada no sofá usando o telefone dela, deite-me ao lado dela e falei:

- Ainda não falamos sobre como vai ser depois que eu morrer.

- Não temos nada pra falar sobre isso. – ela respondeu friamente.

- Temos sim. O luto é normal, é necessário, se permita sofrer. Mas eu quero que você continue com a sua vida...

Ela me interrompeu:

- A mesma ladainha de todos os filmes dramáticos, que clichê.

Continuei:

- Eu sou o seu primeiro amor, mas não quero ser o último. É claro que não quero que você se force a superar, isso tem que demorar o tempo que for necessário, porque diferente de mim você tem todo o tempo do mundo. O que eu quero dizer é que você pode se casar com outra pessoa, ter filhos e envelhecer junto a ela. Porque por mais que eu queira, jamais poderei te oferecer isso.

- Já estou familiarizada com esse discurso, já li muitos livros sobre isso mas obrigada pelo conselho.

- Por favor, Liz. Estou falando sério, pode pelo menos olhar pra mim? – ela desviou os olhos da tela do celular e me olhou. – Eu sei que isso é difícil pra você, mas eu não quero que passe o resto da vida presa a mim. – passei a mão pelos cabelos dela. – Você tem o mundo todo pra você, mas não se contente com pouco, por mais que o mundo seja imenso, ele é pequeno demais para você. Vá além!

Ela apenas assentiu e apoiou a cabeça por cima do meu peito.

- Uma sonequinha de pós almoço? – ela perguntou.

- Uma sonequinha de pós almoço. – confirmei.

E adormecemos.

360 HORASOnde histórias criam vida. Descubra agora