5 MESES DEPOIS
Ano de 2007Elizabeth
Eu tentei. Só eu sei o quanto tentei superar o que ocorreu três meses atrás. Em janeiro desse ano, recebi meu diploma e coloquei-o na parede ao lado do diploma de Felipe. Eu sobrevivi durante esses três meses, pensei que com o tempo tudo iria melhorar mas a cada dia me vejo um pouco mais perdida. A saudade só está aumentando e eu não consigo mais.Sinto como se eu estivesse trancada em um quarto minúsculo e escuro sem ninguém por perto. Alicia e Natália não me abandonaram nem por um instante, mas é como se eu estivesse sozinha mesmo acompanhada. E não tem nada nesse quarto além de escuridão e solidão. Estou presa. E pensamentos invasivos ecoam pelo quarto me dizendo o quanto sou incapaz e fraca. O pior de tudo, é que com o tempo, eu passei a acreditar nesses pensamentos.
Sei que Felipe está decepcionado. Eu o desapontei pois não sou forte como ele imaginava. Eu não consigo sem ele.
Mas eu sei que posso lidar com o quarto escuro. Só que despertou em mim um outro sentimento: o medo. Medo de acontecer de novo. Já perdi tantas pessoas, já enterrei tanta gente e eu simplesmente não consigo fazer isso outra vez. Minhas pernas enfraquecem só de imaginar eu perdendo outra pessoa que amo. Todos a minha volta sempre morrem e quem será o próximo? Alicia? Natália? Eu não posso suportar isso.
Então, eu desisti. Provei aos meus pensamentos invasivos que eles tinham razão. Provei a Felipe que ele estava errado sobre mim. Sou fraca.
Por isso, eu fugi. Fugi para longe de todos que amo. O medo de perde-los, me afastou deles. Parti sem olhar pra trás, mudei de estado. Alicia e Natália me ligavam todos os dias, mas eu nunca atendi. Deixavam recados na minha caixa de mensagens e eu os ouvia, mas não respondia. Semana passada disseram que já marcaram o casamento delas e que precisavam que eu desse sinal de vida pois querem muito que eu seja a madrinha. Parte de mim queria voltar pra casa, mas também não pude fazer isso.Se elas continuassem com as mensagens e ligações, eu iria acabar cedendo. Então mudei de número e como elas não fazem ideia de onde estou morando, perdi total e completo contato com elas.
Me isolei do mundo, me tranquei em casa e só saía para fazer compras quando a comida estava prestes a acabar. Alguns vizinhos tentaram se aproximar de mim, mas não permiti isso. Não posso me apegar a mais ninguém porque não sobreviverei à perda de outro alguém. Consegui um emprego de professora em uma escolinha por perto e a herança de minha tia me deu o suporte necessário.
Não perdi só Felipe, eu perdi tudo.
Mas como eu posso viver se quem fazia o meu coração pulsar não está mais aqui?
Queria poder contar a ele que as estrelas não brilham mais como antes, que o céu já não está mais tão azul, queria contar sobre a saudade e sobre como ela está apertando forte, queria contar das vezes em que eu chovi mais que as nuvens, dos sonhos que se perderam no caminho, da vontade, da falta, da saudade que sufocam nas noites frias.
Desisti de falar baixinho a mim mesmo que "tudo vai ficar bem", onde eu fingia acreditar em minhas próprias palavras. As vezes, quando fecho os olhos ainda consigo ouvi-lo dizendo que me ama e, por alguns segundos, me convenço a acreditar que não é apenas uma ilusão.
Me recolhi juntamente com a minha solidão, meu quarto escuro e os pensamentos invasivos. Perdi a mim mesma e já não tenho mais forças pra me encontrar.
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360 HORAS
RomanceElizabeth e Felipe tinham tudo para dar certo, até que uma doença fatal e minuciosa os ataca quando eles menos esperam. Os dois terão que sobreviver a isso juntos... ou não!