Capítulo 43

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Ano de 2006

Felipe
8° DIA
Um dos meus medos era envelhecer e ser jogado em um asilo como algo sem importância alguma, ser deixado de lado por aqueles que eu cuidei quando precisaram. Saber que daqui a uma semana eu não estarei mais aqui é minimamente reconfortante quando penso que por isso não haverá chance de algum dia eu terminar a minha vida sozinho e descartado em um lar para idosos.

Crianças órfãs sofrem dores indescritíveis em orfanatos, mas o fato de serem crianças dão a elas uma vantagem que idosos não têm. Crianças são e sempre serão vistas com outros olhos por serem inocentes, fofas e infantis; e tudo isso é verdade. Mas idosos são vistos apenas como idosos. É uma pena ter tantas crianças em orfanatos, mas ninguém aparenta ter a mesma compaixão por idosos em asilos. Crianças são adotadas, não tanto quanto deveriam pois é um grande desejo meu e de tantas outras pessoas que um dia crianças não precisem ser adotadas. Que um dia não precise sequer haver orfanatos. Que um dia todos possam ter lares e famílias onde se sintam acolhidos e amados. Mas quem adota os idosos? Entrar em um asilo é como receber uma passagem apenas de ida, sem chance de voltar. Quando uma criança entra em um orfanato ela recebe uma mínima esperança de um dia sair de lá com uma família. Os idosos sequer tem a chance de ter essa esperança.

Por isso, o meu sétimo desejo é: “Visitar um asilo”. Já visitei um orfanato uma vez quando eu era mais jovem, mas ao escrever a minha lista eu estava prestes a escrever como sétimo desejo que eu gostaria de visitar um orfanato novamente, mas ao refletir sobre isso notei que idosos merecem tanta atenção e carinho quanto crianças, mesmo que isso não ocorra frequentemente e por isso optei por visitar um asilo.

Logo pela manhã saí de casa em direção ao asilo da cidade, mas dessa vez eu fui sozinho.

Chegando lá, a primeira impressão não me agradou. Não parecia ser muito limpo, era um local sem cor e vida, tirando o fato de terem algumas plantas distribuídas por lá.

A moça da recepção era jovem e parecia ainda estar se acostumando com o trabalho devido a confusões com os papéis e telefonemas. Mas ainda assim, foi simpática e educada. Pediu para que eu esperasse poucos instantes porque os idosos logo terminariam o café da manhã no refeitório.

- Pode esperar no pátio, se quiser. A maioria fica por lá. – a recepcionista completou.

E assim, fui ao pátio e me sentei em um banco, ao lado haviam alguns livros rasgados e umas revistas que comecei a folhear.

Em menos de dez minutos lentamente o pátio começou a ser ocupado e não só ali, mas também em outros locais do asilo. Os idosos sentaram-se em poltronas e bancos velhos cheios de poeira e começaram a papear e alguns tricotavam. Sequer precisei me aproximar deles, pois logo uma senhora sentou-se ao meu lado e falou:

- Veio visitar algum familiar? Não sei se é culpa da minha péssima memória mas não me recordo de ter te visto aqui antes.

- Pelo visto a sua memória não está tão ruim assim, é a primeira vez que venho aqui. E respondendo à pergunta da senhora, não estou vindo visitar ninguém especificamente. – falei.

Conversamos por um tempo e a conversa se desenrolou muito facilmente. Ela me lembrava muito a minha avó que faleceu já faz um bom tempo. Quando minha mãe saía de casa para beber, o que acabou se tornando muito frequente, eu saía correndo para a casa da minha avó que era bem perto da minha casa e eu ficava por lá até a minha mãe chegar em casa. Quando minha avó adoeceu, ela foi morar comigo e com a minha mãe para cuidarmos dela. Mas no final das contas, eu tive que cuidar dela sozinha pois minha mãe nunca estava em casa. Em menos de um ano a minha avó faleceu, pouco tempo antes de eu conhecer Elizabeth.

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