Capítulo 27

6 2 0
                                    

Ano de 2006

Felipe
Aqui nós levamos o dia dos namorados a sério. O dia doze de junho não pode ser apenas um dia dos namorados, talvez para nós seja até mais comemorativo que o Natal.

E hoje, na véspera do dia doze, cada um está focado no que vai presentear o outro.

Estou há um mês planejando o meu presente para Elizabeth e por morarmos juntos é bem complicado esconder a surpresa pra ela. Não estou podendo esbanjar dinheiro, pois a quantidade de remédio que estou comprando está praticamente esgotando tudo que sobra do meu curto salário. Mas de qualquer forma, farei com que seja importante, não luxuoso, mas sim inesquecível.

Já passa das 21:00 quando estou escrevendo meu cartão pra ela, comprar um pronto seria mais prático mas experimente presentear uma escritora com algo que não foi você que escreveu. Ela iria fazer um longo discurso dramático e iria concluir com um:

- Não consigo acreditar que você não conseguiu pensar em absolutamente nada sobre mim, era só escrever umas linhas sobre o que sente por mim e essas baboseiras todas. Mas você teve que recorrer a palavras já prontas!

O grande problema nisso tudo é que ela certamente sabe lidar com as palavras bem melhor do que eu, e tudo bem. Só que quando ela me dá um enorme texto com duas folhas frente e verso, com palavras lindas que quase me fazem chorar; eu apenas a dou algumas frases que na maioria das vezes diz: “Eu te amo, obrigado por tudo, vou te amar pra sempre. Você é linda.”

E na verdade isso é bem constrangedor, é claro que ela não reclama mas sei que fica um pouco chateada por saber expressar tanto o que sente por mim e eu permaneço nas frases comuns e clichês.

Por isso, dessa vez decidi fazer diferente. Estou trancado no quarto já faz um tempo e prometi a mim mesmo que só saio daqui quando eu estiver escrito pelo menos até o final da folha. A questão não é a quantidade de palavras, eu sei disso. Mas mesmo se continuarmos com a frase “Não importa a quantidade, o que vale é a intenção”, todos sabem que o quanto mais você expressar o que sente por alguém, mais essa pessoa ficará feliz. Eu sei que a deixaria feliz se escrevesse duas linhas, mas eu também sei que a deixaria mais feliz ainda se escrevesse duas folhas. Para uma escritora como ela, palavras nunca são demais.

Acordei bem cedo no dia seguinte, a manhã do tão esperado dia dos namorados. Infelizmente era uma terça feira e por isso não poderíamos faltar na faculdade e nem no trabalho. Elizabeth sempre acorda mais tarde que eu, mas ao olhar o outro lado da cama, ela não estava lá. O que basicamente estraga os meus planos, pois eu havia planejado preparar um café da manhã com as coisas que ela mais gosta. Um sanduíche bem recheado, um café bem forte e uma maça. Isso seria perfeito pra ela e, eu já havia comprado tudo que eu precisava no dia anterior.

Quando levantei-me da cama, e fui procurar Elizabeth para ter certeza se eu realmente havia perdido a surpresa do café da manhã e lá estava ela, acho que ela teve a mesma ideia que eu porque estava com uma bandeja nas mãos tentando equilibrar tudo enquanto andava em direção ao quarto, quando ela me viu pareceu decepcionada. Acho que ela não queria que eu visse ela, devia ser um café na cama surpresa.

- Que droga! Sabia que eu devia ter acordado mais cedo pra fazer isso. – ela falou e parecia estar com raiva de si mesma.

- Tá tudo bem, vamos fingir que não vi isso. Vou voltar pra cama e vou estar dormindo um sono tranquilo, como se eu nem tivesse acordado, ok? – pisquei o olho quando terminei de falar.

Ela sorriu.

- Combinado! Vou contar até dez.

E assim ela fez. Quando eu estava na cama de olhos fechados, ela chegou.

- Bom dia! Que bom que minha surpresa deu 100% certo. - ela disse com ironia.

- Nossa, café da manhã na cama. Estou tão surpreso! – falei fingindo sonolência na voz e ela gargalhou.

Na bandeja tinha um sonho de padaria, um suco de abacaxi com hortelã e algumas uvas. Ela acertou em cheio!

- Eu amei, amei mesmo. Eu não poderia encontrar uma namorada mais perfeita que você. – ela me deu um beijo na bochecha enquanto eu falava. - Você acordou que horas pra dar tempo de ir na padaria comprar esse sonho? – perguntei enquanto eu dava uma mordida.

- Não sei se devo revelar meu truques.

- Você não pode ficar sem café da manhã, e não sei se serei bondoso o suficiente a ponto de dividir o meu. Por isso, agora é a sua vez de ficar aqui fingindo que está dormindo enquanto eu vou trazer o seu café da manhã que infelizmente não pude fazer surpresa pra você.

- Sério? Você também ia fazer pra mim? Que gracinha! Acho que essa história de café da manhã na cama no dia dos namorados está um pouco ultrapassada a ponto de nós dois pensarmos na mesma coisa. – assenti com a cabeça. – Mas tudo bem, vá trazer meu café da manhã que estarei dormindo como um anjinho.

360 HORASOnde histórias criam vida. Descubra agora