Capítulo 48

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Ano de 2006

Elizabeth
Meu cérebro se recusava a compreender o que eu tinha acabado de ouvir. O amor da minha vida vai viver. Estava praticamente dormindo acordada mas naquele momento foi como se tivesse injetado cafeína em minha veias. Sussurrei baixinho:

- Por favor, não seja um sonho.

Dessa vez, falei mais alto para a Janaína conseguir ouvir:

- Pode falar de novo só pra eu ter certeza que não estou alucinando só porque acabei de acordar?

Ouvi a médica rindo do outro lado da linha e, por fim, ela disse?

- Nós temos um coração para o Felipe!

Foi naquele momento que entendi o que é “sorrir de orelha a orelha” porque eu posso jurar que o meu sorriso realmente conseguiu alcançar as minhas duas orelhas enquanto eu sentia lágrimas geladas escorrendo pelas minhas bochechas.

- Felipe e eu estamos indo aí agora mesmo! Muito obrigada, doutora. Muito obrigada mesmo.

- Estaremos prontos esperando vocês aqui!

E assim eu desliguei o telefonema. Queria ir para o hospital o mais rápido possível para não correr risco de perder o coração novo, mas tudo que consegui fazer naquele momento foi sentar-me no chão e chorar muito. Chorar de alívio. Passei os últimos dias com o coração tão apertado que me doía a cada segundo, me doía saber que eu iria perder a pessoa que mais amo no mundo e que não podia fazer nada para impedir. Me doía imaginar um mundo em que o Felipe não está comigo mais. É como se nesse momento, aquele peso no meu coração tivesse desaparecido como num passe de mágica e sinto que nunca fiquei tão feliz na minha vida. Ao mesmo tempo em que eu chorava, minha mandíbula doía de tanto que eu estava sorrindo.

Tive que levantar-me e ir até a cama para acordar Felipe. Agora a solução para os nossos problemas está bem na nossa frente, tudo que precisamos fazer é correr até alcança-la. Tenho cerca de duas horas e cinquenta minutos para chegar ao hospital e consigo imaginar perfeitamente Felipe dizendo enquanto dirijo o mais rápido possível:

- Liz, não é porque agora não vou morrer de câncer que eu posso morrer de acidente de trânsito. Vamos com calma.

Solto um sorriso imaginando essa cena.

Sento-me ao lado de Felipe na cama e lhe dou um beijo na bochecha na tentativa de lhe acordar da maneira mais calma possível. Como ele não se mexeu, comecei a dar leves balançadas no braço dele e ainda assim ele sequer ameaçou acordar.

- Felipe? – chamei o nome dele.

Sussurrei:

- Ele tem o sono tão leve...

Continuei balançando o braço dele, mas dessa vez com mais força e continuei chamando o nome dele, mas dessa vez mais alto.

- Felipe? Levanta logo, você não vai nem acreditar no que tenho pra te falar. Vamos, Felipe! A médica tá esperando a gente. – eu dizia.

Ouvi passos vindo em minha direção e quando olhei para trás, lá estava Natália coçando os olhos e ela falou:

- Beth? O que está fazendo? Você está gritando alto demais, está de madrugada.

Falei animadamente para Natália:

- Nat, você não vai nem acreditar! A médica do Felipe me ligou e ela disse que tem um coração para ser transplantado para ele lá no hospital. Nós temos que ir para lá agora.

Natália chegou até mim e me deu um abraço.

- Que maravilha! Essa é a melhor notícia que poderíamos receber, tira esse dorminhoco da cama logo que eu vou ir com vocês. – Natália falou.

- É isso que estou tentando fazer, mas parece que essa noite o sono dele está mais pesado que o normal.

Pude perceber Natália arqueando as sobrancelhas.

- Felipe? Felipe? – ela gritou.

Em seguida, Natália chacoalhou Felipe e ainda assim ele não acordou.

Natália juntou o dedo indicador e o dedo do meio e posicionou os dois dedos na lateral do pescoço de Felipe e ela ficou uns cinco segundos com os dedos ali. Sem desviar os olhos de Felipe, Natália disse:

- Beth, ele não está vivo.

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