Capítulo 13

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Ano de 2005

Felipe
Finalmente chegou o dia da minha primeira sessão de quimioterapia e Elizabeth fez questão de ir ao hospital comigo. Chegando lá, ficamos esperando atendimento por muito tempo e finalmente uma enfermeira nos chamou para uma sala onde estava a Doutora Janaína e um outro médico que eu não conhecia.

- Sentem-se, por favor. - a médica falou com um sorriso no rosto.

Ao sentarmos ela começou a falar:

- Aqui comigo está o Doutor Elias, ele é um renomado oncologista aqui no nosso país e um dos melhores em nosso hospital. Ele irá fazer parte do seu caso já que é um dos mais delicados que eu já vi, Felipe.

Eu assenti com a cabeça e estendi a mão para o novo médico.

- Prazer. - falei.

O médico apertou a minha mão. Elizabeth abriu um sorriso para ele.
Após uns minutos conversando sobre a forma de tratamento que será realizado, eu fui levado para uma sala e Elizabeth foi para a sala de espera. Nessa sala em que fui levado, eles aplicaram o remédio e adormeci por lá mesmo. Depois de algum tempo eu acordei e Elizabeth já estava sentada ao meu lado com algum livro na mão que eu desconhecia.

Depois de algumas horas lá, eu fui liberado para voltar pra casa com o retorno marcado pra uma semana.
O meu cansaço ficou ainda mais constante e a quimioterapia é tão forte que após a sessão, os vômitos começam.

Foi nesse período que eu percebi que descobrir que tem uma doença é a parte fácil. A parte difícil é lidar com ela. E mais difícil que lidar com ela, é vence-la.

Mesmo que involuntariamente, eu acabava afastando Elizabeth. Não queria ela perto de mim quando eu começava a vomitar tudo que havia no meu estomago, quando meus joelhos não suportavam o peso do meu corpo, quando minha visão ficava turva. Eu era um fardo. Ela só queria me ajudar, mas eu não conseguiria vê-la me dando banho quando eu não conseguia ficar de pé, não conseguiria vê-la limpando o suco gástrico em meio ao meu vômito derramado pelo chão e não conseguiria vê-la varrendo os fios de cabelo que estavam caídos por toda casa. Eu teria que passar por isso sozinho, eu teria que respirar fundo e me dar os próprios banhos, limpar o próprio vômito e varrer os próprios cabelos. Talvez eu mereça isso, talvez o universo ou Deus, se é que Ele existe, estejam me castigando por algo. Mas a única coisa que eu sei é que esse castigo e esse fardo é todo meu e eu não quero dividi-lo com ninguém. Certamente esse fardo ficaria mais leve se eu deixasse Elizabeth me ajudar a carrega-lo, mas não quero faze-la passar por isso. Preciso passar por isso sozinho.

Após a segunda sessão, meus cabelos caíam ainda mais. Ficava pensando em como eu ficaria sem eles, eu amava passar as tardes de domingo assistindo filmes aleatórios enquanto Liz me fazia um cafuné. Acho que já posso dizer adeus a isso. Ficava pensando em como ficaria sem sobrancelhas, barba e cabelo. Será que ainda assim Elizabeth olharia pra mim, abriria um sorriso e falaria:

- Nossa, você é tão lindo!

Acho que nunca mais ouvirei essa frase vindo dela.

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