Capítulo 22

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Ano de 2005

Felipe
Eu não tinha nada pra fazer, estava difícil lidar com o tédio acompanhado de solidão. Estava na cozinha preparando um brigadeiro de panela e quando cheguei ouvi um som que vinha do meu telefone sinalizando uma nova notificação. Após o brilho da tela do telefone deixar minha visão embaçada, eu pude ler: "Você tem um novo recado na sua caixa de mensagem".

- Boa noite, Felipe Augusto D'ávila. O Doutor Elias não poderá estar aqui no hospital daqui a dois dias para a sua quinta sessão de quimioterapia. Então gostaria de avisar para você vir aqui no hospital amanhã para a nova sessão. Desculpe por não avisa-lo com antecedência. E por gentileza, mande uma mensagem de texto confirmando que ouviu esse recado. - alguma recepcionista do hospital disse.

Após eu terminar de ouvir esse recado e mandar a mensagem de texto confirmando que eu ouvi, eu pude notar que havia mais um recado na minha caixa de mensagens.

- Você está louco? - uma voz gritava na mensagem de voz e rapidamente eu pude notar que a voz era de Elizabeth.

- Louco por ti. - a outra voz respondeu, era a voz do Matheus.


De repente, Elizabeth voltou a gritar, mas dessa vez os gritos eram abafados. Suponho que era o momento que estavam se beijando:

- Me solta, Matheus! Me solta, você está me machucando... Matheus, você está obcecado por mim. Eu nunca nem te abracei e você aparece aqui me agarrando a força, seu imbecil!


E depois disso, ficaram uns cinco segundos com um silêncio ensurdecedor, e esse silêncio foi interrompido por uma voz, a minha voz.

- Liz! O que é isso?

Após isso, a mensagem de voz acabou sozinha. Acho que o tempo máximo que pode ter uma mensagem de voz foi esgotado. Fiquei uns 15 segundos paralisado, refletindo tudo que acabei de ouvir. Elizabeth falou a verdade esse tempo todo, ela nunca me traiu, o verdadeiro e único canalha é o Matheus. Nem perdi mais tempo, saí correndo apenas com a minha roupa do corpo atrás da casa de Liz. Como eu fui cruel com ela esses últimos dias!

Eu estava com tanta saudade, será que ela ainda usa aquele shampoo de côco? Parece que faz tanto tempo que não a vejo. Talvez eu não esteja com saudade de vê-la pois faz apenas uma semana que eu a vi no hospital, mas vê-la e não poder tocar e nem sentir é a pior das torturas. Eu queria muito abraçar ela naquele dia, sentir o cheiro dela, poder tê-la novamente, mas ao mesmo tempo eu senti que não podia. Senti que ela não merecia. E agora estou correndo o mais rápido que posso pois não quero perder mais nem um segundo ao lado dela, e acho que já perdi demais. Eu poderia dizer que eu e ela "temos todo o tempo do mundo", mas no fundo eu sei que não temos e acho que ela também sabe disso. Bati na porta tantas vezes que minha mão já doía.

- Calma, eu já estou indo! - ouvi Elizabeth gritando lá de dentro.

- Me desculpa, me desculpa por não ter acreditado em você. Eu confio em você agora. - eu falei no mesmo segundo em que ela abriu a porta.

Ela me encarou por alguns segundos e eu pensei: "É tarde demais, agora ela acha que sou eu quem não mereço isso".

Ela pulou em cima de mim e me beijou. Nossa, como eu estava com saudades! Foi um beijo tão intenso, que o fôlego parecia acabar mais rápido que o normal, como se não nos víssemos a anos, era indescritível saber que eu era dela novamente. Eu a tenho e ela me tem.

Quando nos soltamos, ela abriu um sorriso tão grande que estabilizou todas as minhas estruturas, Elizabeth segurou a minha mão e apontou para o sofá, sinalizando que eu devia sentar lá. Ela sentou no meu colo e perguntou:

- O que te fez mudar de ideia?

- Eu estava olhando a minha caixa de mensagens, quando vi que havia uma mensagem de voz sua de algumas semanas atrás, de início eu não entendi muito bem, mas você começou a gritar com o Matheus naquele dia que... ele te agarrou. - hesitei. - E nessa mensagem de voz, ficou bem claro que você disse a verdade desde o começo.

- Ah, claro! A mensagem de voz! Eu havia ligado pra você quando eu vi que o Matheus estava completamente fora de si, mas quando eu te liguei, ele arrancou o celular da minha mão e o jogou no sofá. Acho que o celular acabou gravando e te enviando tudo que aconteceu a seguir. Nossa, como eu não lembrei disso antes?

- Acho que isso não importa mais, deveríamos recuperar o tempo perdido. - falei e logo em seguida ela sorriu novamente.

Acabei ficando por ali mesmo durante essa noite, e na manhã seguinte fui ao hotel que eu estava hospedado para buscar as minhas coisas e levar de volta pra casa de Liz. Pra nossa casa.

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