Capítulo 49

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Ano de 2006

Elizabeth
Senti o chão desprendendo-se dos meus pés e eu incapaz de fazer algo para impedir.

- Não! O coração dele parou e isso já aconteceu antes. Tudo que precisamos fazer é leva-lo ao hospital mais próximo o mais rápido possível. – falei com a voz trêmula.

Natália assentiu e saiu correndo. Fiquei sem entender o que ela estava fazendo e tentei usar toda a minha força para levanta-lo da cama, mas foi um esforço inútil.

Logo após poucos segundos, Natália apareceu com dois homens que não faço ideia de onde os encontrou e naquele instante nem fiz questão de perguntar.

Na primeira vez que isso aconteceu, eu chorava de medo e dessa vez não foi diferente.

Os homens carregaram Felipe até o carro e o deixaram no banco de trás. Quando olhei para trás, Alicia também estava ali com os olhos cheios de lágrimas que me transmitiam ternura. Me acomodei no banco do motorista preparada para ir ao hospital.

Natália segurou as mãos de Alicia e disse a ela:

- Eu vou com a Beth, tá bom? – Alicia assentiu rapidamente. – Acorde a mãe dele e a outra moça e leve-as para o hospital.

Natália deu um beijo na testa de Alicia, chegou até mim e disse:

- Eu dirijo.

Sequer hesitei e logo pulei para o banco do carona. Coloquei o cinto de segurança e partimos o mais rápido possível.

Em menos de dois minutos chegamos ao hospital e eu saí do carro gritando por socorro. Uma aglomeração de médicos e enfermeiros apareceu e eles carregaram Felipe por meio de uma maca. Fui atrás deles enquanto Natália estacionava o carro.

Uma enfermeira me parou e me disse:

- Você não pode passar, a partir daqui a entrada é restrita.

Só tive tempo de falar:

- Ele tem câncer no coração e precisa sair daqui logo para receber um transplante na nossa cidade!

A enfermeira assentiu e saiu correndo em direção ao local que levaram Felipe.

Me sentei no chão e abracei os meus joelhos e chorei. Chorei até soluçar. Eu tremia, mas não era de frio, era de medo.

Senti uma mão tocando meu ombro e quando ergui o olhar era Natália. Ela estendeu os braços e falou:

- Vem cá.

Levantei-me e a abracei. Ali eu chorei mais ainda e pude ouvir ela chorando também.

Depois de um tempo, sentei-me em uma cadeira da sala de espera e fiquei ali enquanto Natália saiu para buscar café para nós duas. Quando ela voltou com o café e sentou ao meu lado, disse:

- Por que você não liga para a médica do Felipe e diz o que aconteceu? Pode ser que ela consiga trazer o coração novo pra cá.

Assenti rapidamente. Era uma excelente ideia.

Quando atendeu, Janaína logo falou:
- Já estão chegando? Nós estamos todos prontos aqui.

Foi nesse momento que voltei a chorar. Janaína escutou meu choro e voltou a falar:

- Ei, o que aconteceu? Está tudo bem com o Felipe?

Em meios aos soluços eu a respondi:

- O coração dele parou outra vez, estamos no hospital daqui e os médicos estão tentando ajudar, mas não tenho notícias dele faz uns quinze minutos.

- Eu sinto muito, Elizabeth. – Janaína disse.

- Vocês podem trazer o coração novo pra cá? Não sei se vai dar tempo de sairmos daqui e chegarmos aí para o transplante.

- Com certeza não vai dar tempo. Mas infelizmente não posso sair daqui com o coração sem a confirmação de que Felipe está vivo. Não podemos correr o risco de chegarmos aí e... – ela hesitou. – e o pior acontecer, pois iremos acabar perdendo o coração. Afinal, mesmo com todos os recursos disponíveis, um coração não sobrevive fora do corpo humano por mais de quatro horas.

- Então agora o Felipe perdeu as chances de receber o transplante? – perguntei.

- Não. Se os médicos daí conseguirem salvá-lo, então você pode me ligar avisando que Felipe está vivo, assim, iremos sair daqui o mais rápido possível para fazer o transplante aí mesmo.

- Certo. Então vocês não podem vir agora pois se chegarem aqui e o Felipe não estiver vivo, então as horas do coração novo terão se esgotado e ele se tornará inútil. Por isso, quando eu tiver a certeza de que Felipe está vivo, vocês poderão vir aqui para realizar o transplante.

- Exatamente. Mas tem um ‘porém’. – Janaína contou.

- E qual é?

- Se em trinta minutos você não me telefonar dizendo que o Felipe sobreviveu, então terei que fazer o transplante desse coração em outra pessoa que precisa dele. Porque não posso passar horas esperando notícias do Felipe e correr o risco de perder o coração. Me desculpe, mas esse é o máximo que posso fazer por vocês.

- Não, está tudo bem. Vai dar tempo. – falei com otimismo.

- Estou torcendo por vocês. Se cuidem!

Janaína falou e desligou o telefonema.

Os ponteiros do relógio que cinco minutos atrás andavam tão lentamente, agora pareciam voar. E tudo que eu menos preciso é que o tempo passe rápido demais.

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