Ano de 2006
Elizabeth
Após mais quinze dolorosos e melancólicos minutos, a equipe médica finalmente apareceu para nos atualizarmos sobre o caso.Alicia, a mãe de Felipe e a enfermeira já haviam chegado poucos minutos atrás e estavam todos aflitos e nervosos.
Os médicos estavam com o olhar baixo e meu coração acelerava um pouco mais a cada segundo. Eu simplesmente não aguentava mais aquela situação, aquela agonia. Estava a um passo de gritar ao ponto de estourar as minhas cordas vocais. Tudo doía, doía muito e eu só queria chorar. Chorar feito criança. Queria um colo, queria o colo do Felipe.
- Sinto muito. Nós fizemos tudo que podíamos, mas...
Não ouvi mais nada dali em diante. De repente, tudo a minha volta perdeu o som. Sentei-me na cadeira novamente e vi Alicia e Natália se abraçarem chorando, vi a mãe de Felipe se ajoelhando no chão aos prantos, vi os médicos parados em nossa frente nos olhando fixamente.
Senti o meu coração se desprendendo do meu peito, senti tudo soltando-se das minhas mãos, senti tudo desmoronando da forma mais dolorosa possível.
- Parem! – gritei enquanto me levantava. – Vocês tem que tentar de novo, eu sei que ele está vivo.
Um dos médicos respondeu prontamente:
- Lamento pela sua perda, mas quando ele chegou aqui já estava desfalecido por cerca de uma hora. Ficamos trinta minutos tentando ressuscitá-lo mas não obtivemos resposta nenhuma. Mesmo se ele acordar agora, o que é impossível, ele vai ter muitas deficiências pois o cérebro dele ficou quase duas horas sem oxigênio.
Corri em direção ao quarto onde levaram Felipe, os médicos tentaram me conter mas não conseguiram.
Quando cheguei lá, ele estava desacordado, todos os aparelhos ao redor dele estavam desligados. Com passos curtos, cheguei até ele e o toquei. Ele estava gelado. Gelado como nas vezes em que estava tão cansado que acabou dormindo no sofá e quando eu ia tocá-lo, ele estava gelado de frio e eu o cobria. Olhei ao redor do quarto e vi um armário e quando o abri, lá haviam lençóis, travesseiros e cobertores.
Peguei uma coberta e a pus por cima de Felipe. Deitei-me do lado dele na cama e sussurrei:
- Pronto, meu bem. Logo você já vai se esquentar.
Fechei os olhos e comecei a passar a ponta dos dedos pela cabeça de Felipe.
- Hoje faz cinco anos que nos conhecemos, hoje é o dia do nosso casamento. Acorda logo, tá bom? Não podemos demorar a chegar na nossa própria festa. – falei enquanto lágrimas desciam pelos meus olhos.
Peguei a mão de Felipe e a entrelacei na minha.
- A doutora Janaína vai saber o que fazer, os médicos daqui não são tão experientes quanto ela. Assim que eu telefonar para a Janaína, certamente ela terá uma solução. Vai dar tudo certo pra nós dois.
Sentei-me na cama e liguei para a médica.
Os outros médicos estavam nos observando pela porta do quarto.
- Alô? Já tem notícias, Elizabeth? – Janaína perguntou.
- Sim, tenho. Os médicos disseram que não podem reviver o Felipe porque o coração dele já está parado a quase duas horas. Mas você sabe o que fazer, certo? Tenho certeza que vai nos ajudar. – falei inocentemente.
- Sinto muito, Elizabeth. Os médicos daí devem ser muito talentosos e sei que fizeram tudo ao alcance deles, mas infelizmente eu não posso fazer nada pra ajudar. Ele se foi, você precisa deixa-lo ir.
Desliguei o telefonema sem sequer responde-la. Voltei a me deitar na cama e abracei Felipe com a maior força que pude.
- Eu não consigo sem você, Felipe. Eu não consigo. – gritei em meio as lágrimas.
Natália e Alicia chegaram no quarto, me levantaram da cama e me abraçaram.
- Pode chorar, Beth.
- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.
- É o amor da minha vida, eu preciso dele comigo. – falei soluçando.
- Nós sabemos, meu amor. Nós sabemos. – Natália disse enquanto fazia carinho em meu cabelo.
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360 HORAS
RomanceElizabeth e Felipe tinham tudo para dar certo, até que uma doença fatal e minuciosa os ataca quando eles menos esperam. Os dois terão que sobreviver a isso juntos... ou não!