360 HORAS

Capítulo 35

Ano de 2006

Felipe
1° DIA
Amanheceu o dia e logo eu levantei da cama. Não queria dormir mais que o necessário. Tanto eu quanto Elizabeth estamos dispensados da faculdade e trabalho, por isso, seria excelente dormir até mais tarde, sem hora pra acordar mas 8 horas de sono são mais do que suficiente nesse momento.
Enquanto tomávamos o café da manhã, Liz perguntou:

- E a sua mãe? Quando vai contar pra ela?

- Nunca. – respondi.

- Como assim? Ela precisa saber, ela merece isso.

- Eu não quero que ela passe a vida dela se culpando por isso, achando que poderia ter aproveitado meus últimos dias se não estivesse presa em uma clínica para viciados.

- Você acha que vai ser melhor se ela receber a notícia de sua morte de repente? – ela perguntou com ironia no tom de voz.

- Acho. – friamente respondi.

- Tudo bem, então. Não vamos discutir hoje porque hoje é o dia do seu primeiro item da lista. Qual é o item mesmo?

Involuntariamente meu cérebro decorou toda a lista que fiz e eu lembro claramente do primeiro item: “Convencer Elizabeth a escrever (e concluir) um livro”.

Ela já deve ter começado a escrever dezenas de livros, mas sempre desiste deles antes mesmo de chegar na metade. O problema é que ela escreve tão bem que eu poderia facilmente aceitar passar as minhas próximas 360 horas, sem interrupções, lendo os livros que ela escreve. Eu sei que nunca vou poder ler algum livro dela, porque ninguém consegue escrever um livro completo em quinze dias. Mas ficaria satisfeito vendo ela começar a escrevê-lo e com a promessa de que iria termina-lo.

- O meu primeiro item só você pode realizar. – Elizabeth me olhou curiosa – Quero que comece a escrever e conclua um livro. E seria mais excelente ainda se estiver disposta a publica-lo.

Ela soltou uma gargalhada.

- Você poderia desejar tantas coisas e deseja que eu escreva um livro?

- Sim, você ainda vai ser uma escritora famosa e na dedicatória do seu livro vai estar escrito: “Dedico esse livro para Felipe, o eterno amor da minha vida”. Isso não seria incrível?

Ela riu mais ainda quando eu disse isso.

- Isso é insano. Você sabe que eu até tento escrever, mas eu não consigo terminar. É como se eu me convencesse de que é inútil escrever se eu não sou boa o bastante para ser uma escritora.

- Você já é uma escritora. E você não pode se recusar a cumprir meu primeiro item.

Ela fez uma expressão facial de desespero.

- Realmente não posso, mas você sabe que não conseguirei terminar em quinze dias, não é?

- Claro que eu sei. Por isso, sei que vai me prometer que vai terminar de escrever o livro mesmo depois que se passar os quinze dias.

- Ok, eu prometo! – ela se deu por vencida. – Ainda não consigo acreditar que desperdiçou um pedido com isso. Você certamente não sabe fazer uma lista de desejos.

- Esse item é muito importante, sua ‘reclamona’.

Uma das piores coisas em ter poucos dias de vida, é não ter muito dinheiro para usufruir durante esse tempo. Por isso, passamos o resto do dia cozinhando besteira, assistindo filmes e fazendo coisas infantis. Não tínhamos muito como aproveitar.