Capítulo 5

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Pego meu filho pela mão e arrasto a mala pela outra para escapar da tormenta que resolveu cair debochando da minha cara.

Entro numa padaria e peço um salgado e um suco pro Miguel, que come como vontade pois  deve estar com fome apesar de não reclamar. Ele nunca reclama de nada.

Olho meu filho com amor. Suas feições são suaves e seus olhos são verdes iguais aos do pai, mas seu olhar é meigo e doce.

É uma criança muito tranquila e apesar da inocência da sua idade, consegue ser mais maduro que sua faixa etária permite.

Provavelmente reflexo que as dificuldades da vida causam nas crianças que desde cedo são obrigadas a lidar com privações e necessidades.

Na medida do possível, tento suprir tudo o que falta de bens materiais com minha atenção, amor e muita criatividade.

Abro a bolsa para pagar o lanche e constato o que já sabia. Tenho pouquíssimas notas dentro dela, o que não é o suficiente para pagar uma noite em um hotel.

Olho a chuva torrencial lá fora, pensando que não tenho parentes próximos e nenhum amigo a quem possa recorrer.

"O que fazer meu Deus?"

Através de meus olhos embaçados pelas lágrimas, enxergo no fundo da bolsa um chaveiro.

São as chaves do apartamento do Sr. Arthur, onde faço faxina uma vez por semana há mais de um ano.

Consegui esse emprego através de uma agência e o apartamento estava sempre vazio. 

Uma única vez encontrei vestígios de que alguém esteve lá. Sou paga apenas para mantê-lo praticamente para ninguém usufruí-lo.

Meu pensamento é horrível, mas infelizmente no momento é minha única opção. 

Tenho certeza que irei encontrar o apartamento vazio e me dirijo até lá para obter um abrigo temporariamente.

Posso tentar falar com seu dono através da agência e trabalhar de graça pela minha estadia.

O porteiro já me conhece e não encontro dificuldade nenhuma para entrar. Se ele estranhou a mala que eu carregava, não comentou nada.

Como imaginei, o lugar estava na mesma ordem em que o deixei quando estive aqui há alguns dias atrás.

Me instalo no quarto de empregadas e após um banho quente, encontro no armário apenas uns biscoitos e uma caixa de chá que nos serve de refeição por hoje.

Meu filho vai dormir cansado após o dia atípico que tivemos. Sorte que amanhã não tem aula por ser conselho de classe e depois vem o final de semana.

Eu preciso definir alguma coisa na minha vida durante esse tempo, mas não tenho ideia de como ou por onde começar, principalmente porque não tenho dinheiro nenhum.

Passo a noite em claro tentando achar alguma solução, o que me fez acordar um pouco mais tarde no dia seguinte.

Miguel não estava mais na cama e vi que estava na mesa da cozinha fazendo suas lições. Sorri pra ele, dei um beijo de bom dia e me preparei para iniciar a faxina no apartamento.

Mais tarde, falaria com o porteiro pra ver se mais alguém no prédio poderia precisar dos meus serviços.

Vinha com balde e vassoura na mão e dou de encontro com um homem no meio da cozinha.

Estava com as mãos na cintura e dirigia  um olhar furioso ao meu filho que o encarava assustado. Ele urra:

-Que porra é essa??!!


Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora