Me dedicava cada vez mais aos estudos e a cuidar dos meus afazeres, mas aquela indiferença toda, realmente estava me matando.
Cada vez que me aproximava de onde Sr. Arthur estava, o ambiente ficava tenso e imediatamente, ele saía.
Me sentia uma intrusa em sua vida e em sua casa.
Eu era realmente muito masoquista. Porque sempre que estava em casa, dava um jeito de estar por perto para vê-lo ao menos um pouco.
Ele apenas se dirigia a mim para alguma orientação ou tarefa doméstica.
Numa manhã, após as crianças irem pra escola, estava saindo do banho e não tranquei a porta do quartinho. Estava apenas de langerie e a porta se abriu num rompante.
Me virei no susto e não tive reflexo nenhum enquanto meu patrão me encarava parado no lugar, vagarosamente percorrendo meu corpo de cima abaixo.
Seu olhar, era pura paixão e fez meu corpo acender inteiro. Suas veias dos braços saltadas, revelavam a força com que segurava o trinco da porta.
Ele fez menção de entrar no quarto quando direcionou seu corpo pra frente, mas então deteve-se.
Respirou fundo e fechou os olhos. Quando os abriu, lá estava aquele olhar frio novamente.
- Teremos visita para o almoço D. Júlia, esteja apresentável.
Ao sair, bateu a porta com força. Fiquei ali com o corpo ardendo, implorando por seu toque.
Minha intimidade ficou tão úmida, que me obriguei a voltar novamente para o banho.
Assim que entro na cozinha, o encontro mexendo nas gavetas segurando uma garrafa de vinho.
Deduzo que procura o saca-rolhas e o alcanço em suas mãos. Sem me dirigir o olhar, meu chefe solta suas instruções:
- Encomendei comida de fora D. Júlia pois terei um almoço de negócios. Só preciso que arrume a mesa e deixe as crianças fora de alcance. Consegue fazer isso?
Não quero me sentir assim, mas fico realmente magoada com seu desprezo. De cabeça baixa, respondo simplesmente:
- Sim, senhor.
Parado no meio da cozinha, ele parece me analisar. Se pensa em me dizer alguma coisa, desiste.
Após um momento de silêncio, onde apenas escuto sua respiração profunda, ele me vira as costas e volta para seu convidado.
Escuto vozes descontraídas vindo da sala e, pela primeira vez, ouço Sr. Arthur soltar uma gargalhada espontânea e relaxada. Por que não consegue ser assim sempre?
Ele parece tão jovial e agradável, que me pego imaginando momentos assim a seu lado.
Preciso voltar à realidade e parar de fantasiar uma pessoa que não existe. Sinto meu orgulho abalado pela maneira com que ele me trata.
Talvez já esteja na hora de começar a procurar um outro lugar para morar e um outro emprego.
"Pelo tempo que estou aqui, já foi possível juntar algumas economias." Ao pensar nisso, sinto meu coração se encolher. Ignoro e volto ao trabalho.
Com a pilha de louça nos braços, me dirijo à sala de jantar para arrumar a mesa. Ao me aproximar, escuto uma voz que há anos não ouço mas que durante muito tempo me assombrou.
Tenho a sensação de levar um soco no estômago e o ar me falta. " Não...não pode ser..."
Meus olhos embaçam das lágrimas querendo saltar, minhas mãos tremem e deixo escapar os pratos que se espatifam no chão, saltando em cacos...assim como eu.
O barulho chama a atenção dos homens na sala que vêm até mim. Estou de joelhos juntando os pedaços de porcelana partida e mantenho a cabeça baixa ao sentir a presença dos homens curiosos ao meu lado.
Aquela voz há muito tempo guardada em meu subconsciente, ressoa:
- Está tudo bem aí moça?
Com a respiração acelerada e sentindo de perto o que seria um ataque de pânico, tento me controlar mas sei que não tenho forças para fingir um bem-estar que não sinto.
Com o rosto queimando que, com certeza demonstra todo o meu desequilíbrio, levanto a cabeça e cruzo com aquele olhos verdes tão familiares pra mim.
Olhos que convivo diariamente reproduzidos em meu filho. Ele se surpreende ao me reconhecer, enquanto levanto do chão com os pedaços de louça nas mãos.
- Júlia??!!
Ele diz admirado, como se não estivesse acreditando que me via. Sr. Arthur um pouco atrás, observava a cena já com seu característico semblante irritado. Aquele que dirigia somente a mim.
Tenho certeza que tremi a voz ao falar:
- Oi Flávio.
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Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)
RomansaJúlia teve todos os seus sonhos interrompidos por conta de uma gravidez na adolescência.Sem ter onde morar com seu filho, ela vai trabalhar na casa de Arthur. Um homem pedante que deixa claro que despreza a sua origem humilde e não suporta crianças...