Capítulo 23

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As crianças estão entretidas com os jogos de fliperama e a tarde está sendo muito divertida ao lado deles. Fico observando de longe enquanto se divertem, até que Sr. Arthur se aproxima puxando assunto:

-Ele realmente é um excelente garoto Júlia.

Adoro quando ele me chama apenas pelo nome. Ainda olhando para as crianças fazendo estrepolias, respondo orgulhosa:

- Ele é...os dois são crianças maravilhosas.

Ele vira de lado e olhando profundamente dentro dos meus olhos, declara:

- Graças a você.

Minhas bochechas esquentam na hora e fico em silêncio, meu corpo todo já se agita com sua proximidade e eu me perco no verde daqueles olhos. " Ai meu Deus, eu devia era ter ficado em casa. O que estou fazendo aqui?"

Baixando o olhar envergonhada, apenas respondo:

- Elas só precisam de carinho, atenção e um pouco de limites. Na verdade, não é nada difícil e nenhum sacrifício.

Arthur parece lembrar de alguma coisa desagradável porque aperta os lábios com força e uma nuvem passa pelos seus olhos, os deixando mais escuros. Fala já no seu costumeiro tom mais irritado:

- Se fosse tão fácil assim, não existiriam tantas mães relapsas e crianças negligenciadas e abandonadas. Se todas as mães tivessem sua postura, não teríamos tantos adultos com reflexos de uma má educação ou falta de afeto. Não se desmereça Júlia. A sua dedicação como mãe sem dúvida, está em primeiro lugar das muitas coisas que admiro em você.

Arregalo os olhos com essa revelação. "Como assim, ele me admira? O que eu faço com isso? E agora?"

Ele dá uma risada daquela espontânea, que tanto apreciei noutro dia. Pega uma mecha solta do meu cabelo, prende atrás da minha orelha e ainda completa:

- Ver você ficar vermelha assim, mesmo depois da intimidade que já tivemos, definitivamente é minha segunda coisa favorita em você.

Estou sem palavras e fico aliviada, quando somos interrompidos pela chegada das crianças. Vamos para a praça de alimentação e, depois de todos satisfeitos, mesmo com o lamento dos birrentos, voltamos para casa num clima de harmonia.

As crianças vão direto para o banho e Arthur entra com o urso enorme e um pacote grande que eu não tinha visto, mas não dou atenção e também vou me refrescar para renovar as energias. O passeio apesar de prazeroso, foi muito cansativo.

Saindo do banheiro, encontro Miguel apreensivo me aguardando. Na hora me preocupo:

- O que aconteceu meu filho?

Mexendo nervosamente as mãos, ele responde:

-  O Sr. Arthur quer falar com a senhora na sala.

Fico pensando o que pode ter acontecido de ruim, após um dia tão agradável como o de hoje. Mas partindo do meu patrão, eu espero de tudo. 

Ao chegar na sala, o encontro sentado na frente da TV com um controle de vídeo game na mão, jogando alguma coisa com Lisa e os dois dando gargalhadas, enquanto ele errava os comandos e seu personagem no jogo perdia a vida.

Ao me ver, Lisa fala exclama maravilhada:

- Olha Júlia, que lindo o presente do Miguel!

Entendo o nervosismo de Miguel, quando compreendo que o Sr. Arthur comprou um aparelho de última geração, que deve ter custado uma fortuna, para presentear meu filho. Ele sabia que eu nunca permitiria isso.

- Não podemos aceitar.

O olhar de tristeza de Miguel e decepção de Arthur são tão nítidos, que fazem com que eu me sinta uma tirana e estraga prazeres, mesmo sabendo que estou certa em minhas convicções.

Meu chefe pergunta:

- Por que não Júlia?

Peço licença para as crianças pois não terei essa conversa na frente delas.

 Aliás, nem sei porque tenho que lhe dar alguma justificativa, se é eu quem decide que tipo de valores quero passar para meu filho. Mesmo assim respondo:

-É um presente muito caro. Eu agradeço porque sei que deve ter tido uma boa intenção, mas Miguel não deve se acostumar com coisas, as quais não temos condições de comprar.

Arthur me escuta e fica pensativo por uns instantes, e então fala:

- Isso não é nada pra mim Júlia. Deixa eu fazer esse agrado para o garoto. Todo menino na idade dele sonha em ter um desses.

Suspiro já sem paciência.

- Sinto muito, não quero que ele pense que pode conseguir essas coisas tão facilmente.

Arthur toca de leve meus braços e argumenta:

- Isso não vai acontecer, você o orienta muito bem. Permita que ele receba um presente uma vez na vida. Isso não vai estragar todos os princípios que você já ensinou a ele. Miguel é um garoto de ouro, esforçado, educado...merece ter essa alegria. Deixa vai...

E ainda pra completar, me olha com os olhos do gato de botas, personagem do desenho das crianças. Fecho os olhos e suspiro resignada:

- Tá...tá certo então.

Escuto os gritos de Miguel e Lisa que vêm correndo e me abraçar. Não acredito que estavam escutando a conversa os danadinhos e recebo um sorriso satisfeito do meu chefe.

Assim que se desvencilham de mim, vão os três jogar no brinquedo novo.






Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora