Capítulo 27

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Aquela mulher tão ardente que tive em meus braços, que virava uma leoa para defender o filho, batalhadora e determinada, não se assemelhava a essa, tão assustada. 

O que ela estava escondendo?

Meu sangue ferve ao imaginar o que poderia ter acontecido entre os dois. Conhecendo a índole do Flávio e pela reação de Júlia, tinha certeza que não era boa coisa.

Meu instinto protetor aflorou. Ela não merecia ser tratada daquela forma.

Assim que ela tomou a direção da cozinha, Flávio escaneou seu corpo de cima a baixo de uma forma nauseante. Me dirigiu um sorriso sínico e disse:

- Continua gostosa pra cacete.

Apertei seu ombro e disse num tom rude:

- Fica longe dela.

Ele ergueu as sobrancelhas e eu me afastei, indo atrás dela para tentar descobrir o que estava se passando. A encontrei desolada andando de um lado para outro na cozinha. Me pediu para sair com as crianças. 

Sabia que ela só queria sair da presença da minha visita e que também não iria arrancar nada dela naquele momento.

Ao voltar pra sala, encontrei meu parceiro de negócios me olhando debochado. Ele me pergunta:

- Qual a sua com a empregadinha?

Cerro os punhos e tento me segurar para não socá-lo. Esbravejo:

- Cala a boca Flávio, você não sabe nada sobre ela!

Ele dá uma risada alta e fala com escárnio:

- Vamos lá Arthur, você não é tão burro assim. Quem não sabe nada sobre ela é você. A garota é maluca. Dei uma comida nela numa festa e depois veio querer me dar o golpe da barriga. Se liga cara, não vai cair nessa armadilha por causa de um rabo gostosinho.

Sinto um baque no peito. Golpe da barriga?  Ele estava falando de Miguel? A semelhança era inconfundível.

Não pode ser, preciso saber mais.

- Espera aí, você tem um filho com ela?

Flávio solta uma gargalhada.

- Claro que não. Acha que eu sou maluco? Ela só queria dar o golpe do baú. Botei ela pra correr assim que veio com esse papo. Esse tipinho, só existe pra te satisfazer e depois a gente dispensa. Acho que você entende do que estou falando né? Já que ficou bem claro que você já traçou a Júlia. Caras como nós, não deixam passar uma delícia dessas.

Ouvir tudo o que esse cretino está dizendo me dá vontade de vomitar.

Espera aí...

Caras como nós?

Sim...eu também era um cretino.

Pensava da mesma maneira que ele?

Sim...eu pensava.

Mas não mais.

Não depois de conviver com a Júlia e seu filho. 

Seguro meu ex-amigo pela gola da camisa, deixando fluir toda raiva que estou sentindo.

- Cai fora da minha casa Flávio. Não ouse voltar aqui ou chegar perto dela entendeu? Provavelmente vamos rever nosso contrato. Mas se não for possível, a partir de hoje conversaremos só na empresa.

Com os olhos arregalados e incrédulos, ele desdenha:

- Não acredito que vai jogar nossa amizade fora, por causa da empregadinha.

Jogo ele contra a parede.

- Cala a boca já disse e vai embora!

Ficando sozinho, acabo abrindo mais um vinho e depois mais outro.

É impossível não ficar fervilhando, analisando tudo o que aconteceu. Um ódio mortal toma conta de mim ao imaginar Júlia nos braços  dele ou de qualquer outro homem. 

Se ele for o pai do menino, parece não saber ou é tão esdrúxulo que o ignora de propósito.

Não.

Ele não podia ser o pai.

Miguel não conhecia o pai.

Era a mim que ele procurava quando queria ajuda na lição.

Pra mim que pedia conselhos e dicas sobre os esportes que praticava.

A mim que contava as novidades do seu dia-a-dia e planos pro futuro.

Confirmei com Júlia o que no fundo eu já sabia e fiquei desatinado. 

Ao ouvi-la contar que ficou com Flávio uma única vez e mais nenhum outro homem a havia tocado, meu sentido Alfa despertou pra ficar.

Minha. 

Ela seria só minha.

Já era tarde pra mim.

Sabia que depois dela não haveria mais ninguém.

Precisava me afastar um pouco pra pensar com clareza e me atirei no primeiro bar que encontrei aberto.

Quando ela ameaçou ir embora, meu chão se abriu. Não podia ficar sem ela e sem as crianças nessa casa. Isso não era uma hipótese. Mas o que iria fazer?

O que eu tinha para oferecer à eles?

Eu era um cara todo quebrado e fodido. 

Eles não mereciam ninguém pela metade, eu tinha que estar inteiro pra eles. Será que eu seria capaz disso?

Era possível eu superar e separar o passado do presente?

O dia que passei a seu lado com as crianças como uma família e a felicidade que senti, foi o suficiente para entender que aquilo era perfeito e era exatamente o que eu queria pra minha vida. 

Então sim... valeria a pena lutar por ela e era o que eu faria.

Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora