Capítulo 34

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Não sei há quanto tempo estou sentada na cozinha analisando tudo o que ocorreu. As horas foram passando sem que eu as sentisse.

Arthur parecia honesto e bem intencionado. Mas esse relacionamento, ou seja lá qual for a denominação do que temos, era muito recente.

Como permitir que ele se posicionasse dessa maneira em minha vida?

Sempre fui sozinha e tive autoridade e autonomia em todas as questões da minha vida e principalmente sobre Miguel. Mesmo que em algumas vezes, me sentisse sobrecarregada com isso.

Arthur me acusou de estar com ciúmes do meu filho. Seria isso um grande absurdo ou realmente estava abalada por não ser mais a única pessoa a quem Miguel recorria quando precisava de alguma coisa?

E isso era uma coisa ruim?

Ter que dividir com alguém algumas responsabilidades da maternidade era realmente algo tão detestável?

Isso era o que mais me abalava.

 Não sei se seria capaz de abrir esse espaço que Arthur está exigindo em nossas vidas.

Recordo dos momentos que passei em seus braços e tento pesar o que realmente estou sentindo.

Estou apaixonada?

É apenas atração física?

É possível viver um romance com meu patrão?

A verdade é que não tenho a capacidade de definir o que estou sentindo em relação a Arthur e não me é possível imaginar uma vida em comum com ele.

 Durante todo esse tempo, enxerguei Arthur apenas como meu chefe.

 O desejando sim.

 Mas algo meio fictício, como um livro de romance clichê e não como uma verdade em minha vida.

Arthur vem de uma realidade muito diferente da minha e já tive provas o suficiente para acreditar que isso sim faz diferença perante as pessoas.

 O preconceito entre as classe sociais é tão latente e pouco enrustido como o racismo, a homofobia, a xenofobia...

Uma frustração enorme toma conta de mim e me sinto sufocada e pressionada.

Arthur não pode exigir de mim uma posição minha tão imediata.

 Preciso de tempo para pensar.

É muita mudança em minha vida e não sou sozinha. 

Minha cabeça fervilha em pensamentos e uma enxaqueca enorme me domina. Tomo um analgésico e vou tratar dos meus afazeres para me desviar um pouco de todo esse contexto.

O dia passa se arrastando e meu estado de espírito não melhora em nada. As crianças percebem isso e acabam entretendo-se entre si.

Já era tarde e estávamos todos recolhidos. Arthur não veio pra casa em seu horário habitual. 

Estava apreensiva e ao mesmo tempo aliviada por não ter que voltar ao assunto da discussão.

Estudava em meu quarto usando os fones de ouvido, quando ouvi leves batidas na porta. Não quero abrir por receio de um novo confronto.

 Ele força a maçaneta e chama meu nome, fico olhando pra porta e não me movo. Após um instante de silêncio, vai embora.

Lágrimas teimosas escorrem pelo meu rosto.

Em menos de vinte e quatro horas, fui da mulher mais feliz do mundo para outra, afundada na incerteza total.

" Me chame para uma conversa de adultos." Ele disse.

Eu estava sendo infantil?

Apesar da razão dizer que sim, meu coração insistia em dizer que era impossível alguém invadir um mundo onde existia apenas Miguel e eu.

Esse pensamento era realmente errado?

Estava sendo egoísta?

Corria o risco de meu filho me cobrar algum dia, essa ausência de uma figura masculina em sua vida?

E se ele descobrisse que me envolvi com meu chefe, como reagiria?

Isso faria com que perdesse o respeito por mim?

Nessa sociedade machista em que vivemos, a mulher sempre é julgada por qualquer passo em falso, nunca é o homem.

Vivo isso minha vida inteira, principalmente por ser mãe solteira. O próprio Arthur me julgou muito antes de eu ter a chance de contar meu lado da história.

Essa é a realidade.

Como seria para Arthur me apresentar a seus amigos ou parceiros da empresa?

Como seria comparecer a seus eventos de negócios com a empregada?

Se ele realmente quer assumir o papel de pai de Miguel, o que exatamente isso significaria?

Meu filho recebendo benefícios de um poder aquisitivo que não faz parte da nossa vida, iria se deslumbrar e perder valores que verdadeiramente importam?

Não é uma resolução que posso definir levianamente.

São muitas coisas pra pesar e não é só minha vida que importa, ou a de Miguel. Tenho que pensar em Lisa  e em Arthur também claro.

E se ele não me esperar?

"Nunca corri atrás de nenhuma mulher, não vou começar por você."

Por mais que não queira admitir, isso me afetou de uma forma extremamente dolorosa...

Nunca senti tanto medo de tomar uma decisão em minha vida.

Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora