Levou ainda mais de um mês até eu encontrar com Flávio novamente e foi por acaso.
Ele estava em um parque da cidade com sua turma de amigos e tinha o braço por cima dos ombros de uma menina.
Aquilo me doeu e mesmo com os olhos marejados, respirei fundo acariciando minha barriga e fui em sua direção.
Assim que ele soubesse que teríamos um filho, ia ficar muito feliz não é?
Não...não é.
Assim que me aproximei, todos pararam para me olhar e o sorriso de Flávio morreu na hora. Timidamente perguntei:
-Podemos conversar?
Seu olhar era de puro desdém quando disse na frente de todos que não tinha nada para falar comigo e mesmo assim insiti:
-Estou grávida.
Ele arqueou as sobrancelhas, me agarrou com força pelo braço me afastando do grupo e falou furioso:
-Escuta aqui garota, não pensa que vou cair nesse golpe da barriga só porque te comi uma vez. Sei lá com quem tua anda. Acho bom baixar a bola e não sair por aí espalhando que esse filho é meu.
Eu já estava aos prantos, tremendo dos pés a cabeça e chocada com sua reação. Argumentei tentando me defender de suas acusações:
-Eu nunca estive com ninguém além de você.
Apontado o dedo em riste na minha cara ele brada:
-Isso é o que você diz!!!! É a minha palavra contra a de uma empregadinha, então não me testa garota. Se insistir nessa merda, nem você e nem sua mãe terão lugar pra trabalhar nessa cidade. Você sabe o quanto minha família é influente, não sabe? Agora some da minha frente! E se eu fosse você, dava um jeito de se livrar dessa criança enquanto ainda dá tempo.
Pois é, assim meus sonhos foram interrompidos.
Não "me livrei da criança", não fiz faculdade, não tenho carro, apartamento, não tenho mais minha mãe que faleceu há dois anos atrás e as poucas economias que eu tinha, usei com as despesas de remédios e funeral.
Morava na casa onde eu trabalhava como doméstica e Miguel ficava comigo.
D. Eulália era uma senhora doce e encantadora que adorava meu filho.
Mas também era idosa e doente e acabou falecendo há uns dias atrás. Sinto muito sua perda, ela era realmente uma grande amiga, além de uma segunda avó para Miguel.
Hoje pela manhã, sua filha apareceu. Disse que não precisava mais dos meus serviços e exigiu que eu desocupasse a casa até o final da tarde.
Mesmo eu falando que não tinha para onde ir com meu filho, ela não se abalou.
-Você não vai usar a criança pra me comover como fazia com minha mãe.
Questionei pelos meus direitos por ter trabalhado lá nos últimos seis anos, mas ela foi taxativa:
-Se acha que tem algum direito, procure um advogado. Pra mim você já usufruiu tudo o que tinha e o que não tinha direito aqui, morando e comendo de graça com seu filho.
Acordo dos meus devaneios quando sinto um pingo caindo com força no meu rosto, e depois outro e mais outro. Miguel me chama a atenção, tocando em meu braço:
-Mãe, está chovendo.
Reviro os olhos enquanto penso:
"Ótimo, nada está tão ruim que não possa piorar."
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Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)
RomansJúlia teve todos os seus sonhos interrompidos por conta de uma gravidez na adolescência.Sem ter onde morar com seu filho, ela vai trabalhar na casa de Arthur. Um homem pedante que deixa claro que despreza a sua origem humilde e não suporta crianças...