Capítulo 6

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Me aproximo e largo o balde e a vassoura. Fecho o caderno de Miguel e tento passar tranquilidade pra ele.

- Filho, vai lá pro quartinho que a mãe resolve aqui tá?

Olhando pra mim e para o homem indignado, ele sai obediente mas meio receoso. O homem reclama irritado:

- Vamos lá, estou esperando uma explicação. O que está acontecendo aqui?!

Me adianto enquanto observo Miguel indo preocupado em direção ao quartinho.

Não quero que ele presencie a conversa, principalmente pelo tom hostil do meu interlocutor. Digo educada e pausadamente:

- Bom dia, eu me chamo Júlia e sou responsável pela limpeza do apartamento, fui designada pela agência há mais de um ano. O senhor é o proprietário, o Sr. Arthur?

Ele responde debochado e de má vontade:

- É o que parece, não é?

Ele bufa e continua:

- Chego em casa cansado e descubro que meu apartamento foi invadido. Desde quando está instalada aqui D. Júlia?

Respiro fundo tentando controlar meu nervosismo e respondo com a voz trêmula:

- Bem, eu cheguei ontem a noite e já ia falar com a agência para tentar encontrá-lo, já que estou em uma situação delicada...

Ele me corta ríspido e se sobrepõe aos berros:

- Situação delicada??!! O que é, decidiu querer brincar de rica, é isso? Por acaso suas roupas estão no meu closet e a senhora está dormindo na minha cama? Pois ouça com atenção, eu não admito esse tipo de atrevimento. Eu quero você na rua agora mesmo ou vou chamar a polícia. Tenho certeza de que tem a consciência de ter praticado crime de invasão.

Eu me desespero com suas palavras e toda minha frustração dos últimos dias vêm à tona. Já não consigo segurar as lágrimas que caem abundantes em meu rosto devido ao meu desequilíbrio e acabo extrapolando:

- Escuta aqui seu infeliz, eu sei que agi errado vindo pra cá sem pedir, mas em nenhum momento foi por atrevimento ou desejo de invadir. Eu ia tentar falar com o senhor para trabalhar de graça e pagar minha estadia porque eu literalmente, não tenho para onde ir e não podia deixar meu filho jogado na rua e na chuva.

O soluços escapavam descontrolados, sentidos do meu peito e eu quase não conseguia respirar.

Minhas pernas fraquejaram e tive que sentar na mesma cadeira que Miguel estava antes. Segurei minha cabeça que pesava em uma das mãos e a outra comprimia meu peito que doía de angústia e desespero por não saber o que fazer com meu filho.

Se ele chamasse a polícia, na certa eu seria presa e envolveriam o conselho tutelar para tirar Miguel dos meus braços. Afinal eu não tinha nada para oferecer a ele, nem mesmo um teto para abrigá-lo ou dinheiro para alimentá-lo.

E se eu vivesse na rua com ele, a que tipo de perigo estaríamos expostos?

Sinto duas mãozinhas acariciando meus braços me pedindo calma e ver meu filho chorando, me quebrou mais ainda. 

Sr. Arthur que até então observava a cena em silêncio, passou a mão pelos cabelos e suspirou impaciente. De repente, encheu um copo com água e colocou na minha frente.

Eu estava muito envergonha pela cena que apresentei, principalmente por não ter conseguido me segurar na frente de Miguel. Tomo toda água num só gole e volto a falar:

- Me perdoe Sr. Arthur, já estamos de saída. Me desculpe por esta cena e por ter dormindo em sua casa.

Assim que levanto de cabeça baixa, ele quebra o silêncio e me surpreende com o que diz.

- Não, espere! Eu realmente vou precisar de alguém porque estou me mudando definitivamente pra cá. Já que está familiarizada com o ambiente, você serve. Pode começar desfazendo minhas malas. Depois que eu descansar, vou precisar de uma lista de suprimentos para abastecer a casa toda. Agora preciso de um banho e dormir. Depois cuidamos dos detalhes.

Dito isso, virou as costas e carregou suas malas até o quarto. Respiro fundo e nem tenho tempo de assimilar o que aconteceu, quando ele grita no corredor:

- D. Júlia quando eu sair do banho, vou precisar de roupas para vestir.

Miguel me olha encolhido e pergunta:

- Mãe, nós vamos ficar aqui?

Acaricio seu cabelo e seco as lágrimas que escorreram em seu rostinho, sentindo uma pontada no coração e respondo:

-Por enquanto, vamos sim.



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Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora