Me aproximo e largo o balde e a vassoura. Fecho o caderno de Miguel e tento passar tranquilidade pra ele.
- Filho, vai lá pro quartinho que a mãe resolve aqui tá?
Olhando pra mim e para o homem indignado, ele sai obediente mas meio receoso. O homem reclama irritado:
- Vamos lá, estou esperando uma explicação. O que está acontecendo aqui?!
Me adianto enquanto observo Miguel indo preocupado em direção ao quartinho.
Não quero que ele presencie a conversa, principalmente pelo tom hostil do meu interlocutor. Digo educada e pausadamente:
- Bom dia, eu me chamo Júlia e sou responsável pela limpeza do apartamento, fui designada pela agência há mais de um ano. O senhor é o proprietário, o Sr. Arthur?
Ele responde debochado e de má vontade:
- É o que parece, não é?
Ele bufa e continua:
- Chego em casa cansado e descubro que meu apartamento foi invadido. Desde quando está instalada aqui D. Júlia?
Respiro fundo tentando controlar meu nervosismo e respondo com a voz trêmula:
- Bem, eu cheguei ontem a noite e já ia falar com a agência para tentar encontrá-lo, já que estou em uma situação delicada...
Ele me corta ríspido e se sobrepõe aos berros:
- Situação delicada??!! O que é, decidiu querer brincar de rica, é isso? Por acaso suas roupas estão no meu closet e a senhora está dormindo na minha cama? Pois ouça com atenção, eu não admito esse tipo de atrevimento. Eu quero você na rua agora mesmo ou vou chamar a polícia. Tenho certeza de que tem a consciência de ter praticado crime de invasão.
Eu me desespero com suas palavras e toda minha frustração dos últimos dias vêm à tona. Já não consigo segurar as lágrimas que caem abundantes em meu rosto devido ao meu desequilíbrio e acabo extrapolando:
- Escuta aqui seu infeliz, eu sei que agi errado vindo pra cá sem pedir, mas em nenhum momento foi por atrevimento ou desejo de invadir. Eu ia tentar falar com o senhor para trabalhar de graça e pagar minha estadia porque eu literalmente, não tenho para onde ir e não podia deixar meu filho jogado na rua e na chuva.
O soluços escapavam descontrolados, sentidos do meu peito e eu quase não conseguia respirar.
Minhas pernas fraquejaram e tive que sentar na mesma cadeira que Miguel estava antes. Segurei minha cabeça que pesava em uma das mãos e a outra comprimia meu peito que doía de angústia e desespero por não saber o que fazer com meu filho.
Se ele chamasse a polícia, na certa eu seria presa e envolveriam o conselho tutelar para tirar Miguel dos meus braços. Afinal eu não tinha nada para oferecer a ele, nem mesmo um teto para abrigá-lo ou dinheiro para alimentá-lo.
E se eu vivesse na rua com ele, a que tipo de perigo estaríamos expostos?
Sinto duas mãozinhas acariciando meus braços me pedindo calma e ver meu filho chorando, me quebrou mais ainda.
Sr. Arthur que até então observava a cena em silêncio, passou a mão pelos cabelos e suspirou impaciente. De repente, encheu um copo com água e colocou na minha frente.
Eu estava muito envergonha pela cena que apresentei, principalmente por não ter conseguido me segurar na frente de Miguel. Tomo toda água num só gole e volto a falar:
- Me perdoe Sr. Arthur, já estamos de saída. Me desculpe por esta cena e por ter dormindo em sua casa.
Assim que levanto de cabeça baixa, ele quebra o silêncio e me surpreende com o que diz.
- Não, espere! Eu realmente vou precisar de alguém porque estou me mudando definitivamente pra cá. Já que está familiarizada com o ambiente, você serve. Pode começar desfazendo minhas malas. Depois que eu descansar, vou precisar de uma lista de suprimentos para abastecer a casa toda. Agora preciso de um banho e dormir. Depois cuidamos dos detalhes.
Dito isso, virou as costas e carregou suas malas até o quarto. Respiro fundo e nem tenho tempo de assimilar o que aconteceu, quando ele grita no corredor:
- D. Júlia quando eu sair do banho, vou precisar de roupas para vestir.
Miguel me olha encolhido e pergunta:
- Mãe, nós vamos ficar aqui?
Acaricio seu cabelo e seco as lágrimas que escorreram em seu rostinho, sentindo uma pontada no coração e respondo:
-Por enquanto, vamos sim.
Gostaria de pedir que quem está acompanhando a história comente o que está achando pois é muito importante a opinião de vocês.
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Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)
Roman d'amourJúlia teve todos os seus sonhos interrompidos por conta de uma gravidez na adolescência.Sem ter onde morar com seu filho, ela vai trabalhar na casa de Arthur. Um homem pedante que deixa claro que despreza a sua origem humilde e não suporta crianças...