Capítulo 11

25.5K 2K 183
                                    

Certo dia, tive que comparecer a uma reunião na escola de Miguel. Retorno de mãos dadas com meu filho conversando.

Estou muito feliz e orgulhosa com seu desempenho, pois só recebi elogios de seus professores. Meu coração de mãe está transbordando.

Assim que abro a porta, percebo que está acontecendo alguma coisa muito séria. No sofá da sala tem uma menininha linda, que aparenta não ter mais que oito anos, com o olhar assustado direcionado à enorme TV ligada. 

Percebe-se que ela está alheia ao que se passa no aparelho colorido e muito atenta a uma gritaria que vem de dentro do escritório.

Mesmo com as portas fechadas, é possível perceber que a situação está muito tensa e desagradável para meu chefe que parece quase histérico quando grita:

- Não se atreva a deixar essa criança aqui!!!

Ouve-se o barulho de algo tombando ou quebrando, a menina dá um salto no sofá com os olhos marejados e Miguel que a essas alturas, também já está apreensivo pergunta:

- O que está acontecendo Mãe?

Eu dou um beijo no topo de sua cabeça e tento acalmá-lo:

- Sei tanto quanto você meu amor.

Me aproximo da garotinha e passo a mão em seus cabelos sedosos e compridos para passar-lhe conforto e puxo assunto:

- Oi. Qual é o seu nome?

Ela está trêmula e não sustenta meu olhar, mas responde:

- Me chamo Lisa.

Percebo que seus olhos são do mesmo tom de verde do meu patrão. "Será que é sua filha? "

Impossível não me questionar isso, pois apesar de já estar trabalhando e convivendo com ele há quase dez meses, não sei nada a respeito de sua vida pessoal. 

Pergunto se já foi casado ou se é pai solteiro. Quem será a mãe dessa menina? Decido atender a garota e não pensar no que não é da minha conta.

- Lisa, você está com fome?

Ela concorda com a cabeça e segura a mão que estendi pra  me seguir até a cozinha. Preparo um lanche pras crianças e em pouco tempo Lisa e Miguel já estão entrosados e conversando seus assuntos infantis. 

Depois de um tempo, vejo a sombra de um homem passar apressado e bater a porta com força.

Lisa se abala ao ver que foi deixada pra trás e  Miguel segura sua mão a convidando para conhecer seus brinquedos e joguinhos.

Após um curto silêncio, ouço um brado vindo do corredor:

- D. Júlia se dirija ao meu escritório, imediatamente!!

Bato na porta e aguardo permissão para entrar. Com a demora na resposta, vou abrindo a porta devagar. Sr. Arthur está de pé em frente a janela, olhando fixo para alguma coisa na rua com a testa encostada no vidro.

 Seus ombros estão caídos, suas costas contraídas demonstrando toda sua tensão. As mangas da camisa estão dobradas até os cotovelos, as mãos fechadas em punho ao lado do corpo, revelando veias grossas nos ante-braços expostos. 

Sua  respiração é pesada e lenta, como se estivesse tentando controlar suas emoções.

Reparo que tem uma cadeira jogada no chão ao lado de muitos papéis espalhados.

Peço licença para chamar sua atenção, que na mesma hora se recompõe em sua costumeira postura rígida e autoritária. 

Enquanto aguardo ele falar, o observo se dirigir na mesa de bebidas no canto da sala e se servir de uma dose de whisky, ao qual toma tudo em um só gole. Então respira fundo e finalmente se dirige a mim:

- D. Júlia, aconteceu uma situação meio... inusitada. Acredito que já deve ter se dado conta que tem mais uma criança no apartamento.

Eu concordo com um sorriso no rosto ao pensar na doce garotinha.

- Sim, já tive o prazer de conhecer a Lisa.

Ele franze a testa, parece surpreendido pela minha reação e me interrompe:

- Bom, ela vai ficar por aqui um tempo. Pelo menos até que eu consiga resolver este...problema. Eu só peço que ajeite o quarto de hóspedes e que a atenda no que precisar. Claro que vai receber a mais por isso, afinal ser babá não estava no seu contrato. Pode ser?

Balanço a cabeça concordando em silêncio, chocada com os termos aos quais ele se refere à pobre criança. "Situação inusitada", "problema"? Era assim que considerava sua filha? Que cretino!

Sem explicação nenhuma ele largava a menina em minhas mãos, que era uma completa estranha, não demonstrava nenhuma afeição por ela.

Fico muito triste e decido que vou fazer o possível para que ela tenha os melhores dias enquanto estiver aqui.

Aguardo mais algumas instruções e quando estou saindo pela porta, como se já não bastasse ter me deixado perplexa com todo esse absurdo, ainda acrescenta:

- D. Júlia por favor, faça o possível para que eu não seja incomodado pela...criança.

Arregalo os olhos, sem conseguir disfarçar minha indignação. Esse homem é muito pior do que eu pensava...

Meu Chefe Indomável (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora